domingo, 14 de junho de 2015

Capítulo 56


Thomas agarrou Minho pelo braço.
- Preciso atravessar aquilo de qualquer jeito! - Fez um sinal com a cabeça para o grupo
compacto e rolante de Verdugos entre eles e o Penhasco; eles pareciam uma grande massa
rolante, uma bolha com ferrões, piscando lampejos luminosos de luzes de aço. Eram ainda
mais ameaçadores sob aquela iluminação cinzenta esmaecida.
Thomas esperou por uma resposta enquanto Minho e Newt trocavam um olhar demorado.
A expectativa em relação ao combate era quase pior do que o temor da luta em si.
- Eles estão vindo! - gritou Teresa. - Precisamos fazer alguma coisa!
- Você lidera - disse Newt a Minho, a voz pouco mais que um sussurro. - Abra uma droga
de caminho para Tommy e a garota. Vá!
Minho concordou, um olhar metálico de determinação endurecendo-lhe o semblante. Em
seguida virou-se para os Clareanos.
- Vamos direto ao Penhasco! Lutem pelo meio, empurrem as malditas coisas para os
muros. O que mais interessa é conseguir que Thomas e Teresa cheguem ao Buraco dos
Verdugos!
Thomas desviou o olhar dele, de novo observando a aproximação dos monstros - eles
estavam a apenas alguns passos de distância. Agarrou com mais força aquele arremedo de
lança.
"Precisamos ficar bem próximos", disse ele a Teresa. "Deixe que os outros lutem...
precisamos atravessar aquele Buraco." Ele sentia-se um covarde, mas sabia que toda a luta - e
todas as mortes - seria em vão se não conseguissem digitar o código, abrindo a porta para
chegar aos Criadores.
"Eu sei", respondeu ela. "Ficar bem juntinhos."
- Preparar! - gritou Minho próximo a Thomas, erguendo no ar o bastão envolvido em
arame farpado em uma das mãos, uma comprida faca prateada na outra. Ele apontou a faca
para a horda de Verdugos; um clarão rebrilhou na lâmina. - Agora!
O Encarregado saiu correndo sem esperar uma resposta. Newt foi atrás dele, colado nos
seus calcanhares, e depois o resto dos Clareanos os acompanhou, um grupo compacto de
garotos rugindo num ataque direto para uma batalha sangrenta, as armas levantadas. Thomas
pegou Teresa pela mão, esperou que passassem - levando encontrões, sentindo o cheiro do
suor, percebendo todo o terror deles -, à espera da oportunidade perfeita para desferir o golpe
certeiro.
Assim que os primeiros sons dos garotos entrando em luta contra os Verdugos encheram o
ar, permeados por gritos e rugidos da maquinaria e da madeira chocando-se contra o aço,
Chuck passou correndo por Thomas, que rapidamente estendeu a mão e agarrou-lhe o braço.
Chuck cambaleou para trás, depois olhou para Thomas, os olhos tão cheios de medo que
Thomas sentiu alguma coisa se romper em pedaços no coração. Naquela fração de segundo,
ele tomara uma decisão.
- Chuck, você vai comigo e Teresa - disse determinado, com autoridade, sem deixar
espaço para a dúvida.
Chuck olhou para a batalha encarniçada à frente.
- Mas... - Chuck se interrompeu e Thomas entendeu que o garoto apreciava a ideia, embora
estivesse envergonhado para admiti-lo.
Thomas tentou salvar a dignidade dele.
- Precisamos da sua ajuda no Buraco dos Verdugos, para o caso de uma daquelas coisas
estar esperando por nós.
Chuck concordou depressa - depressa demais. De novo, Thomas sentiu a dor da tristeza no
coração, numa ânsia ainda mais forte de levar Chuck em segurança para casa do que quando
lhe fizera a promessa.
- Muito bem, então - disse Thomas. - Segure na mão da Teresa. Vamos.
Chuck fez o que ele disse, tentando ao máximo agir com bravura. E, como Thomas notou,
sem dizer uma palavra, talvez pela primeira vez na vida.
"Eles abriram uma brecha!", gritou Teresa na mente de Thomas, o que lhe provocou uma
dor súbita por toda a cabeça. Ela apontava para a frente, e Thomas viu a passagem estreita que
se abrira no meio do corredor, os Clareanos lutando selvagemente para empurrar os Verdugos
contra os muros.
- Agora! - Thomas gritou.
Ele disparou à frente, puxando Teresa atrás de si, Teresa puxando Chuck atrás dela,
correndo a toda velocidade, as lanças e facas levantadas para a batalha, em direção à
passagem de pedra coberta de sangue e entrecortada de gritos. Em direção ao Penhasco.
A guerra estrondeava em torno deles. Os Clareanos lutavam, movidos pela adrenalina
induzida pelo pânico. Os sons ecoando nos muros eram uma cacofonia de terror - gritos
humanos, metal chocando-se contra metal, rugido de motores, os rangidos assombrosos dos
Verdugos, as serras girando, as garras se abrindo e fechando, os garotos clamando por ajuda.
Tudo se fundia numa massa de sangue, o cinzento inerte, o brilho do aço. Thomas tentou não
olhar à esquerda nem à direita, apenas à frente, através da lacuna estreita aberta pelos
Clareanos.
Mesmo enquanto corriam, Thomas repassava as palavras do código mentalmente.
"FLUTUA, PEGA, SANGRA, MORTE, RÍGIDO, APERTA." Só faltavam uns quatro metros.
"Alguma coisa cortou o meu braço!", gritou Teresa. Mal ela dissera isso, Thomas sentiu
uma punhalada na perna. Mas não olhou para trás, não se incomodou em responder. A brutal
impossibilidade da sua situação era como um imenso dilúvio de água negra escoando ao seu
redor, arrastando-o à rendição. Ele lutou contra aquilo, impulsionando-se para a frente.
Lá estava o Penhasco, abrindo-se sob o céu cinza-escuro, uns seis metros à frente. Ele
avançou com mais ímpeto, puxando os amigos.
As lutas prosseguiam dos dois lados deles; Thomas recusou-se a olhar, recusou-se a
ajudar. Um Verdugo girou, vindo colocar-se no seu caminho; um garoto, a face fora do alcance
da vista, estava preso entre as suas garras, batia com todas as forças contra a pele grossa
como a de uma baleia, tentando escapar. Thomas desviou para a esquerda, sem interromper a
corrida. Ouviu um grito ao passar, um gemido rascante e abrasador que só podia significar que
o Clareano perdera a luta, encontrando um fim horrendo. O grito continuou, rompendo o ar,
sobrepondo-se aos outros sons da guerra, silenciando até a morte. Thomas sentiu o coração
tremer, esperando que não fosse alguém que conhecesse.
"Continue em frente!", disse Teresa.
- Eu sei! - gritou Thomas em resposta, dessa vez em voz alta.
Alguém passou por Thomas em disparada, batendo nele de raspão. Um Verdugo atacou
pela direita, as lâminas rodopiando. Um Clareano interpôs-se entre eles, atacando com duas
espadas compridas, o metal estrepitando e retinindo enquanto lutavam. Thomas ouviu uma voz
distante, gritando as mesmas palavras vezes seguidas, algo sobre ele. Sobre protegê-lo
enquanto corria. Era Minho, irradiando todo o seu desespero e a sua fadiga em gritos.
Thomas continuou em frente.
"Um quase pegou o Chuck! ", gritou Teresa, criando um eco violento na cabeça de
Thomas.
Mais Verdugos acorreram para interceptá-los, mais Clareanos ajudaram. Winston pegara o
arco e as flechas de Alby, disparando as hastes de pontas metálicas na direção de tudo não
humano que se movesse, errando mais do que acertando. Garotos que Thomas não conhecia
corriam ao seu lado, golpeando vigorosamente os instrumentos dos Verdugos com as suas
armas improvisadas, saltando sobre eles, atacando. Os sons - choques, retinidos, gritos,
lamentos abafados, o clamor de motores, serras girando, espadas silvando, o rangido dos
ferrões contra o chão, pedidos de socorro de arrepiar os cabelos - todos prosseguiam num
crescendo, tornando-se insuportáveis.
Thomas gritou, mas continuou correndo até chegarem ao Penhasco. Parou bruscamente bem
rente à borda. Teresa e Chuck bateram de encontro ao seu corpo, quase lançando os três numa
queda sem fim. Numa fração de segundo, Thomas reconheceu a posição do Buraco dos
Verdugos. Pendurados ali, no meio do ar rarefeito, galhos de hera cresciam para lugar nenhum.
Anteriormente, Minho e alguns Corredores haviam puxado ramos de hera, amarrando-os
como cordas às trepadeiras ainda presas aos muros. Atiraram as extremidades soltas sobre o
Penhasco, até alcançarem o Buraco dos Verdugos, onde agora seis ou sete trepadeiras corriam
da borda de pedra para um quadrado impreciso invisível, pairando no céu vazio, onde
desapareciam no nada.
Aquele era o momento de saltar. Thomas hesitou, sentindo um último momento de terror
total - ouvindo os sons horríveis às costas, vendo a ilusão à frente -, então livrou-se dele.
- Você primeiro, Teresa. - Ele queria ir por último para ter certeza de que um Verdugo não
pegaria Teresa ou Chuck.
Para sua surpresa, ela não hesitou. Depois de apertar a mão de Thomas e em seguida o
ombro de Chuck, saltou para fora da borda, imediatamente esticando as pernas, com os braços
ao lado do corpo. Thomas prendeu a respiração até que ela deslizou para dentro do local entre
os galhos de hera e desapareceu. Parecia que fora apagada da existência num rápido safanão.
- Uou! - Chuck gritou, numa ligeira mostra do seu humor costumeiro.
- Uou mesmo - disse Thomas. - Você é o próximo.
Antes que o garoto pudesse questionar, Thomas o agarrou por baixo dos braços, apertando
o tronco de Chuck.
- Empurre forte com as pernas que eu dou impulso. Pronto? Uni, dois, três! - Ele grunhiu
com o esforço, lançando-o para cima em direção ao Buraco.
Chuck gritou enquanto voava no ar, e quase errou o alvo, mas os seus pés passaram;
depois a barriga e os braços bateram contra as laterais do buraco invisível antes de
desaparecer lá dentro. A bravura do garoto como que cristalizou algo no coração de Thomas.
Ele amava aquele garoto. Amava-o como se tivessem tido a mesma mãe.
Thomas apertou as alças da mochila, segurando fortemente a lança de batalha improvisada
com a mão direta. Os sons atrás dele eram assustadores, horríveis - sentia-se culpado por não
ajudar. "Apenas faça a sua parte", disse para si mesmo.
Preparando os nervos, apoiou a lança contra o chão de pedra, então plantou o pé esquerdo
bem na borda do Penhasco e saltou, catapultando-se através do ar de cor indistinta. Puxou a
lança para perto do corpo, apontou os dedos dos pés para baixo, enrijeceu o corpo.
Então atingiu o Buraco.
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Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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