sábado, 13 de junho de 2015

Capítulo 13


Thomas estava fascinado com a menção a um Verdugo. Só pensar na criatura asquerosa já
era algo aterrorizante, mas ele ficou se perguntando por que encontrar uma delas morta era
grande coisa. Será que nunca havia acontecido antes?
Alby estava como alguém que acaba de saber que pode criar asas e voar.
- Não é um bom momento para gracinhas - comentou.
- Olhe - falou Minho -, eu também não acreditaria em mim se fosse você. Mas acredite, eu
vi. Uma daquelas coisas nojentas, gordas e grandonas.
"Sem dúvida nenhuma, nunca aconteceu antes", concluiu Thomas.
- Você encontrou um Verdugo morto - repetiu Alby.
- Isso mesmo, Alby - confirmou Minho, as palavras acompanhadas de um tom de irritação.
- A uns três quilômetros daqui, perto do Penhasco.
Alby olhou para o Labirinto, depois de novo para Minho.
- Bem... por que não trouxe a criatura de volta com você?
Minho riu de novo, meio grunhido, meio risadinha. - Você andou bebendo o molho
apimentado do Caçarola? Aquelas coisas devem pesar meia tonelada, cara. Além disso, eu
não tocaria em uma delas mesmo que você me desse uma viagem grátis para fora deste lugar.
Alby persistiu nas perguntas.
- E como era a aparência da coisa? Os ferrões de metal estavam dentro ou fora do corpo?
Ela se movia de algum modo... a pele ainda estava úmida?
Thomas estava explodindo de vontade de fazer perguntas - "Ferrões de metal? Pele
úmida? O que era tudo aquilo?" -, mas mordeu a língua, não querendo chamar a atenção para a
sua presença. E temendo que eles fossem conversar em particular.
- Calma aí, cara - falou Minho. - Você tem que ver por si mesmo. É... estranho.
- Estranho? - Alby pareceu confuso.
- Cara, estou exausto, morrendo de fome e quase com uma insolação. Mas se você estiver
a fim de dar um alô para a coisa agora mesmo, podemos ir lá e estar de volta antes que os
muros fechem.
Alby olhou para o relógio.
- Melhor esperar até amanhã, na hora de acordar.
- Essa foi a coisa mais inteligente que disse em uma semana. - Minho recompôs-se
desencostando do muro, deu um tapinha no braço de Alby, depois partiu em direção à Sede
mancando. Ainda falou por cima do ombro enquanto se afastava, demonstrando que o seu
corpo inteiro doía:
- Eu sei que devia voltar lá, mas esqueça. Vou comer um pouco daquele cozido nojento do
Caçarola.
Aquilo foi um ducha de água fria para Thomas. Precisava admitir que Minho merecia um
descanso e um pouco de comida, mas queria saber mais.
Então Alby voltou-se para Thomas, surpreendendo-o.
- Se sabe de alguma coisa e não me contou...
Thomas estava cansado de ser acusado de saber das coisas. Não era esse o problema? Ele
não sabia de nada. Encarou de forma direta o rapaz e perguntou:
- Por que você me odeia tanto?
A expressão que dominou o rosto de Alby foi indescritível - em parte confusão, em parte
raiva, em parte choque.
- Odiar você? Garoto, você não aprendeu nada desde que apareceu naquela Caixa. Isso
não tem nada a ver com odiar, gostar, amar ou ter amizade ou algo parecido. Só o que nos
interessa é sobreviver. Deixe de frescura e comece a usar esse cérebro de mértila se tiver
algum.
Thomas sentiu como se tivesse levado um tapa na cara.
- Mas... por que você está sempre me acusando...
- Porque não pode ser coincidência, cabeção! Você surge aqui, depois aparece uma garota
como Calouro no dia seguinte. Depois umas coisas malucas: Ben tentando morder você,
Verdugos mortos. Está acontecendo algo e não vou descansar enquanto não descobrir o que é.
- Eu não sei de nada, Alby. - Pareceu-lhe adequado colocar um pouco de calor nas
palavras. - Nem mesmo sei onde eu estava três dias atrás, muito menos por que esse Minho
encontraria uma coisa morta chamada Verdugo. Portanto, dá um tempo!
Alby inclinou-se ligeiramente para trás, olhando um tanto distante para Thomas por vários
segundos. Então disse:
- Pega leve, Fedelho. Cresça e comece a pensar. Não ganho nada em acusar ninguém de
coisa alguma. Mas se lembrar de algo, se algo ao menos parecer familiar, é melhor começar a
falar. Prometa.
"Não enquanto não tiver uma memória confiável", pensou Thomas. "Só quando quiser
falar."
- Tá bom, eu acho, mas...
- Apenas prometa!
Thomas fez uma pausa, enjoado de Alby e da sua atitude.
- Vá lá - disse por fim. - Eu prometo.
Com isso Alby fez meia-volta e se afastou, sem dizer mais nenhuma palavra.
Thomas encontrou uma árvore no Campo-santo, uma das mais bonitas à beira da floresta
com bastante sombra. Temia voltar a trabalhar com Winston, o Açougueiro, e sabia que
precisava almoçar, mas não queria chegar perto de ninguém enquanto não conseguisse se
livrar de tudo aquilo. Recostado no tronco, desejou uma brisa, mas não a teve.
Mal tinha sentido as pálpebras baixarem quando Chuck estragou a sua paz e tranquilidade.
- Thomas! Thomas! - o garoto guinchava enquanto corria na direção dele, abanando os
braços, o rosto inflamado de empolgação.
Thomas esfregou os olhos e gemeu; não queria mais nada no mundo do que meia hora de
soneca. Só quando Chuck parou bem na sua frente, fazendo um esforço para recuperar o
fôlego, foi que abriu os olhos.
- O que foi?
As palavras saíram com dificuldade da boca de Chuck, em meio à respiração ofegante.
- Ben... Ben... ele não está... morto.
Todos os sinais de cansaço foram projetados para longe do organismo de Thomas. Ele
saltou de pé para ficar de frente para Chuck.
- O quê?
- Ele... não está morto. Os Embaladores foram lá cuidar dele... a flecha não atingiu o
cérebro dele... Os Socorristas o curaram.
Thomas virou-se para a floresta onde o garoto doente o atacara ainda na noite anterior.
- Você deve estar brincando. Eu vi como ele ficou... - Ele não estava morto? Thomas não
sabia o que sentir mais fortemente: confusão, alívio, medo de um novo ataque...
- Bem, quem me dera - disse Chuck. - Ele está trancado no Amansador, com um grande
curativo cobrindo metade da cabeça.
Thomas girou para encarar Chuck de novo.
- 0 Amansador? 0 que quer dizer com isso?
- O Amansador. É a nossa prisão no lado norte da Sede. - Chuck apontou naquela direção.
- Eles o jogaram lá tão depressa que os Socorristas tiveram de fazer o curativo lá.
Thomas esfregou os olhos. A culpa o consumia quando percebeu como se sentia de
verdade - ficara aliviado por Ben ter morrido, assim não precisaria se preocupar em encontrá-
lo de novo.
- E aí, o que vão fazer com ele?
- Já houve um Conclave dos Encarregados esta manhã. E pelo jeito chegaram a uma
decisão unânime. Parece que o Ben vai desejar que aquela flecha tivesse chegado mesmo ao
cérebro de mértila dele.
Thomas fez uma careta, confuso com o que Chuck dissera.
- Do que você está falando?
- Ele vai ser Banido. Esta noite, por tentar matar você.
- Banido? O que isso significa? - Thomas precisava perguntar, embora soubesse que, se
Chuck achava que era pior do que estar morto, então não poderia ser algo bom.
E então Thomas viu talvez a coisa mais perturbadora com que já se deparara desde a sua
chegada à Clareira: Chuck não respondeu; apenas sorriu. Sorriu, apesar de tudo, apesar do
significado sinistro do que acabara de anunciar. Então virou-se e correu, talvez para contar a
outro a notícia excitante.
Naquela noite, Newt e Alby reuniram todos os Clareanos na Porta Leste cerca de meia
hora antes de ela se fechar, os primeiros sinais do crepúsculo anunciando-se no céu. Os
Corredores tinham acabado de voltar e de entrar na misteriosa Casa dos Mapas, fechando a
porta de ferro atrás deles; Minho já tinha entrado mais cedo. Alby disse aos Corredores para
se apressarem nos seus afazeres - queria que estivessem de volta em vinte minutos.
Thomas ainda se sentia incomodado pela maneira como Chuck sorrira quando dera a
notícia sobre Ben ser Banido. Embora não soubesse ainda o que significava, com certeza não
parecia ser uma coisa boa. Especialmente quando estavam todos reunidos próximo ao
Labirinto. "Será que vão colocá-lo para fora daqui?", imaginou. "Com os Verdugos?"
Os outros Clareanos conversavam num murmúrio abafado, um forte sentimento de
expectativa amedrontada pairando sobre todos como uma neblina espessa. Thomas, porém,
não dizia nada, aguardando de braços cruzados, esperando pelo espetáculo. Esperou calmo até
que os Corredores finalmente saíram do seu edifício, todos eles parecendo exaustos, os rostos
marcados por profundas reflexões. Minho fora o primeiro a sair, o que fez Thomas se
perguntar se ele era o Encarregado dos Corredores.
- Tragam ele! - gritou Alby, tirando Thomas dos seus pensamentos.
Os seus braços caíram para o lado, inertes, quando ele se voltou, olhando pela Clareira
em busca de um sinal de Ben, um tremor elevando-se dentro dele enquanto imaginava o que o
garoto faria quando o visse.
De um canto no fundo da Sede, três dos maiores garotos apareceram, arrastando Ben pelo
chão. As roupas dele estavam em frangalhos, mal se mantendo no corpo; um curativo
sanguinolento cobria metade da sua cabeça e do seu rosto. Recusando-se a pousar os pés no
chão para ajudar de qualquer maneira, ele parecia tão morto quanto da última vez em que
Thomas o vira. A não ser por um detalhe.
Os seus olhos estavam abertos, arregalados pelo terror.
- Newt - disse Alby em uma voz muito mais baixa; Thomas não teria ouvido se não
estivesse a poucos passos de distância. - Traga o Poste.
Newt concordou com um movimento de cabeça, já a caminho de um barracão de
ferramentas usado pelos jardineiros; era evidente que estava esperando pela ordem.
Thomas tornou a acompanhar Ben e os guardas. O garoto, pálido e em estado lastimável,
continuava sem esboçar resistência, deixando que o arrastassem pelo chão de rocha
empoeirado do pátio. Quando chegaram à aglomeração, puseram Ben de pé na frente de Alby,
o líder. Ben baixou a cabeça, recusando-se a olhar para quem quer que fosse.
- Você causou isso a si mesmo, Ben - disse Alby. Então abanou a cabeça e olhou para a
cabana para onde Newt se dirigira.
Thomas acompanhou o olhar dele a tempo de ver Newt passar pela porta inclinada. Ele
trouxe várias barras de alumínio, que foi prendendo pelas extremidades até formar um poste
de uns seis metros de comprimento. Em seguida, prendeu alguma coisa estranha em uma das
extremidades e dirigiu-se rumo ao grupo. Um arrepio correu pela espinha de Thomas ao ouvir
o ruído metálico que o poste fazia ao ser arrastado sobre as pedras do chão à medida que
Newt avançava.
Thomas estava horrorizado com tudo aquilo. Embora nunca tivesse feito nada para
provocar Ben, sentia-se responsável. Como podia ser culpado de alguma coisa? Nenhuma
resposta lhe ocorreu, mas a culpa continuava torturando-o como se fosse uma doença.
Por fim, Newt aproximou-se de Alby e estendeu a extremidade do poste que segurava.
Thomas conseguiu ver melhor o estranho apêndice agora. uma argola de couro grosseiro,
presa ao metal por um imenso grampo de arame. Uma grande fivela revelava que a argola
podia ser aberta e fechada, e o seu propósito tornou-se evidente.
Era uma coleira.
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Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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