terça-feira, 28 de abril de 2015

52


JANTO COM MINHA MÃE e com os pequenos na nova Clairmont, mas naquela noite tenho
enxaqueca de novo. É pior do que a anterior. Deito em meu quarto escuro. Abutres bicam a
massa que vaza do meu crânio esmagado.
Abro os olhos e Gat está parado diante de mim. Eu o vejo em meio a um nevoeiro. A luz
brilha através das cortinas, então deve ser dia.
Gat nunca vem a Windemere. Mas lá está ele. Olhando para o papel quadriculado na minha
parede. Para os post-its. Para as novas lembranças e informações que acrescentei desde que
cheguei aqui, anotações sobre a morte dos cães dos meus avós, meu avô e o ganso de marfim,
Gat me dando o livro da Moriarty, as tias brigando pela casa de Boston.
— Não leia meus papéis — resmungo.
Ele se afasta.
— Não sabia que não podia. Desculpe.
Eu me viro de lado e pressiono o rosto junto ao travesseiro quente.
— E não sabia que você estava colecionando histórias. — Gat senta na cama. Estende o
braço e pega minha mão.
— Estou tentando me lembrar dos acontecimentos sobre os quais ninguém quer falar —
digo. — Inclusive você.
— Quero falar sobre isso.
— Quer?
Ele está olhando para o chão.
— Tive uma namorada, dois verões atrás.
— Eu sei. Sempre soube.
— Mas nunca te contei.
— Não, não contou.
— Eu me apaixonei por você de tal forma, Cady… Não tinha como parar. Sei que devia ter
te contado tudo e terminado com Raquel na mesma hora. Mas é que… ela estava lá em Nova
York, e eu nunca te vejo no resto do ano, e meu telefone não funcionava direito aqui, e eu
continuei recebendo pacotes dela. E cartas. O verão todo.
Olho para ele.
— Fui um covarde — Gat diz.
— É.
— Fui cruel. Com você e com ela também.
Meu rosto queima com a lembrança do ciúme.
— Sinto muito, Cady. — Gat continua. — É isso que eu devia ter dito a você esse ano, no
dia em que chegamos. Eu estava errado e sinto muito.
Faço um gesto positivo com a cabeça. É bom ouvi-lo dizer isso. Queria não estar tão
chapada.
— Na metade do tempo eu me odeio por todas as coisas que fiz — diz Gat. — Mas o que
me deixa mesmo confuso é a contradição: quando não estou me odiando, me sinto íntegro, uma
vítima, como se o mundo fosse muito injusto.
— Por que você se odeia?
Quando me dou conta, Gat está deitado na cama ao meu lado. Seus dedos frios entrelaçam-
se aos meus dedos quentes, e seu rosto fica perto do meu. Ele me beija.
— Porque quero coisas que não posso ter — ele sussurra.
Mas ele me tem. Ele não sabe que já me tem?
Ou Gat está falando de alguma outra coisa, alguma outra coisa que não pode ter? Algo
material, um sonho ou coisa do tipo?
Estou suada, minha cabeça dói e não consigo pensar direito.
— Mirren acha que isso vai acabar mal e que eu devia deixar você em paz — conto a ele.
Ele me beija de novo.
— Alguém fez algo comigo que é terrível demais para lembrar — sussurro.
— Eu te amo — ele diz.
Nós nos abraçamos e nos beijamos por um longo tempo.
A dor na minha cabeça diminui um pouco. Mas não completamente.
ABRO OS OLHOS e o relógio marca meia-noite.
Gat se foi.
Abro as cortinas e olho pela janela, erguendo a vidraça para pegar um pouco de ar.
Tia Carrie está andando de camisola novamente. Passando por Windemere, coçando os
braços muito finos sob a luz da lua. Ela nem está de botas dessa vez.
Em Red Gate, consigo ouvir Will gritando depois de um pesadelo:
— Mamãe! Mamãe, preciso de você!
Mas Carrie não o escuta, pois não vai até ele. Muda de direção e segue pela passagem na
direção de nova Clairmont.
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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