quinta-feira, 20 de agosto de 2015

NICK DUNNE VINTE SEMANAS APÓS O RETORNO


Eu não me mudei. Queria que isso tudo fosse uma surpresa para minha esposa, que nunca fica
surpresa. Queria dar a ela o manuscrito enquanto saía pela porta para assinar um contrato de
livro. Deixá-la sentir aquele horror pervasivo de saber que o mundo está prestes a virar e
derramar sua merda sobre você, e você não pode fazer nada a respeito disso. Não, talvez ela
nunca vá para a prisão, e sempre será minha palavra contra a dela, mas minha tese é convincente.
Tinha apelo emocional, mesmo que não tivesse apelo legal.
Então vamos deixar todos escolherem seus lados. Equipe Nick, Equipe Amy. Fazer disso
tudo um jogo ainda maior: vender algumas malditas camisetas.
* * *
Minhas pernas tremiam quando fui contar a Amy: eu não fazia mais parte de sua história.
Mostrei a ela o original, mostrei o título gritante: Piranha psicótica. Uma pequena piada
particular. Ambos gostamos de nossas piadas particulares. Esperei que ela arranhasse minhas
bochechas, rasgasse minhas roupas, me mordesse.
— Ah! Que timing perfeito — disse ela alegremente, lançando-me um grande sorriso. —
Posso mostrar uma coisa?
* * *
Eu a obriguei a fazer novamente na minha frente. Mijar no palito, eu agachado junto a ela no
chão do banheiro, vendo a urina sair dela, acertar o palito e deixá-lo azul-grávida.
Depois a coloquei no carro, dirigi até o consultório médico e vi o sangue sair dela — porque
na verdade ela não tinha medo de sangue — e esperamos as duas horas pelo resultado do exame.
Amy estava grávida.
— Obviamente não é meu — disse eu.
— Ah, é sim — rebateu, sorrindo de volta. Ela tentou se aninhar em meus braços. —
Parabéns, papai.
— Amy... — falei, porque claro que não era verdade, eu não tocara em minha esposa desde
seu retorno.
Então vi: a caixa de lenços de papel, a poltrona de vinil, a TV e a pornografia, e meu sêmen
em um congelador de hospital por aí. Eu deixara aquele aviso de destruição na mesa, um ato
fraco de culpa, e então o aviso desapareceu, porque minha esposa agira, como sempre, e essa
ação não foi se livrar da coisa, mas guardá-la. Para uma eventualidade.
Senti uma gigantesca bolha de alegria — não pude evitar — e depois a alegria foi envolta em
um terror metálico.
— Vou precisar fazer algumas coisas pela minha segurança, Nick — informou ela. — Só
porque, tenho de dizer, é quase impossível confiar em você. Para começar, você terá de deletar
seu livro, obviamente. E só para encerrar essa questão, vamos precisar de uma declaração, e
você terá que jurar que foi você quem comprou as coisas do depósito, e escondeu as coisas no
depósito, e um dia achou que eu o estava incriminando, mas que agora você me ama, eu o amo, e
tudo está bem.
— E se eu me recusar?
Ela colocou a mão em sua pequena barriga inchada e franziu a testa.
— Acho que isso seria horrível.
Havíamos passado anos lutando pelo controle de nosso casamento, de nossa história de amor,
nossa história de vida. Eu havia sido inteiramente, finalmente derrotado. Eu criara um
manuscrito, e ela criara uma vida.
Eu poderia lutar pela custódia, mas já sabia que iria perder. Amy adoraria a batalha — Deus
sabe o que ela já teria preparado. Quando tivesse terminado, eu não seria sequer o pai de fins de
semana alternados; iria interagir com meu filho em salas estranhas com um guardião por perto
tomando café, me vigiando. Ou talvez nem isso. De repente, pude ver as acusações — de abuso e
agressão —, e nunca veria meu bebê, e saberia que meu filho havia sido tirado de mim, a mãe
sussurrando, sussurrando mentiras naquela pequena orelha cor-de-rosa.
— É menino, aliás — contou.
Finalmente eu era um prisioneiro. Amy tinha me prendido para sempre, ou pelo tempo que
quisesse, porque eu precisava salvar meu filho, tentar desenganchar, desamarrar, desfarpear,
desfazer tudo que Amy fizesse. Eu literalmente abriria mão de minha vida pelo meu filho, e faria
isso com alegria. Iria criar meu filho para ser um homem bom.
Deletei minha história.
* * *
Boney atendeu ao primeiro toque.
— Pancake House? Vinte minutos? — perguntou.
— Não.
Informei a Rhonda Boney que eu ia ser pai e então não poderia mais colaborar com qualquer
investigação — que na verdade eu estava planejando retirar qualquer declaração que tivesse
feito referente à crença equivocada de que minha esposa havia me incriminado, e também estava
pronto a admitir minha responsabilidade pelos cartões de crédito.
Uma longa pausa na linha.
— Hã — disse ela. — Hã.
Eu podia imaginar Boney passando a mão pelos cabelos escorridos, mordendo a parte de
dentro da bochecha.
— Cuide-se, está bem, Nick? — falou por fim. — E cuide do pequenino também. Então riu:
— Quanto a Amy, eu realmente estou cagando para ela.
Fui até a casa de Go para contar a ela cara a cara. Tentei apresentar a coisa como uma boa
notícia. Um bebê, não dá para ficar tão chateado com um bebê. Você pode odiar uma situação,
mas não pode odiar uma criança.
Achei que Go fosse me bater. Ela chegou tão perto de mim que pude sentir sua respiração.
Ela me golpeou com um indicador.
— Você só quer uma desculpa para ficar — sussurrou. — Vocês dois, vocês são viciados um
no outro, merda. Vocês vão ser literalmente uma família nuclear, sabe disso? Vocês vão
explodir. Vocês vão detonar, caralho. Você acha mesmo que tem como fazer isso, o que, pelos
próximos dezoito anos? Acha que ela não vai matar você?
— Não enquanto eu for o homem com quem ela se casou. Não fui por algum tempo, mas
posso ser.
— Você acha que você não vai matá-la? Quer se transformar no nosso pai?
— Você não entende, Go? Essa é minha garantia de não me transformar no papai. Terei de
ser o melhor marido e pai do mundo.
Minha irmã então irrompeu em lágrimas — a primeira vez que eu a via chorar desde que era
criança. Ela se sentou no chão de uma vez, como se suas pernas tivessem fraquejado. Eu me
sentei ao lado dela e apoiei a cabeça na sua. Ela finalmente engoliu o último soluço e olhou para
mim.
— Lembra quando eu disse, Nick, que ainda o amaria se? Eu o amaria não importava o que
viesse depois do se?
— Sim.
— Bem, eu ainda amo. Mas isso parte meu coração — falou, soltando um soluço terrível, de
criança. — As coisas não deviam terminar assim.
— É um estranho desdobramento — comentei, tentando soar leve.
— Ela não vai tentar separar a gente, vai?
— Não — respondi. — Lembre-se, ela também está fingindo ser uma pessoa melhor.
* * *
Sim, eu finalmente sou páreo para Amy. Certa manhã, acordei junto a ela e estudei a parte de
trás de seu crânio. Tentei ler seus pensamentos. Pela primeira vez não tive a sensação de que eu
estava olhando para o sol. Estou me elevando ao grau de loucura de minha esposa. Porque posso
senti-la me mudando mais uma vez: eu era um garoto imaturo, depois fui um homem, bom e mau.
Agora finalmente sou o herói. Sou aquele por quem torcer na interminável história de guerra de
nosso casamento. É uma história com a qual posso conviver. Caramba, a esta altura não consigo
imaginar minha história sem Amy. Ela é  minha eterna antagonista. Somos um longo clímax assustador.
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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