sábado, 13 de junho de 2015

Capítulo 17


Durante vários segundos, Thomas sentiu como se o mundo tivesse se congelado. Um
silêncio profundo seguiu-se ao estrondo surdo e trovejante da Porta se fechando, e o céu
pareceu ser encoberto por um véu sombrio, como se até mesmo o sol tivesse medo do que se
movia furtivamente pelo Labirinto. O crepúsculo se instalara e os muros colossais eram como
lápides enormes em um cemitério de gigantes infestado de ervas daninhas. Thomas recostou-se
na rocha áspera, exaurido pelo que acabara de fazer.
Aterrorizado só de pensar em quais seriam as consequências.
Então um grito agudo de Alby mais à frente chamou sua atenção para a realidade; Minho
lamentava. Thomas afastou-se do muro e correu em direção aos dois Clareanos.
Minho conseguira se levantar e estava em pé de novo, mas a sua aparência era horrível,
mesmo na pouca luz ainda restante - suado, sujo, todo arranhado. Alby, no chão, parecia pior,
as roupas rasgadas, os braços cobertos de cortes e manchas sanguinolentas. Thomas
estremeceu. Será que Alby fora atacado por um Verdugo?
- Fedelho - falou Minho -, se você acha que foi corajoso vindo aqui, escute uma coisa.
Você é o cara de mértila mais mertilento, fedorento e nojento que já existiu. Pode se
considerar morto, assim como nós.
Thomas sentiu o rosto arder - esperava ao menos um pouco de gratidão.
- Não pude ficar só olhando e deixar vocês aqui.
- E qual é a vantagem de estar aqui com a gente? - Minho rolou os olhos para o alto. - Seja
como for, cara. Quebre a Regra Número Um, mate-se, quem se importa?
- Muito obrigado. Só estava tentando ajudar. - Thomas teve vontade de lhe dar um chute na
cara.
Minho forçou uma risada amarga, depois ajoelhou-se de novo no chão ao lado de Alby.
Thomas observou atentamente o rapaz caído e compreendeu quanto a situação era ruim. Alby
parecia à beira da morte. A sua pele escura perdia a cor a olhos vistos, e a respiração era
rápida e superficial. Uma falta total de esperança tomou conta de Thomas.
- O que aconteceu? - perguntou, tentando deixar de lado a raiva.
- Não quero falar sobre isso - respondeu Minho, enquanto verificava a pulsação de Alby e
inclinava-se sobre ele para ouvir o seu peito. - Vamos dizer apenas que os Verdugos sabem se
fingir de mortos muito bem.
Essa afirmação pegou Thomas de surpresa.
- Quer dizer que ele... foi mordido? Picado, seja lá o que for? Ele vai passar pela
Transformação?
- Você tem muito que aprender - foi tudo o que Minho se dignou a dizer.
Thomas queria gritar. Sabia que tinha muito que aprender - era por isso que estava
perguntando.
- Ele vai morrer? - forçou-se a dizer, encolhendo-se ao perceber como parecia tolo e
superficial.
- Se não conseguirmos tratá-lo antes do pôr do sol, provavelmente. Poderá estar morto em
uma hora... não sei quanto tempo demora quando não se aplica o Soro. Claro, vamos morrer
também, portanto não adianta ficar choramingando por causa dele. É isso aí, vamos todos estar
mortinhos logo, logo. - Ele disso isso com tanta certeza que Thomas mal se preocupou com o
significado das palavras.
Mas logo a realidade terrível da situação começou a tomar conta dele, e ele desmoronou
por dentro.
- Vamos morrer mesmo? - perguntou, incapaz de admitir a verdade. - Você está me
dizendo que não temos a menor chance?
- Nenhuma.
Thomas estava irritado com o negativismo constante de Minho.
- Ah, sem essa... deve haver alguma coisa que a gente possa fazer. Quantos Verdugos
podem nos atacar? - Ele espreitou o corredor que se aprofundava pelo Labirinto adentro,
como se esperasse que as criaturas chegassem a qualquer momento, atraídas pelo som do seu
nome.
- Sei lá.
Um pensamento surgiu na mente de Thomas, dando-lhe alguma esperança.
- Mas... e quanto a Ben? E Gally e os outros que foram picados e sobreviveram?
Minho olhou-o de relance, e a expressão nos seus olhos parecia dizer que ele era mais
desprezível do que plong de vaca.
- Será que não escutou? Eles conseguiram voltar antes do pôr do sol, seu burro. Voltaram
e receberam o Soro. Todos eles.
Thomas ficou pensando na menção ao soro, mas tinha muito mais perguntas para fazer
primeiro.
- Mas pensei que os Verdugos só saíssem à noite.
- Então você estava errado, trolho. Eles sempre saem à noite. Isso não significa que nunca
apareçam durante o dia.
Thomas não ia se deixar contaminar pela desesperança de Minho - não queria desistir e
esperar a morte certa.
- Alguém já passou a noite fora dos muros e sobreviveu?
- Nunca.
Thomas franziu a testa, desejando poder encontrar uma pequena centelha de esperança.
- Quantos já morreram, então?
Minho olhou para o chão, agachou-se apoiando um antebraço sobre o joelho. Era evidente
que estava exausto, quase atordoado.
- No mínimo uns doze. Não esteve no cemitério?
- Estive. - "Então foi assim que morreram", pensou.
- Bem, aqueles são apenas os que encontramos. Há outros, mas os corpos desses nunca
apareceram. - Minho apontou distraidamente na direção da Clareira fechada atrás deles. -
Aquele cemitério esquisito lá entre as árvores tem um motivo. Nada acaba mais com a alegria
da gente do que ser lembrado todos os dias sobre os seus amigos dilacerados.
Minho levantou-se agarrando Alby pelos braços, então indicou os pés dele com um
movimento de cabeça.
- Pegue essas porcarias fedorentas. Vamos carregá-lo para perto da Porta. Dar a eles um
corpo que seja fácil de encontrar de manhã.
Thomas não podia acreditar em quanto essa ideia parecia mórbida.
- Isso não está acontecendo! - gritou para os muros, girando ao redor de si. Sentia que
estava a ponto de enlouquecer.
- Pare de chorar. Devia ter seguido as regras e ficado lá dentro. Agora vamos, pegue as
pernas dele.
Com uma expressão de dor por causa das convulsões no estômago, Thomas procurou
erguer os pés de Alby. Transportaram o corpo quase sem vida, às vezes arrastando-o, por uns
trinta metros até a rachadura vertical da Porta, onde Minho largou Alby contra o muro em uma
posição meio sentada. O peito de Alby subia e descia com a respiração forçada, mas a pele
estava banhada de suor; parecia que não duraria muito tempo mais.
- Onde ele foi mordido? - indagou Thomas. - Você consegue ver?
- Eles não mordem você porcaria nenhuma. Eles picam. E não, não dá para ver onde foi.
Ele pode ter dúzias de picadas pelo corpo todo. - Minho cruzou os braços e reclinou-se contra
o muro.
Por algum motivo, Thomas pensou que a palavra picar soava muito pior do que morder.
- Picam? O que isso quer dizer?
- Cara, só você vendo um deles para entender o que estou dizendo.
Thomas apontou para os braços de Minho, depois para as pernas.
- Bem, por que aquela coisa não picou você?
Minho ergueu as duas mãos.
- Talvez tenha picado... talvez eu desabe a qualquer momento.
- Eles... - Thomas começou, mas não sabia como terminar. Não tinha certeza se Minho
estava falando sério.
- Não havia eles, só aquele que pensamos que estivesse morto. Ele ficou maluco e picou
Alby, mas depois saiu correndo. - Minho olhou de novo para o Labirinto, que estava agora
quase tomado pelas sombras da noite. - Mas tenho certeza de que um bando daqueles
desgraçados vai chegar aqui bem depressa para acabar com a gente com as suas agulhas.
- Agulhas? - As coisas estavam soando cada vez mais perturbadoras para Thomas.
- É, agulhas. - Ele não fora sutil, e a sua expressão era de que nem tentara.
Thomas ergueu os olhos para os muros enormes cobertos com a hera espessa. O desespero
havia despertado nele a necessidade de buscar soluções para os problemas.
- Não podemos escalar essa coisa? - Olhou para Minho, que não disse uma palavra. - As
trepadeiras... não podemos subir por elas?
Minho soltou um suspiro de frustração.
- Eu juro, Fedelho, você deve pensar que somos um bando de idiotas. Você acha mesmo
que nunca tivemos a genial ideia de escalar os malditos muros?
Pela primeira vez, Thomas sentiu a raiva aumentar, superando o medo e o pânico.
- Só estou tentando ajudar, cara. Por que não para de debochar de cada palavra que eu
digo e fala comigo?
Minho saltou abruptamente sobre Thomas e agarrou-o pela camisa.
- Você não entende, cara de mértila! Você não sabe nada, e está só piorando as coisas
tentando ter alguma esperança! Nós estamos mortos, está me ouvindo? Mortos!
Thomas não sabia o que era mais forte naquele momento - se a raiva que sentia de Minho
ou a pena que este provocava. Ele estava desistindo muito facilmente.
Minho baixou os olhos para as suas mãos que agarravam a camisa de Thomas e a vergonha
tomou conta do seu semblante. Lentamente, ele o soltou e deu um passo atrás. Thomas
endireitou a roupa com um ar desafiador.
- Ah, cara, ah, cara - Minho sussurrou, então desabou no chão, enterrando o rosto nos
punhos fechados. - Nunca tive tanto medo na vida, cara. Não desse jeito.
Thomas queria dizer alguma coisa, falar para ele crescer, falar para ele pensar, falar para
ele explicar tudo o que sabia. Alguma coisa!
Abriu a boca para falar, mas fechou-a depressa quando ouviu o ruído. A cabeça de Minho
deu um salto; ele fitou um dos corredores de pedra às escuras. Thomas sentiu a respiração
acelerar.
Aquilo vinha lá do fundo do Labirinto, um som grave e assombroso. Um chiado constante
que fazia um barulho metálico em intervalos de três ou quatro segundos, como facas afiadas
sendo esfregadas umas contra as outras. O ruído foi ficando cada vez mais alto, e então uma
série de estalidos sinistros se acrescentou a ele. Thomas pensou em unhas compridas
arranhando vidro. Um gemido cavernoso encheu o ar e em seguida alguma coisa soou como
correntes sendo arrastadas.
Tudo aquilo, junto, era horripilante, e o pouco de coragem que Thomas conseguira reunir
começou a se dissipar.
Minho ergueu-se de um salto, o rosto imperceptível na ausência quase total de luz. Mas
quando falou, Thomas imaginou os olhos dele arregalados de terror.
- Temos que nos separar... essa é a nossa única chance. Nunca pare de correr. Não pare
nunca!
E então deu meia-volta e saiu a toda velocidade, desaparecendo em poucos segundos,
engolido pela escuridão do Labirinto
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Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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