sábado, 13 de junho de 2015

Capítulo 15


Pela segunda noite seguida, Thomas foi para a cama com a imagem assombrada da face de
Ben ardendo na memória, atormentando-o. Até que ponto as coisas seriam diferentes a partir
dali se não fosse por aquele garoto? Thomas quase conseguia se convencer de que ficaria
contente, feliz e empolgado por conhecer a sua nova vida, buscando realizar a sua meta de se
tornar um Corredor. Quase. No fundo ele sabia que Ben era apenas uma parte dos seus
inúmeros problemas.
Mas agora ele se fora, Banido para o mundo dos Verdugos, levado sabe-se lá para onde
eles carregavam as suas presas, vítima do que quer que fizessem lá. Embora tivesse uma
porção de motivos para desprezar Ben, na verdade sentia muita pena dele.
Thomas não se imaginava saindo daquela maneira, mas tomando por base os últimos
momentos de Ben, debatendo-se psicoticamente, cuspindo e gritando, não duvidava mais da
importância da lei da Clareira de que ninguém deveria entrar no Labirinto a não ser os
Corredores, e assim mesmo só durante o dia. De alguma forma, Ben já fora picado uma vez, o
que significava que sabia melhor do que talvez todos exatamente o que o esperava.
"Pobre garoto", pensou. "Pobre, pobre garoto."
Thomas estremeceu e virou de lado. Quanto mais pensava no assunto, mais lhe parecia que
ser um Corredor não era assim uma ideia tão boa. No entanto, inexplicavelmente, ainda se
sentia tentado.
Na manhã seguinte, o céu mal começara a clarear e já os ruídos da atividade na Clareira
despertavam Thomas do sono mais profundo desde que havia chegado. Ele sentou-se e
esfregou os olhos, tentando afastar a forte tonteira. Desistindo, deitou-se de costas, torcendo
para que ninguém viesse incomodá-lo.
Não demorou um minuto.
Alguém deu-lhe um tapinha no ombro, e ele abriu os olhos para ver Newt olhando-o do
alto. "O que será agora?", pensou.
- Levante, paspalho.
- É, bom dia para você também. Que horas são?
- Sete, Fedelho - respondeu Newt com um sorriso de zombaria. - Acho que se deixasse
você ficaria dormindo além da conta por mais uns bons dias.
Thomas rolou de lado até se sentar, odiando não poder ficar deitado por mais algumas
horas.
- Dormindo além da conta? Vocês são o quê? Um bando de caipiras da roça? - Caipiras da
roça... como podia lembrar-se tão bem disso? Uma vez mais a memória lhe pregava uma peça.
- Há... é, já que tocou no assunto. - Newt deixou-se cair ao lado de Thomas e sentou-se
sobre as pernas cruzadas. Ficou ali em silêncio por alguns instantes, contemplando o início do
movimento por toda a Clareira. - Hoje vamos pôr você com os Desbastadores, Fedelho. Veja
se gosta mais disso do que fatiar porcos sangrentos e essas coisas.
Thomas estava cheio de ser tratado como um bebê.
- Não daria para você parar de falar comigo desse jeito?
- Falar como? Porcos sangrentos?
Thomas forçou um sorriso e abanou a cabeça.
- Não, Fedelho. Na verdade, não sou mais o Calouro mais novo, certo? A garota em coma
é que é. Chame ela de Fedelha... O meu nome é Thomas. - A lembrança da garota tomou conta
dos seus pensamentos, fazendo-o lembrar-se da ligação que ele sentia existir entre eles. Uma
tristeza o invadiu de repente, conto se sentisse muito a falta dela, quisesse vê-la. "Isso não faz
o menor sentido", pensou. "Nem sei o nome dela."
Newt inclinou o corpo para trás, as sobrancelhas arqueadas.
- Sobrou pra mim... parece que ficou valentinho da noite para o dia, hein?
Thomas ignorou o comentário e levantou-se.
- 0 que é um Desbastador?
- É assim que chamamos os caras que trabalham como uma mula lá nos jardins... podando,
arrancando o mato, plantando, por aí.
Thomas inclinou a cabeça naquela direção.
- Quem é o Encarregado?
- Zart. um cara legal, desde que não faça cera no trabalho, sim senhor. Ele é aquele
grandalhão que ficou na frente ontem à noite.
Thomas não comentou nada sobre isso, esperando que de algum modo conseguisse passar
o dia inteiro sem falar sobre Ben e o Banimento. A história só o deixava enjoado e culpado, o
negócio era mudar de assunto.
- Certo... então por que veio me acordar?
- O quê? Por acaso não gosta de acordar vendo a minha cara antes de qualquer outra
coisa?
- Eu diria que não... Então... - Antes que pudesse completar a frase o rumor dos muros se
abrindo no novo dia abafou as suas palavras. Ele olhou na direção da Porta Leste, quase
esperando ver Ben parado lá do outro lado. Em vez disso, viu Minho fazendo alongamento.
Depois observou como ele se adiantava e pegava alguma coisa do chão.
Era a parte do poste com a coleira de couro ainda presa na extremidade. Minho não
pareceu se preocupar com a peça, atirando-a para um dos outros Corredores, que foi devolvê-
la no barracão de ferramentas próximo aos jardins.
Thomas deu as costas a Newt, confuso. Como Minho conseguia agir com tanta indiferença
em relação a tudo aquilo?
- Mas que...
- Só houve três Banimentos, Tommy. Todos eles tão desagradáveis como o que você viu
ontem à noite. Mas em todas as vezes os Verdugos deixaram a coleira na nossa soleira. Nada
me dá mais nos nervos do que isso.
Thomas teve de concordar.
- O que será que eles fazem com a pessoa que pegam? - E ficou pensando se realmente
queria saber a resposta.
Newt deu de ombros, o seu desinteresse não convencendo muito. Era mais provável que
não quisesse conversar a respeito.
- Então me fale sobre os Corredores - disse Thomas de repente. As palavras pareceram
brotar vindas não se sabe de onde. Mas ele permaneceu calmo, apesar de uma estranha
vontade de se desculpar e de mudar de assunto; queria saber tudo sobre eles. Mesmo depois
do que vira naquela noite, mesmo depois de observar o Verdugo pela janela, queria saber. O
impulso de saber era forte e ele não entendia bem por quê. Tornar-se um Corredor parecia ser
a única coisa para a qual havia nascido.
Newt tinha parado, parecendo confuso.
- Os Corredores? Por quê?
- Só estava pensando.
Newt lançou-lhe um olhar desconfiado.
- Os melhores dentre os melhores: é o que aqueles caras são. Precisam ser. Tudo depende
deles. - Ele pegou uma pedra do lado e atirou-a, acompanhando-a com o olhar até ver onde
caía.
- Por que você não é um deles?
Newt voltou-se e olhou Thomas fixamente.
- Era até machucar a perna alguns meses atrás. Ela nunca mais foi a mesma depois disso. -
Ele estendeu a mão e esfregou o tornozelo direito com um ar ausente, um rápido esgar de dor
passando por seu rosto. A expressão dele fez Thomas pensar que se tratava mais de uma
lembrança, não de uma dor física que ainda sentisse.
- Como foi que aconteceu? - Thomas indagou, pensando que quanto mais conseguisse que
Newt falasse, mais aprenderia.
- Correndo dos malditos Verdugos, o que mais poderia ser? Um quase me pegou. - Ele fez
uma pausa. - Ainda sinto arrepios ao pensar que poderia passar pela Transformação.
A Transformação. Esse era o assunto que Thomas achava que poderia levá-lo às respostas
mais do que qualquer outro.
- O que é isso, afinal? O que se transforma? Todo mundo fica maluco como Ben e começa
a tentar matar as pessoas?
- Ben ficou pior do que os outros. Mas achei que você quisesse saber sobre os
Corredores. - O tom de Newt deu a entender que a conversa sobre a Transformação acabara.
Isso deixou Thomas ainda mais curioso, embora para ele fosse ótimo voltar ao assunto dos
Corredores.
- Tudo bem, estou ouvindo.
- Como eu dizia, eles são os melhores dentre os melhores.
- E o que vocês fazem? Testam todo mundo para ver se correm rápido?
Newt dirigiu um olhar aborrecido na direção de Thomas, então gemeu.
- Seja mais esperto, Fedelho, Tommy, como queira ser chamado. Ser rápido é apenas uma
parte da coisa. Uma parte muito pequena, na verdade.
Isso despertou ainda mais o interesse de Thomas.
- O que você quer dizer com isso?
- Quando digo melhores entre os melhores, estou dizendo tudo. Para sobreviver no maldito
Labirinto, você precisa ser esperto, rápido, forte. Precisa ser capaz de tomar decisões, saber o
grau certo de risco que deve correr. Não pode ser atirado, nem pode ser medroso também. -
Newt esticou as pernas e inclinou-se para trás apoiando-se nas mãos. - É uma coisa horrível
lá fora, saca? Nunca me esqueço disso.
- Pensei que os Verdugos só viessem de noite. - Destino ou não, Thomas não queria dar de
cara com uma daquelas coisas.
- É, normalmente sim.
- Então, por que é tão terrível lá fora? - O que mais ele sabia?
Newt suspirou.
- Pressão. Tensão. O desenho do Labirinto mudando todo dia, a gente tentando guardar as
coisas na memória, tentando tirar a gente daqui. Preocupando-se com os malditos Mapas. A
pior parte, você está sempre apavorado pensando que não vai conseguir recompor o caminho
de volta. Um labirinto normal já seria difícil... Mas quando ele muda todas as noites, basta
você cometer um ou dois erros mentais para passar a noite com aquelas bestas nojentas. Não é
um trabalho para idiotas e babacas.
Thomas franziu o cenho, não entendendo muito bem o impulso que o motivava,
empurrando-o para aquilo. Em especial depois da noite anterior. Mas ainda sentia aquele
anseio. Sentia profundamente.
- Por que todo esse interesse? - quis saber Newt.
Thomas hesitou, pensando, com medo de dizer em voz alta de novo.
- Quero ser um Corredor.
Newt voltou-se e olhou-o nos olhos.
- Não está aqui não faz nem uma semana, seu trolho. É cedo demais para ficar tendo
vontades, não acha?
- Estou falando sério. - Aquilo mal fazia sentido até mesmo para Thomas, mas ele sentia
profundamente. Na verdade, o desejo de se tornar um Corredor era a única coisa que o
motivava, que o ajudava a aceitar a sua sina.
Newt não desviou o olhar.
- Eu também. Esqueça. Ninguém nunca se torna um Corredor no primeiro mês, muito
menos na primeira semana. É preciso provar muita coisa antes que a gente o recomende ao
Encarregado.
Thomas levantou-se e começou a dobrar o saco de dormir.
- Newt, estou falando sério. Não posso ficar arrancando mato o dia inteiro... Vou ficar
maluco. Não faço a menor ideia do que fazia antes de eles me mandarem para cá naquela caixa
de metal, mas sei por instinto que tenho de ser um Corredor. Sou capaz disso.
Newt ficou sentado ali, olhando para Thomas de baixo para cima, sem oferecer nenhuma
ajuda.
- Ninguém disse que você não pode ser. Mas dê um tempo por enquanto.
Thomas sentiu um ímpeto de impaciência.
- Mas...
- Escute, confie em mim, Tommy. Comece a andar por aí falando a torto e a direito que é
bom demais para trabalhar como um caipira da roça, que é ótimo e está pronto para ser um
Corredor... e vai se encher de inimigos. Esqueça isso por enquanto.
Fazer inimigos era a última coisa que Thomas queria. Ele decidiu ir por outro caminho.
- Ótimo, vou conversar com Minho sobre isso.
- Essa é boa, seu maldito trolho. O Conclave elege os Corredores, e se você acha que eu
sou durão, eles iriam rir na sua cara.
- Se querem saber, eu poderia ser muito bom nisso. É um desperdício de tempo me fazer
esperar.
Newt levantou-se diante de Thomas e apontou o dedo na cara dele.
- Escute aqui, Fedelho. Está me ouvindo bem?
Para sua surpresa, Thomas não se sentiu tão intimidado. Rolou os olhos para o alto e
depois concordou com um movimento de cabeça.
- É melhor você parar com essa besteira, antes que os outros escutem. Não é assim que as
coisas funcionam por aqui, e a sua vida depende completamente de que as coisas estejam
funcionando.
Fez uma pausa, mas Thomas não disse nada, temendo o sermão que viria em seguida.
- Ordem - Newt continuou. - Ordem. Repita essa maldita palavra na sua cabeça de mértila
mil vezes sem parar. O motivo de continuarmos pensando direito por aqui é porque
trabalhamos duro para manter a ordem. A ordem é a razão de termos expulsado Ben... Não
podemos ter birutas por aí tentando matar os outros, podemos? Ordem. A última coisa de que
precisamos é de você bagunçando tudo.
A teimosia de Thomas esvaiu-se de uma vez. Ele sabia que era a hora de calar a boca.
- Certo - foi tudo o que disse.
Newt deu-lhe um tapinha nas costas.
- Vamos fazer um trato.
- O quê? - Thomas sentiu as suas esperanças renascerem.
- Você mantém a boca fechada sobre esse assunto e vou colocá-lo na lista dos aprendizes
com mais potencial assim que você mostrar algum juízo. Não fique com a matraca fechada, e
eu vou fazer de tudo para que isso nunca aconteça. Combinado?
Thomas odiou a ideia de esperar, sem saber o quanto poderia demorar.
- Mas é uma droga de acordo.
Newt arqueou as sobrancelhas.
Thomas concordou.
- Fechado.
- Venha, vamos ver se conseguimos uma gororoba com o Caçarola. E tomara que a gente
não engasgue.
Naquela manhã, Thomas finalmente conheceu o tal Caçarola, ainda que a distância. O cara
estava ocupado demais tentando servir o café da manhã para um exército de Clareanos
famintos. Não devia ter mais de dezesseis anos de idade, mas exibia uma barba cheia e o
corpo todo coberto de pelos, como se cada folículo estivesse tentando escapar dos confins das
suas roupas recendendo a comida. Não parecia o sujeito mais asseado do mundo para cuidar
de toda a comida, concluiu Thomas. Ele procurou não se esquecer de observar as próximas
refeições em busca de um pelo ou um cabelo no prato.
Thomas e Newt tinham acabado de sentar-se com Chuck para o café da manhã em uma
mesa de piquenique do lado de fora da Cozinha quando um grande grupo de Clareanos se
levantou e correu em direção à Porta Oeste, comentando entusiasmados sobre alguma coisa.
- O que será que está acontecendo? - preocupou-se Thomas, surpreendendo-se como
dissera aquilo de forma descuidada. As novidades na Clareira tinham acabado de tornar-se
uma parte corriqueira da sua vida.
Newt deu de ombros e entregou-se aos seus ovos mexidos.
- Devem estar ir ver Minho e Alby... eles vão sair para encontrar uma droga de Verdugo
morto.
- Ei - disse Chuck. Um fiapo de bacon voou da sua boca quando ele falou. - Tenho uma
dúvida sobre esse assunto.
- Ah, é, Chuck? - respondeu Newt, de maneira um tanto sarcástica. - E qual seria essa
dúvida cruel?
Chuck pareceu pensar profundamente.
- Bem, eles encontraram um Verdugo morto, certo?
- Certo - replicou Newt. - Obrigado pela informação.
Chuck bateu o garfo na mesa por alguns segundos enquanto parecia ausente.
- Bem, então quem matou aquela coisa estúpida?
"Maravilha de pergunta"; pensou Thomas. Ficou esperando Newt responder, mas não
houve resposta. Obviamente, ele não fazia a menor ideia.

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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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