BEM-VINDO AO MEU CRÂNIO.
Um caminhão passa por cima dos ossos do meu pescoço e da minha cabeça. As vértebras se
rompem, o cérebro estala e vaza. Milhares de lanternas piscam em meus olhos. O mundo se
inclina.
Eu vomito. Perco os sentidos.
Isso acontece o tempo todo. Não passa de um dia comum.
A dor começou seis semanas depois do acidente. Ninguém tinha certeza se as duas coisas
estavam relacionadas, mas não havia como negar o vômito, a perda de peso e o horror em
geral.
Minha mãe me levou para fazer ressonâncias magnéticas e tomografias. Agulhas, máquinas.
Mais agulhas, mais máquinas. Fizeram exames procurando um tumor no cérebro, meningite.
Tudo. Para aliviar a dor, receitaram esse medicamento e aquele medicamento e aquele outro
medicamento, porque o primeiro não funcionou e o segundo tampouco. Passaram uma receita
atrás da outra sem saber o que havia de errado. Apenas tentando domar a dor.
Cadence, disseram os médicos, não exagere.
Cadence, disseram os médicos, observe sinais de dependência.
Mas também: Cadence, não se esqueça de tomar os remédios.
Eram tantas consultas que nem consigo lembrar. Depois de um tempo, os médicos chegaram
a um diagnóstico. Cadence Sinclair Eastman: cefaleia pós-traumática, também conhecida
como CPT. Enxaquecas causadas por lesão cerebral.
Eu vou ficar bem, dizem.
Não vou morrer.
Só vai doer muito.
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