domingo, 16 de agosto de 2015

AMY ELLIOTT DUNNE 28 DE ABRIL DE 2011


ANOTAÇÃO EM DIÁRIO
Só é preciso continuar a continuar, é o que Mama Mo diz, e quando diz isso — sua certeza,
cada palavra enfatizada, como se realmente fosse uma estratégia de vida viável —, o clichê
deixa de ser um conjunto de palavras e se torna algo real. Valioso. Eu penso: Continue a
continuar, exatamente!
Isto é algo que eu adoro no Meio-Oeste: as pessoas não fazem drama com tudo. Nem mesmo
com a morte. Mama Mo vai simplesmente continuar a continuar até que o câncer a apague, e
então ela morrerá.
Então estou mantendo a cabeça abaixada e tirando o melhor de uma situação ruim, e digo
isso no sentido profundo e literal usado por Mama Mo. Mantenho minha cabeça baixa e faço meu
trabalho: levo Mo às consultas no médico e às sessões de quimio. Troco a água doentia do vaso
de flores no quarto do pai de Nick e deixo biscoitos para a equipe, para que cuidem bem dele.
Estou tirando o melhor de uma situação muito ruim, e a situação está ruim principalmente
porque meu marido, que me trouxe para cá, que me desenraizou para ficar mais perto de seus pais
doentes, parece ter perdido todo o interesse em mim e nos ditos pais doentes.
Nick apagou totalmente o pai: nem sequer diz o nome do homem. Sei que sempre que
recebemos um telefonema da Comfort Hill, Nick espera que seja o aviso de que seu pai está
morto. Quanto a Mo, Nick se sentou com a mãe em uma única sessão de quimio e declarou aquilo
insuportável. Disse que odiava hospitais, odiava gente doente, odiava o tempo que passava
lentamente, a bolsa de soro pingando lentamente como melado. Simplesmente não conseguia fazer
aquilo. E quando tentei convencê-lo a tentar outra vez, quando tentei fortalecê-lo com um pouco
de você precisa fazer o que tem que ser feito, ele me disse para eu mesma fazer. Então eu fiz,
tenho feito. Mama Mo, claro, assume para si a culpa de Nick. Certo dia estávamos sentadas, meio
que assistindo a uma comédia romântica em meu computador, mas principalmente conversando,
enquanto o soro pingava... tão... lentamente, e no momento em que a heroína corajosa tropeçou
em um sofá, Mo se virou para mim e disse: “Não seja muito dura com Nick. Por ele não querer
fazer este tipo de coisa. É que eu o mimei demais sempre, eu o papariquei; como não paparicar?
Aquele rosto. Então ele tem dificuldade para fazer coisas difíceis. Mas eu realmente não ligo,
Amy. Realmente.”
“Deveria ligar”, falei.
“Nick não precisa provar seu amor por mim”, retrucou, dando um tapinha na minha mão. “Eu
sei que ele me ama.”
Admiro o amor incondicional de Mo, mesmo. Então não conto a ela o que encontrei no
computador de Nick, a proposta de livro de memórias sobre um jornalista de revista de
Manhattan que retorna às suas raízes no Missouri para cuidar dos pais doentes. Nick tem todo
tipo de coisa bizarra em seu computador, e algumas vezes não consigo resistir a bisbilhotar um
pouco. Seu histórico de buscas me deu as últimas: filmes noir, o site de sua antiga revista e um
estudo sobre o rio Mississippi, se é possível ou não flutuar daqui até o Golfo. Sei o que ele
imagina: flutuar Mississippi abaixo, como Huck Finn, e escrever uma matéria sobre isso. Nick
está sempre procurando pautas.
Eu estava xeretando isso quando encontrei a proposta de livro.
Vidas duplas: Memórias de fins e começos terá apelo principalmente entre homens da
geração X, os originais homens-meninos, que estão apenas começando a sentir o estresse e as
pressões envolvidas em cuidar de pais que envelhecem. Em Vidas duplas eu detalharei:
• Minha crescente compreensão de um pai problemático e antes distante.
• Minha dolorosa transformação forçada de jovem despreocupado em chefe de família enquanto lido com a morte iminente
de uma mãe adorada.
• O ressentimento de minha esposa de Manhattan com esse desvio em sua vida antes encantada. Minha esposa, devo
mencionar, é Amy Elliott Dunne, a inspiração para a série de best-sellers Amy Exemplar.
A proposta nunca foi concluída, suponho que porque Nick se deu conta de que nunca iria
entender seu pai antes distante; porque Nick estava fugindo de todos os deveres de “chefe de
família”; e porque eu não estava expressando nenhuma fúria com minha nova vida. Um pouco de
frustração, sim, mas não uma fúria merecedora de livro. Durante tantos anos, meu marido elogiou
a solidez emocional dos nativos do Meio-Oeste: estoicos, humildes, sem afetação! Mas esse não
é o tipo de pessoa que fornece bom material para um livro de memórias. Imagine o texto das
orelhas: Pessoas basicamente se comportaram bem e depois morreram.
Ainda assim, dói um pouco, “o ressentimento de minha esposa de Manhattan”. Talvez eu me
sinta mesmo... teimosa. Penso em como Maureen é consistentemente adorável e me preocupo com
o fato de que Nick e eu talvez não devêssemos estar juntos. Que ele seria mais feliz com uma
mulher que se encanta em cuidar do marido e da casa, e não estou desprezando essas habilidades:
gostaria de tê-las. Gostaria de me preocupar mais com que Nick sempre tivesse sua pasta de
dentes preferida, de saber de cor o número do seu colarinho, de ser uma mulher que amasse
incondicionalmente e cuja maior felicidade fosse fazer seu homem feliz.
Eu fui assim, por algum tempo, com Nick. Mas era insustentável. Não sou suficientemente
abnegada. Filha única, como Nick lembra com frequência.
Mas tento. Continuo a continuar, e Nick circula pela cidade como um garoto novamente. Ele
está feliz de estar de volta a seu lugar de legítimo rei do baile de formatura — perdeu uns cinco
quilos, fez um novo corte de cabelo, comprou jeans novos, está com uma aparência ótima mesmo.
Mas só sei disso por vislumbres dele chegando ou saindo de casa, sempre com uma pressa
fingida. Você não gostaria de lá é sua resposta-padrão quando peço para ir com ele, aonde quer
que vá. Assim como ele se livrou dos pais quando não tinham mais utilidade, está me largando
porque não me encaixo em sua nova vida. Ele teria de dar duro para me deixar à vontade aqui, e
não quer fazer isso. Ele quer se divertir.
Pare com isso, pare com isso. Devo ver o lado bom. Tenho de tirar meu marido de meus
pensamentos sombrios e lançar uma boa luz dourada e alegre sobre ele. Preciso me esforçar mais
para adorá-lo como antes. Nick responde à adoração. Só gostaria que fosse mais equilibrado.
Meu cérebro está muito ocupado com pensamentos sobre Nick, é um enxame dentro da minha
cabeça: Nicknicknicknicknick! E quando imagino a mente dele, ouço meu nome como um tímido
ping cristalino que ocorre uma vez por dia, talvez duas, e some rapidamente. Só queria que ele
pensasse em mim tanto quanto penso nele.
Isso é errado? Já nem sei mais.
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Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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