ERA UMA VEZ um rei que tinha três lindas filhas.
Não, não, espere.
Era uma vez três ursos que moravam em uma casinha na floresta.
Era uma vez três cabritos que moravam perto de uma ponte.
Era uma vez três soldados, vagando juntos pelas estradas depois da guerra.
Era uma vez três porquinhos.
Era uma vez três irmãos.
Não, é isso. É essa variação que eu quero.
Era uma vez três lindas crianças, dois meninos e uma menina. Quando cada um dos
bebês nasceu, os pais ficaram exultantes, os céus ficaram exultantes, até mesmo as fadas
ficaram exultantes. Elas compareceram às festas de batismo e deram aos bebês dons
mágicos.
Estalo, iniciativa e sarcasmo.
Contemplação e entusiasmo. Ambição e café forte.
Açúcar, curiosidade e chuva.
E também tinha uma bruxa.
Sempre tem uma bruxa.
A bruxa tinha a mesma idade das lindas crianças, e conforme ela e eles cresciam, tinha
cada vez mais inveja da menina, e dos meninos também. Eles haviam sido agraciados com
todos esses dons fantásticos, dons que haviam sido negados à bruxa em seu próprio
batismo.
O menino mais velho era forte e veloz, talentoso e bonito. Embora fosse extremamente
baixo.
O outro menino era estudioso e sincero. Embora fosse um forasteiro.
E a menina era esperta, generosa e ética. Embora se sentisse impotente.
A bruxa não era nada disso, pois seus pais haviam irritado as fadas. Nenhum dom lhe
fora concedido. Ela era solitária. Seu único poder era sua magia negra e repugnante.
Ela confundia ser frugal com ser caridosa, e doava seus bens sem fazer o bem com eles.
Confundia estar doente com ser corajosa, e agonizava imaginando ser digna de louvor
por isso.
Confundia sagacidade com inteligência, e fazia as pessoas rirem em vez de tirar o peso
de seu coração ou fazê-las raciocinar.
Sua magia era tudo o que tinha, e ela a usava para destruir o que mais admirava.
Visitava todos os jovens por volta de seu décimo aniversário, mas não lhes fazia mal
imediatamente. A proteção de algum tipo de fada — a fada lilás, talvez — impedia que
fizesse isso.
Então, ela os amaldiçoava.
“Quando você completar dezesseis anos”, proclamava a bruxa com uma onda de inveja.
“Quando todos nós completarmos dezesseis anos”, ela disse àquelas lindas crianças, “vão
espetar o dedo no fuso de uma roca de fiar — não, vão riscar um fósforo. Sim, vão riscar
um fósforo e morrer nas chamas.”
Os pais das lindas crianças ficaram assustados com a maldição e tentaram, como
qualquer um faria, evitá-la. Mudaram-se com as crianças para bem longe, para um castelo
em uma ilha exposta ao vento. Um castelo onde não havia fósforos.
Lá, certamente, estariam seguros.
Lá, certamente, a bruxa nunca os encontraria.
Mas ela os encontrou. E, quando estavam com quinze anos, pouco antes de completar
dezesseis, quando seus pais ainda não estavam esperando, a bruxa invejosa inseriu sua
abominável e perigosa figura na vida deles na forma de uma criada loira.
A criada fez amizade com elas. Ela os beijou e os levou para passear de barco e comprou
doces para elas e lhes contou histórias.
Então lhes deu uma caixa de fósforos.
As crianças ficaram hipnotizadas, pois, prestes a completar dezesseis anos, nunca tinham
visto fogo.
Vamos lá, risquem o palito, disse a bruxa, sorrindo. O fogo é belo. Nada de ruim vai
acontecer.
Vamos lá, ela disse, as chamas vão purificar sua alma.
Vamos lá, ela disse, pois vocês podem pensar por si próprios.
Vamos lá, ela disse, de que vale a vida se não agirmos?
E eles deram ouvidos a ela.
Pegaram os fósforos e os riscaram. A bruxa observou a beleza deles queimando,
o estalo,
a inteligência,
a esperteza,
a sinceridade,
o charme,
os sonhos para o futuro.
Ela viu tudo desaparecer na fumaça
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