A voz era distante, cantada, como um eco em um túnel comprido.
- Thomas, você consegue me ouvir?
Ele não queria responder. A sua mente se desligara quando ele não fora mais capaz de
aguentar a dor; ele temia que tudo aquilo retornasse caso se permitisse voltar à consciência.
Sentiu uma luz do outro lado das pálpebras, mas sabia que seria insuportável abri-las. Não fez
nada.
- Thomas, é o Chuck. Você está bem? Por favor, não morra, cara.
Tudo voltou de chofre à sua mente. A Clareira, os Verdugos, a agulha picante, a
Transformação. Lembranças. O Labirinto não podia ser desvendado. A única saída para eles
era algo por que nunca tinham esperado. Algo aterrorizante. Ele foi esmagado pelo desespero.
Gemendo, forçou os olhos a se abrirem, a princípio deixando-os apenas semicerrados. O
rosto rechonchudo de Chuck estava lá, fitando-o com olhos assustados. Mas então eles se
acenderam e um sorriso abriu-se no rosto dele. Apesar de tudo, apesar do horror de tudo
aquilo, Chuck sorria.
- Ele acordou! - gritou o garoto para ninguém em especial. - Thomas acordou!
O alarido da voz dele fez Thomas encolher-se; tornou a fechar os olhos.
- Chuck, você precisa gritar? Não me sinto muito bem.
- Desculpe... só estava contente por você estar vivo. Tem sorte por eu não lhe dar um
beijão.
- Por favor, não faça isso, Chuck. - Thomas abriu novamente os olhos e forçou-se a sentarse
na cama em que se encontrava, apoiando as costas contra a parede e esticando as pernas. A
dor devorando articulações e músculos. - Quanto tempo durou isso? - quis saber.
- Três dias - respondeu Chuck. - Pusemos você no Amansador à noite para que ficasse
mais seguro... trazíamos de volta pra cá durante o dia. Desde que você entrou nessa, pensamos
que estivesse morto pelo plenos umas trinta vezes. Mas dê só uma olhada... você está novinho
em folha!
Thomas só podia imaginar como não devia estar com uma boa aparência.
- Os Verdugos voltaram?
A alegria de Chuck desmoronou e ele baixou os olhos para o chão.
- Voltaram... levaram Zart e alguns outros. Um por noite. Minho e os Corredores
vasculharam o Labirinto, tentando encontrar uma saída ou algum uso para aquele código idiota
que vocês arrumaram. Mas nada. Por que acha que os Verdugos só levam um trolho de cada
vez?
Thomas sentiu um amargor no estômago - agora sabia a resposta exata para aquela
pergunta, e para algumas outras. O bastante para saber que às vezes saber é uma droga.
- Encontre Newt e Alby - disse finalmente em resposta. - Diga a eles que precisamos fazer
um Conclave. O mas rápido possível.
- Sério?
Thomas soltou um suspiro.
- Chuck, acabei de passar pela Transformação. Você não acha que estou falando sério?
Sem dizer nada, Chuck virou-se de um salto e correu para fora do quarto, os gritos com
que chamava Newt diminuindo de volume à medida que se afastava.
Thomas fechou os olhos e descansou a cabeça contra a parede. Então chamou por ela
mentalmente.
"Teresa."
A princípio, ela não respondeu, mas depois a sua voz surgiu de repente nos pensamentos
dele, tão nítida quanto se estivesse sentada ali ao lado.
"Foi realmente uma coisa muito idiota, Tom. Muito, muito idiota."
"Eu precisava fazer", respondeu ele.
"Bem que eu te odiei bastante nos últimos dois dias. Você precisava se ver. A sua pele, as
suas veias..."
"Você me odiou?" Sentiu-se emocionado por ela se preocupar tanto com ele.
Ela fez uma pausa.
"Esse é só o meu jeito de dizer que teria matado você se você morresse."
Thomas sentiu um assomo de calor no peito, alcançando-o e realmente tocando-o, surpreso
consigo mesmo.
"Bem... obrigado. Eu acho."
"Então, consegue se lembrar de muita coisa?"
Ele fez uma pausa.
"O suficiente. O que você disse sobre nós dois e sobre o que fizemos a eles..."
"Era verdade?"
"Fizemos algumas maldades, Teresa." Ele sentiu uma frustração da parte dela, como se
tivesse milhões de perguntas para fazer e nenhuma ideia de por onde começar.
"Você descobriu alguma coisa que ajude a gente a sair daqui?", indagou ela, como se não
quisesse saber a parte que lhe cabia em tudo aquilo. "Um sentido para o código?"
Thomas fez nova pausa, sem querer falar sobre aquilo ainda - não antes de organizar
direito os pensamentos. A única chance de escaparem poderia ser um desejo de morte.
"Talvez", ele finalmente falou, "mas não vai ser fácil. Precisamos de um Conclave. Pedirei
para que você possa participar... Não tenho energia para contar tudo duas vezes."
Nenhum deles disse nada por um momento, um sentimento de desesperança pairando entre
as suas mentes.
"Teresa? "
"Oi?"
"Não é possível desvendar o Labirinto."
Ela fez uma longa pausa antes de responder:
"Acho que todos sabemos isso agora".
Thomas detestou o sofrimento que percebeu na voz dela - podia senti-lo na própria mente.
"Não se preocupe; mesmo assim, os Criadores querem que escapemos. Eu tenho um
plano." Ele queria dar alguma esperança a ela, por menor que fosse.
"Ah, não diga."
"Tenho, sim. É terrível, e alguns podem morrer. Parece atraente?"
"Essa é boa. Conte como é."
"Nós precisamos..."
Antes que ele pudesse terminar, Newt entrou no quarto, interrompendo-o.
"Conto depois", Thomas encerrou rapidamente.
"Não demore!", disse ela, e então se foi.
Newt aproximara-se da cama e sentara-se ao lado dele.
- Tommy... você nem parece doente.
Thomas confirmou com um movimento de cabeça.
- Estou um pouco enjoado, mas fora isso estou ótimo. Pensei que fosse muito pior.
Newt abanou a cabeça, o rosto exibindo um misto de raiva e admiração.
- O que você fez foi meio corajoso e meio imbecil. Parece que se deu bem. - Ele fez uma
pausa e balançou a cabeça afirmativamente. - Eu sei por que você fez isso. Quais lembranças
voltaram? Alguma que possa ajudar a gente?
- Precisamos fazer um Conclave - disse Thomas, mudando a posição das pernas para
sentir-se mais confortável. Para sua surpresa, não sentia muita dor, apenas tontura. - Antes que
comece a me esquecer das coisas.
- Certo, Chuck me falou... vamos fazer. Mas por quê? O que descobriu?
- Trata-se de um teste, Newt... a coisa toda é um teste.
Newt inclinou a cabeça concordando.
- Como um experimento.
Thomas abanou negativamente a cabeça.
- Não, você não entendeu. Eles estão eliminando a gente, vendo se vamos desistir,
descobrindo os melhores de nós. Submetendo-nos a variáveis, tentando nos fazer desistir.
Testando a nossa capacidade de ter esperança e lutar. Mandar Teresa aqui e acabar com tudo
foi apenas a última parte, mais uma... última análise. Agora está na hora do último teste.
Escapar.
Newt arqueou as sobrancelhas confuso.
- O que está querendo dizer? Você sabe como sair?
- Sei... Convoque um Conclave. Agora.
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