sexta-feira, 12 de junho de 2015

Capitulo 8


Eles começaram pela Caixa, que estava fechada naquele momento - as portas duplas de
metal jazendo ao nível do chão, cobertas por uma pintura branca, desgastada e rachada. O dia
tinha clareado, as sombras estendendo-se na direção oposta à que Thomas vira no dia anterior.
Ele ainda não tinha visto o sol, mas este parecia estar prestes a surgir a qualquer minuto sobre
o muro ao leste.
Alby apontou para as portas no chão.
- Esta aqui é a Caixa. Uma vez por mês, recebemos um Calouro como você, nunca falha.
Uma vez por semana, recebemos suprimentos, roupas, algum alimento. Não precisamos de
muito... a maior parte produzimos sozinhos na Clareira.
Thomas concordou com um movimento da cabeça, o corpo inteiro ardendo de vontade de
fazer perguntas. "Preciso fechar a boca com um zíper", pensou.
- Não sabemos chongas sobre a Caixa, está me entendendo? - continuou Alby. - De onde
ela vem, como chega aqui, quem é o responsável. Os trolhos que nos mandaram para cá não
nos contaram nada. Temos toda a eletricidade de que precisamos, cultivamos e produzimos
quase todo o nosso alimento, recebemos roupas e tudo mais. Tentamos mandar um Fedelho de
volta na Caixa uma vez... a coisa não se mexeu enquanto não o tiramos de lá.
Thomas ficou imaginando o que haveria embaixo das portas quando a Caixa não estivesse
ali, mas mordeu a língua. Sentia uma mistura de emoções - curiosidade, frustração, admiração
-, todas misturadas com o horror persistente de ter visto o Verdugo naquela manhã.
Alby continuou falando, sem nunca se dar o trabalho de olhar Thomas nos olhos.
- A Clareira se divide em quatro partes. - Ele exibiu os dedos enquanto contava as quatro
denominações: - Jardins, Sangradouro, Sede, Campo-santo. Sacou?
Thomas hesitou, depois abanou a cabeça, confuso.
Alby piscou rapidamente antes de continuar; parecia que pensava em milhares de coisas
que poderia estar fazendo naquele exato momento. Apontou para o canto noroeste, onde
ficavam os campos e as árvores frutíferas.
- Jardins... onde temos as plantações. A água é bombeada através de canos no chão...
Nunca faltou, ou teríamos morrido de sede e fonte há muito tempo. Nunca chove aqui. Nunca. -
Apontou para o canto sudeste, para as cocheiras e os cercados dos animais. - Sangradouro...
onde criamos e abatemos os animais. - Indicou o deplorável alojamento. - Sede... esse lugar
estúpido está duas vezes maior do que quando o primeiro de nós chegou aqui porque
continuamos ampliando quando nos mandam madeira e plongs. Não é bonito, mas funciona. De
qualquer forma, a maioria dorme do lado de fora.
Thomas sentia-se atordoado. Tantas dúvidas giravam na sua mente que nem conseguia
ordená-las.
Alby apontou para o canto sudoeste, a região de floresta marcada pela presença de várias
árvores doentes e bancos.
- Chamamos ali de Campo-santo. O cemitério fica naquele canto, entre as árvores mais
copadas. Não tem muito mais coisa. Você pode ir lá para sentar-se e descansar, perambular, o
que quiser. - Ele limpou a garganta, conto se quisesse mudar de assunto. - Você vai passar as
próximas duas semanas trabalhando um dia em cada uma das diferentes tarefas executadas
pelos Encarregados, até descobrirmos em que você se sai melhor. Aguadeiro, Ajudante,
Embalador, Desbastador... alguma coisa vai dar certo, sempre dá. Vamos.
Alby encaminhou-se para a Porta Sul, localizada entre o que ele chamara de Campo-santo
e o Sangradouro. Thomas seguiu atrás, franzindo o nariz ante o súbito cheiro de sujeira e
estrume que vinha dos cercados dos animais. "Cemitério?", pensou. "Por que precisam de um
cemitério em um lugar cheio de adolescentes?" Aquilo o perturbou ainda mais do que entender
o significado de algumas das palavras que Alby dizia - como Aguadeiro e Embalador - que
não soavam muito bem. Chegou tão perto de interromper Alby quanto antes, mas decidiu
manter a boca fechada.
Frustrado, voltou a atenção para os cercados na área do Sangradouro.
Diversas vacas mordiscavam e mastigavam sobre um cocho cheio de feno verdejante.
Porcos relaxavam em uma cova enlameada, agitando ocasionalmente o rabo como único sinal
de que estavam vivos. Outro cercado continha ovelhas, e também se viam galinheiros e
gaiolas de perus. Os trabalhadores se movimentavam ativamente, como se tivessem passado a
vida inteira em uma fazenda.
"Por que me lembro desses animais?", perguntou-se Thomas. Nada em relação a eles
parecia novo ou interessante - ele sabia como eram chamados, o que comiam, qual a aparência
de cada um deles. Por que esse tipo de coisa continuava na sua memória, mas não onde ele
vira os animais antes, ou com quem? A complexidade daquela perda de memória era
desconcertante.
Alby apontou para o grande celeiro no canto de trás, com uma pintura vermelha que havia
muito tempo tinha desbotado até se tornar de uma cor indistinta de ferrugem.
- É lá que trabalham os Retalhadores. Coisa asquerosa, essa. Asquerosa. Se você gosta de
sangue, pode ser um Retalhador.
Thomas abanou a cabeça. Retalhador não soava nada bem. Enquanto continuavam
andando, ele concentrou a atenção no outro lado da Clareira, a parte que Alby chamara de
Campo-santo. As árvores eram mais copadas e densas na parte de trás do canto para onde os
dois tinham ido, mais vivas e cheias de folhas. Sombras escuras preenchiam as profundezas da
área arborizada, apesar da hora do dia. Thomas ergueu os olhos, quase fechando-os sob o sol
finalmente visível, ainda que estranho - mais laranja do que deveria. Aquilo o tocou como
mais um exemplo da estranha memória seletiva na sua mente.
Ele tornou a olhar para o Campo-santo, um disco brilhante ainda flutuando na sua visão.
Piscando para tirá-lo da vista, ele captou as luzes vermelhas de novo, piscando e resvalando
em meio à escuridão entre as árvores. "O que são essas coisas?", perguntou-se, irritado por
Alby não ter respondido antes. Aquele silêncio era muito desagradável.
Alby parou, e Thomas surpreendeu-se ao ver que tinham chegado à Porta Sul; os dois
muros que delimitavam a saída elevavam-se acima deles. As grossas lajes de pedra cinzenta
estavam rachadas e cobertas de hera, tão antigas quanto qualquer coisa que Thomas pudesse
imaginar. Ele esticou o pescoço para ver a parte superior dos muros lá no alto; a sua mente
girou com a estranha sensação de estar olhando para baixo e não para cima. Recuou um passo,
impressionado uma vez mais pela estrutura do seu novo lar, então voltou a atenção para Alby,
que estava de costas para a saída.
- Para lá fica o Labirinto. - Alby indicou com o polegar por cima do ombro, fazendo
depois uma pausa. Thomas olhou naquela direção, através do espaço existente entre os muros,
que funcionava como uma saída da Clareira. Os caminhos ali pareciam idênticos aos que vira
da janela pela Porta Leste bem cedo naquela manhã. O pensamento provocou-lhe um calafrio,
fazendo-o imaginar se um Verdugo poderia aparecer de repente e investir contra eles. Deu um
passo para trás antes de perceber o que estava fazendo. "Calma", advertiu a si mesmo,
embaraçado.
Alby continuou:
- Dois anos, é o tempo que estou aqui. Ninguém está há mais tempo do que eu. Os poucos
que vieram antes de mim já estão mortos. - Thomas sentiu os olhos se arregalarem, o coração
acelerar. - Por dois anos temos tentado decifrar essa coisa, sem resultado. Esses muros de
mértila movem-se lá à noite tanto quanto estas portas aqui. Acompanhar o seu traçado não é
fácil, não é fácil mesmo. - Girou a cabeça em direção à construção de blocos de concreto em
que os Corredores tinham desaparecido na noite anterior.
Outra pontada de dor rasgou o cérebro de Thomas - eram informações demais para
processar de uma só vez. Eles estavam ali havia dois anos? As paredes moviam-se no
Labirinto? Quantos tinham morrido? Deu um passo à frente, querendo ver o Labirinto por si
mesmo, como se as respostas estivessem inscritas ali naquelas paredes.
Alby levantou a mão e empurrou o peito de Thomas, fazendo-o retroceder cambaleante.
- Nada de sair para lá, trolho.
Thomas precisou conter o orgulho.
- Por que não?
- Você acha que mandei o Newt procurar você antes de todo mundo acordar só por
brincadeira? Estrupício, essa é a Regra Número Um, a única que se alguém transgredir jamais
terá perdão. A ninguém... a ninguém além dos Corredores é permitido entrar no Labirinto.
Desrespeite essa regra e, se não for morto pelos Verdugos, nós mesmos acabaremos com a sua
raça, deu pra entender?
Thomas inclinou a cabeça, resmungando interiormente, certo de que Alby estava
exagerando. Esperando que estivesse. De qualquer modo, se lhe restava alguma dúvida quanto
ao que dissera a Chuck na noite anterior, esta desaparecera por completo. Queria ser um
Corredor. Seria um Corredor. No fundo, sabia que tinha de ir lá, no Labirinto. Apesar de tudo
que aprendera e testemunhara, aquilo o convocava tanto quanto a fome ou a sede.
Um movimento no alto do muro à esquerda da Porta Sul chamou a sua atenção.
Sobressaltado, reagiu rapidamente, olhando bem a tempo de ver um clarão prateado. Uma
mancha de hera balançou quando a coisa desapareceu dentro dela.
Thomas apontou para o alto do muro.
- O que foi aquilo? - perguntou antes de conseguir se conter de novo.
Alby nem se incomodou em olhar.
- Nada de perguntas até o fim, trolho. Quantas mil vezes preciso lhe dizer? - Fez uma
pausa e soltou um longo suspiro. - Aquilo foi um besouro mecânico... é como os Criadores nos
observam. É melhor você não...
Ele foi interrompido pelo estrondo de um alarme que vinha de todas as direções. Thomas
tapou as orelhas com as mãos, olhando ao redor enquanto a sirene tocava, o coração a ponto
de sair pela boca. Observou Alby, que não parecia assustado. Ele parecia... confuso.
Surpreso. O alarme continuava reverberando pelo ar.
- O que está acontecendo? - quis saber Thomas. O alívio no seu peito foi imenso ao
perceber que o seu guia no passeio não parecia pensar que o mundo estava prestes a acabar...
mas mesmo assim Thomas estava ficando cansado de ser atingido por ondas de pânico.
- É estranho - foi o que Alby falou enquanto corria os olhos semicerrados pela Clareira.
Thomas viu uns rapazes nos cercados do Sangradouro olhando para todos os lados,
parecendo confusos. Alguém gritou para Alby, um garoto esquálido coberto de lama.
- O que foi isso? - quis saber o garoto, olhando para Thomas por alguma razão.
- Não sei - retrucou Alby com uma voz apagada.
Thomas, porém, não aguentava mais.
- Alby! O que está acontecendo?
- A Caixa, cara de mértila, a Caixa! - foi tudo o que Alby disse antes de partir para o meio
da Clareira com passos tão enérgicos que, para Thomas, sugeriram medo.
- E daí? - exigia Thomas, correndo para alcançá-lo. "Fale comigo!", queria gritar para ele.
Mas Alby não respondeu nem diminuiu o passo, e, quando se aproximaram da Caixa,
Thomas viu que dezenas de garotos estavam correndo pelo pátio. Ele avistou Newt e o
chamou, tentando controlar o medo crescente, dizendo a si mesmo que tudo ficaria bem, que
devia haver uma explicação razoável.
- Newt, o que está acontecendo? - gritou.
Newt olhou de relance, depois fez um movimento com a cabeça e aproximou-se,
estranhamente calmo no meio do caos. Deu uma palmada nas costas de Thomas.
- Significa que está chegando um maldito Calouro pela Caixa. - Ele fez uma pausa como se
esperasse que Thomas ficasse impressionado. - Exatamente agora.
- E daí? - Quando Thomas observou Newt mais atentamente, percebeu que aquilo que
tomara por calma era na verdade incredulidade... talvez empolgação.
- E daí? - replicou Newt, o queixo caindo ligeiramente. - Fedelho, nunca tivemos dois
Novatos chegando no mesmo mês, muito menos em dois dias seguidos.
Depois disso, saiu correndo para a Sede.
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Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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