NO VERÃO DOS QUINZE, cheguei uma semana depois dos outros. Meu pai tinha ido embora e
minha mãe e eu tínhamos todas aquelas compras para fazer, visitas ao decorador e tudo mais.
Johnny e Mirren nos encontraram no cais, bochechas rosadas, cheios de planos para o
verão. Estavam preparando um torneio de tênis para toda a família e tinham separado receitas
de sorvete. Íamos sair para velejar, acender fogueira.
Os pequenos estavam agitados e berravam como sempre. As tias davam sorrisos frios.
Depois do alvoroço da chegada, todos foram a Clairmont para drinques antes do jantar.
Eu fui para Red Gate procurar Gat. Red Gate é uma casa muito menor que Clairmont, mas
ainda tem quatro quartos no andar de cima. É onde Johnny, Gat e Will ficavam com a tia
Carrie — e com Ed, quando ele estava lá, o que não era muito frequente.
Fui até a porta da cozinha e olhei pela tela. Gat não me viu. Estava parado junto à bancada,
usando uma camiseta cinza desgastada e jeans. Seus ombros estavam mais largos do que eu
lembrava.
Ele desamarrou uma flor seca que estava pendurada de cabeça para baixo na janela sobre a
pia. Era uma rosa japonesa pink e de formas vagas, provavelmente da costa de Beechwood.
Gat, meu Gat. Ele tinha colhido para mim uma rosa de nosso local preferido para caminhar.
Tinha pendurado a flor para secar e esperado eu chegar à ilha para me entregar.
Eu já tinha beijado um ou três garotos irrelevantes a essa altura.
Tinha perdido meu pai.
Tinha saído de uma casa cheia de lágrimas e falsidade e ido para a ilha.
E eu vi Gat,
e vi aquela rosa na mão dele,
e, naquele momento, com a luz do sol entrando pela janela e brilhando sobre ele,
as maçãs sobre a bancada da cozinha,
o cheiro de madeira e maresia no ar,
eu rotulei de amor.
Era amor, e me atingiu com tanta força que me inclinei junto à porta de tela ainda entre nós
para me manter de pé. Queria tocar nele como se fosse um coelhinho, um gatinho, algo tão
especial e macio que seria difícil manter os dedos longe. O universo era bom porque ele
existia. Eu amava o rasgo em seu jeans e a sujeira em seus pés descalços e a ferida em seu
cotovelo e a cicatriz que atravessava uma sobrancelha. Gat, meu Gat.
Enquanto ficava ali parada, olhando, ele guardou a rosa em um envelope. Procurou uma
caneta, abrindo e fechando gavetas ruidosamente, então encontrou uma no próprio bolso e
escreveu.
Não me dei conta de que estava escrevendo um endereço até ele pegar um rolo de selos de
uma gaveta da cozinha.
Gat selou o envelope. Escreveu o endereço do remetente.
Não era para mim.
Saí da porta de Red Gate antes que ele me visse e corri pela trilha da costa. Observei o céu
escurecer, sozinha.
Arranquei todas as rosas de um arbusto infeliz e as joguei, uma atrás da outra, no mar
colérico.
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