domingo, 14 de junho de 2015

Capítulo 34


Thomas acordou com uma luminosidade fraca e sem vida. Seu primeiro pensamento foi
que despertara mais cedo do que o habitual, devia faltar ainda uma hora para o sol nascer.
Mas então ouviu os gritos. E depois olhou para cima, através da densa cobertura de ramos.
O céu era uma laje opaca cinzenta - não com a luz clara natural da manhã.
Levantou-se de um salto, apoiou a mão no muro para se firmar enquanto esticava o
pescoço para observar o céu. Nem sinal do azul, nem do preto, nem das estrelas, nada da
resplandecência púrpura de uma manhã despontando. O céu, cada centímetro dele, estava
cinzento. Sem cor e morto.
Olhou para o relógio - passara uma hora inteira do seu horário obrigatório de levantar.
Teria acordado com o brilho do sol - como sempre fizera sem dificuldade desde a chegada à
Clareira. Mas isso não ocorrera hoje.
Olhou de novo para cima, como se esperasse que tudo tivesse mudado e voltado ao
normal. Mas continuava cinzento. Nenhuma nuvem, nada de crepúsculo, nem os primeiros
minutos do amanhecer. Só aquele tom acinzentado.
O sol desaparecera.
Thomas encontrou a maioria dos Clareanos parados perto da entrada da Caixa, apontando
para o céu morto, todo mundo falando ao mesmo tempo. Àquela hora, o café da manhã já
deveria ter sido servido, as pessoas deveriam estar trabalhando. Mas o desaparecimento do
maior item do sistema solar tornara-se o assunto predominante, e todos os horários normais
foram desajustados.
Na verdade, enquanto observava em silêncio a comoção, Thomas não se sentiu em pânico
ou amedrontado quanto os seus instintos indicavam que deveria se sentir. E surpreendeu-o que
tantos outros parecessem como galinhas perdidas atiradas para fora do galinheiro. Na
verdade, era ridículo.
O sol obviamente não desaparecera - isso não era possível.
Embora fosse isso que parecesse ter acontecido - em nenhuma parte viam-se os sinais da
bola de fogo incandescente, as sombras inclinadas da manhã estavam ausentes. Mas ele e
todos os Clareanos eram de longe por demais racionais e inteligentes para concluir uma coisa
dessas. Não, deveria haver uma razão cientificamente aceitável para o que estavam
testemunhando. E não importava o que fosse, para Thomas significava uma coisa: o fato de
não poderem mais ver o sol queria dizer que, em primeiro lugar, nunca tinham sido capazes
disso. Um sol não podia simplesmente desaparecer. O céu deles devia ter sido - e ainda era -
fabricado. Artificial.
Em outras palavras, o sol que brilhara sobre aquelas pessoas durante dois anos,
proporcionando calor e vida a tudo, não era o sol coisíssima nenhuma. De alguma forma, era
falso. Tudo naquele lugar era falso.
Thomas não sabia o que isso significava, não sabia como era possível. Mas sabia que essa
era a verdade - era a única explicação que a sua mente racional podia aceitar. E a julgar pelas
reações dos outros Clareanos, era óbvio que nenhum deles percebera isso até o momento.
Chuck o encontrou e a expressão de medo no semblante do garoto tocou-lhe o coração.
- O que você acha que aconteceu? - indagou Chuck, um tremor de dar dó na sua voz, os
olhos grudados no céu. Thomas pensou que o pescoço dele devia estar doendo terrivelmente. -
Parece um grande teto cinzento... tão perto que a gente quase pode tocá-lo.
Thomas acompanhou o olhar de Chuck e levantou a cabeça.
- É, faz a gente pensar sobre este lugar. - Pela segunda vez em vinte e quatro horas, Chuck
matara a charada. O céu parecia um teto. Como o teto de um quarto imenso. - Talvez tenha
dado algum defeito. Quer dizer, talvez ele volte a ser o que era.
Finalmente, Chuck parou de se admirar com o céu e olhou nos olhos de Thomas.
- Algum defeito? O que está querendo dizer com isso?
Antes que Thomas pudesse responder, a lembrança distante da noite anterior, antes de
adormecer, ocorreu-lhe de repente, as palavras de Teresa nos seus pensamentos. Ela dissera:
"Acabei de desencadear o Término". Não poderia ser uma coincidência, poderia? Sentiu um
ardor azedo avolumar-se no estômago. Fosse qual fosse a explicação, o que quer que tivesse
acontecido no céu, o sol, fosse ele verdadeiro ou não, desaparecera. E isso não podia ser uma
coisa boa.
- Thomas? - chamou Chuck, batendo-lhe de leve no antebraço.
- O que é? - A mente de Thomas parecia enevoada.
- O que você quis dizer com defeito? - repetiu Chuck.
Thomas sentia que precisava de tempo para pensar em tudo.
- Ah... sei lá! Deve haver coisas a respeito deste lugar que nós obviamente não
entendemos. Mas não se pode fazer o sol desaparecer do espaço. Além do mais, ainda temos
bastante luz para ver tudo, por mais fraca que seja. De onde será que ela vem?
Chuck arregalou os olhos, como se o segredo mais profundo e tenebroso do universo
acabasse de lhe ser revelado.
- É, de onde será que ela vem? O que está acontecendo, Thomas?
Thomas esticou o braço e apertou o ombro do garoto. Sentia-se estranho.
- Não faço ideia, Chuck. Nenhuma ideia. Mas tenho certeza que Newt e Alby vão
descobrir.
- Thomas! - Minho vinha correndo na direção deles. - Interrompa o seu recreio aqui com o
Chuck e vamos indo. Já estamos atrasados.
Thomas sentia-se atordoado. Por alguma razão esperava que aquele céu estranho tivesse
jogado pela janela todos os planos normais.
- Vocês ainda pretendem ir para lá? - indagou Chuck, surpreso também. Thomas sentiu-se
grato com o garoto por ter feito a pergunta em seu lugar.
- Mas é claro que sim, trolho - respondeu Minho. - Você não tem de fazer a limpeza? - Ele
deslocou o olhar de Chuck para Thomas. - No mínimo, isso nos fornece ainda mais motivos
para darmos o fora daqui. Se o sol realmente sumiu, não vai demorar muito para que as
plantas e animais caiam mortos também. Acho que o desespero aumentou consideravelmente.
A última frase dele tocou fundo em Thomas. Apesar de todas as suas ideias - todas as
coisas que expressara a Minho -, não estava ansioso para mudar o modo como as coisas
tinham sido feitas durante os últimos dois anos. Sentiu um misto de empolgação e temor
quando entendeu o que Minho estava dizendo.
- Quer dizer que vamos ficar lá toda a noite? Vamos explorar os muros um pouco mais a
fundo.
Minho balançou a cabeça.
- Não, ainda não. Mas talvez em breve. - Ele olhou na direção do céu. - Cara... que jeito
de acordar. Venha, vamos embora.
Thomas permaneceu em silêncio enquanto ele e Minho se preparavam e tomavam um café
da manhã rápido como um raio. Os seus pensamentos se consumiam entre o céu acinzentado e
o que Teresa dissera-lhe em pensamento - pelo menos, pensava que fosse a garota - para
participar de qualquer conversa.
O que será que ela queria dizer com Término? Thomas não conseguia afastar a sensação
de que devia contar a alguém. A todo mundo.
Mas não sabia o que significava, e não queria que soubessem que ouvia a voz da garota
dentro da cabeça. Pensariam que ficara maluco, talvez o prendessem - e para sempre dessa
vez.
Depois de muita deliberação, decidiu manter a boca fechada e sair para correr com Minho
no seu segundo dia de treinamento, embaixo de um céu sombrio e sem vida.
Eles avistaram o Verdugo antes mesmo de chegar à porta que levava da Área Oito para a
Área Um.
Minho achava-se a alguns passos à frente de Thomas. Ele acabara de dobrar uma esquina à
direita quando se deteve abruptamente, quase derrapando com os pés imóveis. Saltando para
trás, agarrou Thomas pela camiseta, empurrando-o de encontro ao muro.
- Shh! - sussurrou Minho. - Há um maldito Verdugo ali adiante.
Thomas arregalou os olhos numa pergunta muda, sentiu o coração acelerar, muito embora
já estivesse batendo forte e seguidamente.
Minho apenas inclinou a cabeça afirmativamente, depois pôs o dedo sobre os lábios.
Soltou a camiseta de Thomas e deu um passo atrás, em seguida esgueirou-se com cuidado para
a esquina onde vira o Verdugo. Bem devagar, inclinou-se para a frente a fim de dar uma
olhada. Thomas teve vontade de gritar-lhe para que tomasse cuidado.
Minho recuou a cabeça com força e voltou-se para encarar Thomas. A sua voz soou ainda
como um sussurro.
- Ele está sentado lá... quase como aquele que pensamos que estivesse morto.
- O que vamos fazer? - indagou Thomas, falando o mais baixo possível. Tentava ignorar o
pânico crescente dentro de si. - Ele está vindo na nossa direção?
- Não, idiota, acabei de lhe dizer que ele estava sentado lá.
- E daí? - Thomas ergueu as mãos para os lados em frustração. - O que vamos fazer? -
Ficar tão perto de um Verdugo parecia uma ideia bem ruim.
Minho permaneceu parado por alguns segundos, pensando antes de falar.
- Precisamos seguir por ali para chegar à nossa área. Vamos só observar por enquanto...
Se ele vier na nossa direção, voltamos correndo para a Clareira. - Deu mais uma espiada,
depois olhou rapidamente por cima do ombro. - Droga, ele desapareceu! Vamos!
Minho não esperou uma resposta, nem viu Thomas expressar o horror que sentia,
arregalando ainda mais os olhos. Minho partiu correndo na direção em que vira o Verdugo.
Embora contra os próprios instintos, Thomas o acompanhou.
Disparou pelo corredor atrás de Minho, virou à esquerda, depois à direita. A cada volta,
eles diminuíam o passo para que o Encarregado pudesse observar antes de dobrarem a
esquina. A cada vez ele sussurrava para Thomas que vira a cauda do Verdugo desaparecer
depois da curva seguinte. Isso continuou por dez minutos, até chegarem ao longo corredor que
terminava no Penhasco, além do qual não existia nada a não ser o céu inerte. O Verdugo estava
se atirando na direção daquele céu.
Minho parou tão abruptamente que Thomas quase o atropelou. Depois Thomas olhou
chocado à frente enquanto o Verdugo se adiantava com os seus ferrões e se lançava em
direção à borda do Penhasco, caindo em seguida, no abismo cinzento. A criatura desapareceu,
uma sombra engolida por mais sombras
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Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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