terça-feira, 28 de abril de 2015

64



GAT E EU fomos para a quadra de tênis alguns dias depois da briga com minha mãe. Jogamos
bolas para Fatima e Príncipe Philip em silêncio.
Finalmente, ele disse:
— Você já percebeu que Harris nunca me chama pelo nome?
— Não.
— Ele me chama de “meu jovem”. Tipo, “Como foi o ano na escola, meu jovem?”.
— Por quê?
— Parece que, se me chamasse de Gat, estaria na verdade dizendo: “Como foi o ano na
escola, garoto indiano cujo tio indiano vive em pecado com minha filha branca e pura? Garoto
indiano que peguei beijando minha preciosa Cadence?”.
— Acha que é isso que ele está pensando?
— Ele não me suporta — disse Gat. — Não mesmo. Pode gostar de mim como pessoa,
pode até gostar do Ed, mas não é capaz de dizer meu nome nem de olhar nos meus olhos.
Era verdade. Agora que ele tinha dito, eu percebia.
— Não estou dizendo que ele quer ser o cara que só gosta de gente branca — Gat
continuou. — Ele sabe que não deve ser esse cara. Ele é democrata, votou no Obama, mas
isso não quer dizer que se sinta confortável tendo pessoas de cor dentro de sua bela família.
— Gat sacudiu a cabeça. — Ele é falso com a gente. Não gosta da ideia de Carrie estar com
meu tio. Ele nem chama Ed de Ed. Chama de “senhor”. E faz questão de lembrar que sou um
forasteiro sempre que aparece uma chance. — Gat acariciou as orelhas macias de Fatima. —
Você viu como foi aquele dia no sótão. Ele quer que eu fique bem longe de você.
Eu não tinha enxergado a interrupção do meu avô dessa forma. Tinha achado que ele havia
ficado constrangido ao pegar a gente se beijando.
Mas agora, de repente, entendi o que tinha acontecido.
Cuidado, meu jovem, meu avô tinha dito. Cuidado com a cabeça. Você pode se machucar.
Era outra ameaça.
— Sabia que meu tio pediu Carrie em casamento no outono? — Gat perguntou.
Fiz que não com a cabeça.
— Eles estão juntos há quase nove anos. Ele é como um pai para Johnny e Will. Ele se
ajoelhou e a pediu em casamento, Cady. Eu, Johnny e Will estávamos lá, e a minha mãe.
Decorou o apartamento com velas e rosas. Todos nos vestimos de branco e havia comida de
um restaurante italiano que Carrie adora. Ele colocou Mozart para tocar. Johnny e eu até
perguntamos o motivo de tudo aquilo. Ela mora com você, cara. Mas meu tio estava nervoso.
Ele comprou um anel de diamantes. Bem, aí ela chegou e nós quatro ficamos escondidos no
quarto do Will. Era para sairmos correndo e desejando felicidades. Mas Carrie disse não.
— Achei que eles não quisessem casar.
— Meu tio quer. Carrie não quer arriscar sua herança idiota — Gat disse.
— Ela ao menos perguntou ao meu avô?
— Aí é que está — disse Gat. — Todo mundo sempre consulta Harris para tudo. Por que
uma mulher adulta tem que pedir aprovação do pai para se casar?
— Meu avô não a impediria.
— Não — disse Gat. — Mas, quando Carrie foi morar com Ed, Harris deixou claro que
todo o dinheiro que seria destinado a ela desapareceria se casasse com ele. A questão é que
Harris não gosta da cor do meu tio. Ele é um cretino racista, assim como Tipper era. Sim, eu
gosto dos dois por uma série de razões, e eles sempre foram mais do que generosos me
deixando vir para cá todo verão. Estou disposto até a achar que Harris nem percebe por que
não gosta do meu tio, mas o fato é que não gosta o suficiente para deserdar sua filha mais
velha.
Gat suspirou. Eu adorava a curva de seu queixo, o buraco em sua camiseta e os bilhetes que
escrevia para mim, o modo como sua cabeça funcionava, como ele movimentava as mãos
enquanto falava. Imaginava, na época, que o conhecia completamente.
Eu me aproximei e o beijei. Ainda parecia tão mágico poder fazer aquilo, e o fato de ser
correspondida. Tão mágico que mostrássemos nossas fraquezas um ao outro, nossos medos e
nossa fragilidade.
— Por que nunca falamos sobre isso? — sussurrei.
Gat me beijou novamente.
— Eu amo esse lugar — ele disse. — A ilha. Johnny e Mirren. As casas e o som do mar.
Você.
— Eu também.
— Parte de mim não quer estragar tudo isso. Não quer nem imaginar que não seja perfeito.
Entendi como ele se sentia.
Ou achei que entendesse.
Gat e eu descemos até a costa, depois caminhamos até uma grande pedra lisa de frente para
o porto. A água batia no litoral. Nós nos abraçamos, tiramos parte da roupa e esquecemos,
pelo maior tempo possível, todos os detalhes horríveis da bela família Sinclair.
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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