terça-feira, 28 de abril de 2015

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EU, JOHNNY, MIRREN E GAT. Gat, Mirren, Johnny e eu.
A família se refere a nós quatro como os Mentirosos, e é provável que mereçamos. Temos
quase a mesma idade, e todos fazemos aniversário no outono. Quase todos os anos causamos
problemas na ilha.
Gat começou a ir para Beechwood quando tínhamos oito anos. No verão dos oito, como
dizíamos.
Antes disso, Mirren, Johnny e eu não éramos Mentirosos. Éramos apenas primos, e Johnny
era um chato porque não gostava de brincar com meninas.
Johnny é estalo, iniciativa e sarcasmo. Na época, pendurava nossas Barbies pelo pescoço
ou atirava na gente com armas de Lego.
Mirren é açúcar, curiosidade e chuva. Na época, passava longas tardes com Taft e as
gêmeas, mergulhando na praia maior enquanto eu desenhava em papel quadriculado e lia na
rede da varanda da Clairmont.
Então Gat veio passar os verões conosco.
O marido da tia Carrie a deixou quando ela estava grávida do irmão de Johnny, Will. Não
sei o que aconteceu. A família nunca fala disso. No verão dos oito, Will era bebê e Carrie já
estava com Ed.
Esse Ed era um comerciante de arte e adorava crianças. Isso era tudo o que sabíamos sobre
ele quando Carrie anunciou que o levaria para Beechwood com Johnny e o bebê.
Eles foram os últimos a chegar naquele verão e quase todos estávamos no cais esperando o
barco se aproximar. Meu avô me levantou para que eu pudesse acenar para Johnny, que usava
um colete salva-vidas laranja e gritava na proa.
Vovó Tipper estava ao nosso lado. Ela desviou os olhos do barco por um instante, colocou a
mão no bolso e tirou uma bala de menta. Desembalou-a e colocou na minha boca.
Quando voltou a olhar para o barco, o rosto de vovó mudou. Apertei os olhos para enxergar
o que ela via.
Carrie desceu com Will no colo. Ele usava um colete salva-vidas amarelo para bebês e não
dava para ver muito mais do que alguns fios de cabelo loiro quase branco por cima. Ficamos
felizes quando o vimos. Aquele colete, que todos havíamos usado quando bebês. O cabelo.
Como era maravilhoso que aquele menininho que ainda nem conhecíamos fosse, de maneira
tão óbvia, um Sinclair.
Johnny saltou do barco e jogou o colete sobre o cais. A primeira coisa que fez foi correr até
Mirren e chutá-la. Depois me chutou. Chutou as gêmeas. Foi até nossos avós e endireitou o
corpo.
— É bom ver vocês, vovó e vovô. Estou ansioso por um verão feliz.
Tipper o abraçou.
— Sua mãe pediu para falar isso, não pediu?
— Pediu — respondeu Johnny. — E quero dizer que é um prazer ver a senhora de novo.
— Bom menino.
— Posso ir agora?
Tipper beijou seu rosto sardento.
— Vá.
Ed desceu depois de Johnny, parando para ajudar a tripulação a descarregar a bagagem do
barco a motor. Ele era alto e magro. Sua pele era muito escura — tinha ascendência indiana,
depois ficamos sabendo. Usava óculos de armação preta e roupas alinhadas e urbanas: um
terno de linho e camisa listrada. A calça estava amassada da viagem.
Meu avô me colocou no chão.
A boca da vovó Tipper formou uma linha séria. Depois ela mostrou todos os dentes e deu
um passo à frente.
— Você deve ser o Ed. Que surpresa agradável.
Ele apertou a mão dela.
— Carrie não avisou que eu vinha?
— É claro que avisou.
Ed olhou para nossa família extremamente branca. Virou-se para Carrie e perguntou:
— Onde está Gat?
Chamaram por ele, que saiu do barco tirando o colete salva-vidas, olhando para baixo para
soltar as fivelas.
— Mãe, pai — disse Carrie —, trouxemos o sobrinho do Ed para brincar com Johnny. O
nome dele é Gat Patil.
Meu avô estendeu o braço e deu um tapinha na cabeça de Gat.
— Olá, meu jovem.
— Olá.
— O pai dele faleceu este ano — explicou Carrie. — Ele e Johnny são melhores amigos.
Vai ser de grande ajuda para a irmã de Ed se ficarmos com ele por algumas semanas. E, Gat,
você vai poder fazer piquenique e nadar como conversamos. Está bem?
Mas Gat não respondeu. Estava olhando para mim.
Seu nariz era grande, a boca, meiga. Pele bem morena, cabelo preto e ondulado. Corpo
carregado de energia. Parecia que alguém tinha dado corda nele. Como se procurasse alguma
coisa. Era todo contemplação e entusiasmo. Ambição e café forte. Eu poderia ficar olhando
Gat para sempre.
Nossos olhares se encontraram.
Eu me virei e saí correndo.
Gat foi atrás. Dava para ouvir seus pés me seguindo pelas passagens de madeira que
cruzavam a ilha.
Continuei correndo. Ele continuou seguindo.
Johnny perseguia Gat. E Mirren perseguia Johnny.
Os adultos continuaram conversando no cais, cercando Ed com educação, babando sobre o
bebê Will. Os pequenos faziam seja lá o que os pequenos fazem.
Nós quatro paramos de correr na praia pequena perto de Cuddledown. É uma pequena faixa
de areia com pedras altas dos dois lados. Ninguém ia muito lá naquela época. A praia maior
tinha areia mais fofa e menos algas.
Mirren tirou os sapatos e nós todos fizemos o mesmo. Jogamos pedras na água. Só
existíamos.
Escrevi nossos nomes na areia.
Cadence, Mirren, Johnny e Gat.
Gat, Johnny, Mirren e Cadence.
Foi o nosso começo.
JOHNNY IMPLOROU para que Gat pudesse ficar mais tempo.
Ele conseguiu o que queria.
No ano seguinte, implorou para que ele viesse passar o verão inteiro.
Gat veio.
Johnny era o neto mais velho. Meus avós quase nunca diziam não para Johnny.
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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