ERA UMA VEZ um mercador rico que tinha três lindas filhas. Ele as paparicava tanto que
as duas meninas mais novas passavam quase o dia todo apreciando a própria beleza diante
do espelho e beliscando as bochechas para deixá-las rosadas.
Um dia o mercador teve que partir em uma jornada. “O que devo trazer para vocês
quando voltar?”, ele perguntou.
A filha mais nova pediu vestidos de seda e renda.
A filha do meio pediu rubis e esmeraldas.
A filha mais velha pediu apenas uma rosa.
O mercador ficou fora durante vários meses. Para a filha mais nova, encheu um baú com
vestidos de todas as cores. Para a filha do meio, vasculhou os mercados em busca de joias.
Mas, apenas quando já estava perto de casa, lembrou-se da promessa de levar uma rosa
para a filha mais velha.
Ele encontrou uma grande cerca de ferro que se estendia ao longo da estrada. Ao longe
ficava uma mansão escura, e ele ficou satisfeito ao ver uma roseira cheia de flores
vermelhas. Várias delas estavam ao seu alcance.
Cortar a flor levou um minuto. O mercador estava guardando a rosa em seu alforje
quando um rugido zangado o impediu.
Um sujeito coberto por um manto apareceu onde o mercador tinha certeza de que não
havia ninguém um segundo antes. Ele era enorme e falava com uma voz muito grave. “Está
pegando algo meu sem nenhuma intenção de pagamento?”
“Quem é você?”, o mercador perguntou, tremendo.
“Basta dizer que sou aquele de quem você roubou.”
O mercador explicou que havia prometido uma rosa à filha depois de uma longa viagem.
“Pode ficar com sua rosa roubada”, disse o sujeito, “mas, em troca, terá de me dar a
primeira de suas riquezas que vir ao retornar.” Ele então tirou o capuz e revelou o rosto de
uma fera horrenda, cheia de dentes, com um focinho. Um javali selvagem misturado com um
chacal.
“Você me importunou uma vez”, disse a fera. “Morrerá se me importunar novamente.”
O mercador voltou para casa tão rápido quanto seu cavalo podia correr. Ainda estava a
um quilômetro de distância quando viu sua filha mais velha esperando por ele na estrada.
“Tivemos notícias de que chegaria hoje à noite!”, ela gritou, correndo para os braços dele.
Ela era a primeira de suas riquezas que ele viu ao retornar. Agora sabia o preço que a
fera havia exigido.
E depois?
Todos sabemos que a Bela acabou amando a Fera. Ela acaba se apaixonando por ele,
independentemente do que sua família pudesse achar, por seu charme, sua educação, seu
conhecimento de arte e seu coração sensível.
Na verdade, ele é humano e sempre foi. Nunca foi nenhum javali ou chacal. Era apenas
uma ilusão repugnante.
O problema é que é extremamente difícil convencer o pai disso.
Ele vê as presas e o focinho, ouve o terrível rugido, sempre que a Bela leva seu novo
marido para visitá-lo. Não importa o quanto ele seja civilizado e erudito. Não importa o
quanto seja gentil.
O pai vê um animal selvagem, e sua repugnância sempre estará ali
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