terça-feira, 28 de abril de 2015

45



NO INÍCIO DA MINHA SEGUNDA SEMANA em Beechwood, descobrimos o telhado de Cuddledown.
É fácil subir lá; só não tínhamos feito antes porque era preciso passar pela janela do quarto da
tia Bess.
O telhado é muito frio à noite, mas durante o dia proporciona uma ótima vista da ilha e do
mar. Posso enxergar além das árvores que cercam Cuddledown, até a nova Clairmont e seu
jardim. Dá até para ver dentro da casa, que tem janelas do chão ao teto em muitos cômodos do
térreo. Dá para ver um pouco de Red Gate também, e na outra direção, Windemere e a baía.
Naquela primeira tarde, espalhamos comida sobre uma antiga toalha de piquenique.
Comemos pão doce e queijos cremosos que vinham em pequenas caixas de madeira. Frutas
silvestres em embalagens de papelão verde. Garrafas geladas de limonada com gás.
Decidimos vir aqui todos os dias. O verão todo. Esse telhado é o melhor lugar do mundo.
— Se eu morrer — digo enquanto olhamos a paisagem. — Quer dizer, quando eu morrer,
joguem minhas cinzas nas águas da praia pequena. Então, quando sentirem minha falta, podem
subir aqui, olhar para baixo e pensar em como eu era incrível.
— Ou podemos descer e nadar em você — diz Johnny. — Se sentirmos muito sua falta.
— Eca.
— Foi você que quis ser jogada na água da praia pequena.
— Eu só quis dizer que adoro isso aqui. Seria um ótimo lugar para minhas cinzas.
— É — diz Johnny. — Seria.
Mirren e Gat ficaram em silêncio, comendo avelãs cobertas com chocolate de uma tigela de
cerâmica azul.
— Esse não é um bom assunto — diz Mirren.
— Tudo bem — diz Johnny.
— E não quero minhas cinzas aqui — diz Gat.
— Por que não? — pergunto. — Podíamos ficar todos juntos na praia pequena.
— E os pequenos vão poder nadar em nós! — grita Johnny.
— Você está me deixando com nojo — retruca Mirren.
— Não é muito diferente de todas as vezes que fiz xixi lá — diz Johnny.
— Eca.
— Ah, o que é isso…? todo mundo faz xixi lá.
— Eu não faço — diz Mirren.
— Faz sim — ele afirma. — Se a água da praia pequena não é feita de xixi, depois de todos
esses anos, algumas cinzas não vão estragá-la.
— Vocês já pensaram em seu funeral? — pergunto.
— Do que está falando? — Johnny franze o nariz.
— Vocês sabem, em Tom Sawyer, quando todo mundo acha que Tom, Huck e… qual é o
nome dele?
— Joe Harper — diz Gat.
— Sim, eles acham que Tom, Huck e Joe Harper estão mortos. Eles vão ao próprio funeral
e escutam todas as lembranças boas que o pessoal da cidade tem deles. Depois que li isso,
sempre penso no meu próprio funeral. Por exemplo, o tipo de flor, onde quero minhas cinzas.
E o discurso também, dizendo como eu era transcendentalmente incrível e ganhei o prêmio
Nobel e uma medalha olímpica.
— E você ganhou uma medalha olímpica em qual esporte? — pergunta Gat.
— Talvez handebol.
— Tem handebol nas olimpíadas?
— Tem.
— E você joga handebol?
— Ainda não.
— É melhor começar.
— A maioria das pessoas planeja o casamento — diz Mirren. — Eu costumava planejar o
meu.
— Homens não planejam casamento — diz Johnny.
— Se eu me casasse com Drake, as flores todas seriam amarelas — diz Mirren. — Flores
amarelas por todo lado. E um vestido de primavera amarelo, como um vestido de casamento
normal, só que amarelo. E ele usaria uma faixa amarela na cintura.
— Ele teria que te amar muito, muito, para usar uma faixa amarela na cintura — digo a ela.
— É — diz Mirren. — Mas o Drake usaria.
— Vou dizer o que não quero no meu funeral — diz Johnny. — Não quero um monte de
gente do mundo artístico de Nova York, que nem me conhece, em um salão idiota.
— Eu não quero religiosos falando de um Deus em que não acredito — diz Gat.
— Ou um bando de garotas falsas agindo como se estivessem tristes e depois passando
batom e arrumando o cabelo no banheiro — diz Mirren.
— Minha nossa — eu ironizo. — Vocês falam como se funerais não fossem divertidos.
— Sério, Cady — diz Mirren. — Você devia planejar seu casamento, não seu funeral. Pare
de ser mórbida.
— E se eu nunca me casar? E se eu não quiser me casar?
— Planeje o lançamento do seu livro, então. Ou a abertura da sua exposição de arte.
— Ela vai ganhar uma medalha olímpica e o prêmio Nobel — diz Gat. — Pode planejar
comemorações para essas coisas.
— Está bem — eu digo. — Vamos planejar a festa da minha medalha olímpica no handebol.
Se isso deixa vocês felizes.
Então fazemos isso. Bolas de handebol cobertas de pasta americana azul. Um vestido
dourado para mim. Taças de champanhe com pequenas bolas douradas dentro. Discutimos se
as pessoas usam ou não óculos esquisitos para jogar handebol, como no raquetebol, e
resolvemos que, na festa, elas usam. Todos os convidados usarão óculos de handebol o tempo
todo.
— Você joga em um time de handebol? — pergunta Gat. — Quer dizer, haverá toda uma
equipe de deusas do handebol lá, comemorando a vitória com você? Ou você ganhou sozinha?
— Não tenho ideia.
— Você precisa mesmo começar a pesquisar sobre isso — diz Gat. — Ou nunca vai ganhar
o ouro. Teremos que repensar toda a festa se você for prata.
A VIDA PARECE BELA nesse dia.
Nós quatro, os Mentirosos, sempre fomos.
Sempre seremos.
Independentemente do que acontecer quando formos para a faculdade, ficarmos mais
velhos, construirmos nossas vidas; independentemente de eu e Gat estarmos ou não juntos.
Independentemente de onde estivermos, sempre poderemos nos reunir no telhado de
Cuddledown e olhar para o mar.
Essa ilha é nossa. Aqui, de certo modo, somos jovens para sempre.
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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