quinta-feira, 20 de agosto de 2015

NICK DUNNE NOVE SEMANAS APÓS O RETORNO


Encontrei o vômito. Ela o escondera no fundo do congelador, em um pote, dentro de uma
caixa de couve-de-bruxelas. A caixa estava coberta de gelo; devia ter passado meses ali. Sei que
era sua própria piada para si mesma: Nick não vai comer seus legumes, Nick nunca limpa o
congelador, Nick não pensará em olhar aqui.
Mas Nick olhou.
Nick sabe como limpar a geladeira, no fim das contas, e Nick sabe até descongelar: joguei
aquela nojeira pelo ralo e deixei o pote no balcão para ela saber.
Ela o jogou no lixo. Não disse uma palavra sobre o assunto.
Algo está errado. Não sei o que é, mas algo está muito errado.
* * *
Minha vida começou a parecer um epílogo. Tanner pegou um novo caso: um cantor de
Nashville descobriu que a esposa o estava traindo, e o corpo dela foi encontrado no dia seguinte
em uma lata de lixo da lanchonete Hardee’s, perto da casa deles, com um martelo coberto com as
impressões digitais dele ao lado. Sei que parece ruim, mas também parecia ruim para Nick
Dunne, e vocês sabem como esse caso terminou. Quase podia senti-lo piscando para mim pelas
lentes das câmeras. Ele de vez em quando mandava uma mensagem de texto: VC TÁ BEM? Ou:
alguma nova?
Não, nada.
Boney, Go e eu nos encontramos em segredo na Pancake House, onde vasculhamos a areia
suja da história de Amy, tentando encontrar algo que possamos usar. Vasculhamos o diário, uma
elaborada caça aos anacronismos. Chegou a trivialidades desesperadas como “Ela faz um
comentário aqui sobre Darfur, alguém falava sobre isso em 2010?” (Sim, descobrimos um
fragmento de noticiário de 2006 com George Clooney discutindo isso.) Ou meu melhor pior
momento: “Amy faz uma piada em uma anotação de julho de 2008 sobre matar um mendigo, mas
acho que piadas sobre mendigos não começaram antes de 2009”. Ao que Boney retrucou: “Passe
a calda, seu maluco.”
As pessoas seguiram em frente, cuidando das próprias vidas. Boney ficou. Go ficou.
                                                            * * *
Então algo aconteceu. Meu pai finalmente morreu. De noite, dormindo. Uma mulher colocou a
última refeição em sua boca, uma mulher o colocou na cama para o último descanso, uma mulher
o limpou após a morte e uma mulher me telefonou para dar a notícia.
— Ele era um bom homem — comentou, desinteresse com uma injeção obrigatória de
empatia.
— Não, ele não era — retruquei, e ela riu como claramente não fazia havia um mês.
Pensei que me faria bem que o homem desaparecesse da Terra, mas na verdade senti um
enorme e assustador vazio se abrir em meu peito. Eu passara a vida me comparando ao meu pai,
e agora ele havia partido, e restava apenas Amy a quem combater. Depois da breve cerimônia
poeirenta e solitária, eu não fui embora com Go, fui para casa com Amy, e a puxei para junto de
mim. Isso mesmo, fui para casa com minha esposa.
Eu tenho de sair desta casa, pensei. Tenho de me desligar de Amy de uma vez por todas.
Preciso nos destruir completamente, para que eu nunca mais volte.
Quem eu seria sem você?
Eu tinha de descobrir. Tinha de contar minha própria história. Era muito claro.
* * *
Na manhã seguinte, enquanto Amy estava em seu escritório digitando, contando ao mundo sua
história Exemplar, eu levei meu laptop para baixo e olhei para a tela branca brilhante.
Inaugurei a página de abertura de meu próprio livro.
Sou um homem covarde, traidor, fraco, com medo de mulher, e sou o herói de sua história.
Porque a mulher que eu traí — minha esposa, Amy Elliott Dunne — é uma sociopata e uma
assassina.
                           Sim. Eu leria isso.
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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