terça-feira, 28 de abril de 2015

14



APÓS UM ANO NO COLORADO, meu pai quis me ver novamente. Na verdade, ele insistiu em me
levar para Itália, França, Alemanha, Espanha e Escócia — uma viagem de dez semanas em
meados de junho, o que significava que eu não iria a Beechwood no verão dos dezesseis.
— Essa viagem veio na hora certa — disse minha mãe, radiante, enquanto arrumava minha
mala.
— Por quê? — Eu fico deitada no chão do quarto enquanto ela faz o trabalho. Minha cabeça
dói.
— Seu avô está reformando Clairmont. — Ela fez bolas com as meias. — Já falei um
milhão de vezes.
Eu não lembrava.
— Por quê?
— Coisas da cabeça dele. Vai passar o verão em Windemere.
— Você vai com ele?
Minha mãe fez que sim com a cabeça.
— Ele não pode ficar com Bess nem com Carrie. E você sabe que precisa de cuidados.
Seja como for, você vai aprender muita coisa na Europa.
— Prefiro ir para Beechwood.
— Não, não prefere — ela disse, firme.
NA EUROPA, vomitei em pequenos baldes e escovei os dentes repetidamente com a pasta de
dente britânica de consistência áspera. Deitei de bruços no chão do banheiro de vários
museus, sentindo o piso frio sob o rosto enquanto meu cérebro se liquefazia e saía pelo
ouvido, borbulhando. Enxaquecas espalhavam meu sangue sobre os estranhos lençóis de hotel,
no chão, nos carpetes, em sobras de croissants e florentinas.
Eu podia ouvir meu pai me chamando, mas nunca respondia antes de o remédio fazer efeito.
Senti falta dos Mentirosos naquele verão.
Nunca mantínhamos contato durante o ano. Não muito, pelo menos, embora tivéssemos
tentado quando éramos mais novos. Trocávamos mensagens, marcávamos uns aos outros em
fotos do verão, principalmente em setembro, mas sempre íamos nos afastando depois de um ou
dois meses. De certo modo, a magia de Beechwood nunca foi transportada para nosso
cotidiano. Não queríamos saber dos amigos da escola, clubes e times uns dos outros.
Sabíamos que nossa afeição seria renovada quando nos víssemos no cais no mês de junho do
ano seguinte, o ar salgado, o sol refletindo na água.
Mas no ano posterior ao acidente, perdi dias e até semanas de aula. Fui mal em várias
matérias e o diretor me informou que eu teria de repetir o terceiro ano. Parei de jogar futebol e
tênis. Não podia trabalhar como babá. Não podia dirigir. Os amigos que tinha acabaram
virando apenas conhecidos.
Mandei algumas mensagens de texto para Mirren. Liguei e deixei recados dos quais depois
senti vergonha, tamanho o teor solitário e carente.
Liguei para Johnny também, mas sua caixa de mensagens estava lotada.
Resolvi não ligar mais. Não queria ficar dizendo coisas que fizessem me sentir fraca.
Quando meu pai me levou para a Europa, eu sabia que os Mentirosos estavam na ilha. Meu
avô não tinha instalado internet em Beechwood e não havia sinal de celular por lá, mas
comecei a escrever e-mails. Diferente das minhas lastimáveis mensagens de voz, esses eram
recados charmosos e encantadores de uma pessoa sem dores de cabeça.
Na maior parte do tempo.
Mirren!
Mando um oi de Barcelona, onde meu pai comeu sopa de caracol.
No hotel, tudo é dourado. Até os saleiros. É gloriosamente odioso.
Escreva contando as malcriações dos pequenos, em quais faculdades você vai se inscrever e se encontrou o amor
verdadeiro.
Cadence
Johnny!
Bonjour de Paris, onde meu pai comeu rã.
Vi a Vitória de Samotrácia. Corpo extraordinário. Sem braços.
Estou com saudade de vocês. Como está Gat?
Cadence
Mirren!
Olá de um castelo na Escócia, onde meu pai comeu haggis. Ou seja, meu pai comeu coração, fígado e pulmões de
carneiro misturados com aveia e cozidos em um estômago.
Você sabe, ele é o tipo de pessoa que devora corações.
Cadence
Johnny!
Estou em Berlim, onde meu pai comeu morcela.
Mergulhe por mim. Coma torta de mirtilo. Jogue tênis. Acenda uma fogueira. Depois me conte. Estou extremamente
entediada e inventarei castigos criativos se você não colaborar.
Cadence
NÃO FIQUEI TOTALMENTE SURPRESA quando eles não responderam. Além do fato de que, para
acessar a internet, precisariam ir até Martha’s Vineyard, Beechwood é praticamente um mundo
à parte. Uma vez lá, o resto do universo parece um sonho desagradável.
A Europa talvez nem existisse
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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