terça-feira, 28 de abril de 2015

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ERA UMA VEZ um rei que tinha três lindas filhas. Essas filhas cresceram e se tornaram
mulheres, e as mulheres tiveram filhos, lindas crianças, muitas, muitas crianças, só que
algo ruim aconteceu,
algo idiota,
criminoso,
terrível,
algo que podia ter sido evitado,
algo que nunca deveria ter acontecido,
e ainda assim algo que pôde, com o tempo, ser perdoado.
As crianças morreram em um incêndio — todas menos uma.
Só sobrou uma, e ela…
Não, não está certo.
As crianças morreram em um incêndio, todas exceto três meninas e dois meninos.
Restaram três meninas e dois meninos.
Cadence, Liberty, Bonnie, Taft e Will.
E as três princesas, as mães, desmoronaram de raiva e desespero. Beberam e fizeram
compras, jejuaram, limparam e obcecaram. Uniram-se em luto, perdoaram umas às outras e
choraram. Os pais também ficaram irados, embora estivessem bem longe; e o rei, ele
sucumbiu a uma frágil loucura da qual sua antiga personalidade emergia só de vez em
quando.
As crianças eram malucas e tristes. Eram assoladas pela culpa de estarem vivas, por
dores de cabeça e medo de fantasmas, assoladas por pesadelos e estranhas compulsões,
castigo por estarem vivas quando as outras haviam morrido.
As princesas, os pais, o rei e as crianças esfarelaram-se como casca de ovo, quebradiços
e belos, pois sempre foram belos. Era
como se
como se
essa tragédia tivesse marcado o fim da família.
E talvez tenha sido isso.
Mas talvez não.
Eles formavam uma bela família. Ainda.
E sabiam disso. Na verdade, a marca da tragédia tornou-se, com o tempo, uma marca de
glamour. Uma marca de mistério e fonte de fascínio para aqueles que viam a família de
longe.
“As crianças mais velhas morreram em um incêndio”, dizem os moradores de Burlington,
os vizinhos de Cambridge, os pais dos alunos de uma escola particular em Manhattan e os
velhinhos de Boston. “A ilha pegou fogo”, dizem. “Lembram o que aconteceu alguns verões
atrás?”
As três lindas filhas ficaram ainda mais lindas aos olhos de seus observadores.
E esse fato nunca foi esquecido por elas. Nem por seu pai, mesmo em seu declínio.
E, ainda assim, as crianças que restaram,
Cadence, Liberty, Bonnie, Taft e Will,
sabem que a tragédia não é algo glamoroso.
Sabem que ela não acontece na vida do mesmo modo como no palco ou nas páginas de
um livro. Não é um castigo infligido nem uma lição aprendida. Seus horrores não são
atribuíveis a uma única pessoa.
A tragédia é feia e complicada, idiota e confusa.
É isso que as crianças sabem.
E elas sabem que as histórias
sobre sua família
são ao mesmo tempo verdade e mentira.
Existem infinitas variações.
E as pessoas continuarão a contá-las.
MEU NOME COMPLETO é Cadence Sinclair Eastman.
Moro em Burlington, Vermont, com minha mãe e três cães.
Tenho quase dezoito anos.
Tenho um cartão de biblioteca bem gasto, um envelope cheio de rosas desidratadas, um
livro de contos de fadas e um punhado de lindas pedras roxas. E pouco mais que isso.
Eu sou
a culpada
de um crime tolo e ilusório
que se transformou
em tragédia.
Sim, é verdade que me apaixonei por alguém e que ele morreu, com as duas outras pessoas
que eu mais amava no mundo. É o principal a se saber a meu respeito,
a única coisa a se saber a meu respeito por um bom tempo,
embora nem eu soubesse.
Mas deve haver mais.
Haverá mais.
MEU NOME COMPLETO é Cadence Sinclair Eastman.
Aguento enxaquecas. Não aguento idiotas
Gosto de distorcer significados.
Eu suporto.
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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