sábado, 13 de junho de 2015

Capítulo 18


Thomas ficou olhando para o ponto onde Minho desaparecera.
De repente, um profundo sentimento de antipatia em relação ao rapaz o dominou. Minho
era um veterano ali, um Corredor. Thomas era um Calouro, com apenas alguns dias na
Clareira, apenas alguns minutos no Labirinto. Ainda assim, dos dois, Minho fora quem se
deixara abater e entrara em pânico, saindo em disparada ante o primeiro sinal de adversidade.
"Como ele foi capaz de me deixar aqui?", pensou Thomas. "Como ele foi capaz de fazer isso!"
O volume dos ruídos aumentou. O rangido de engrenagens misturava-se aos sons
arrastados e metálicos, como de correntes tracionando o mecanismo de uma máquina em uma
velha fábrica sombria. Então veio aquele cheiro - algo queimado, oleoso. Thomas não podia
adivinhar o que o esperava; embora tivesse visto um Verdugo, só de relance e através de uma
janela suja. O que será que fariam com ele? E quanto tempo poderia suportar?
"Chega!", disse a si mesmo. Não fazia sentido desperdiçar tempo esperando que viessem
pôr um fim na sua vida.
Virou-se e encarou Alby, ainda largado contra o muro de pedra, agora só um amontoado
de sombras na escuridão. Ajoelhando-se no chão, Thomas encontrou o pescoço de Alby, então
procurou sentir a pulsação. Alguma coisa vibrava. Ouviu o peito dele como Minho fizera.
Bu-bunip, bu-buinp, bu-burnp.
Ainda estava vivo.
Thomas inclinou-se para trás sobre os tornozelos, depois correu o braço pela testa,
limpando o suor. Naquele momento, no espaço de apenas alguns segundos, aprendeu muita
coisa sobre quem era. Quem fora o Thomas antes.
Não podia abandonar um amigo e deixá-lo morrer. Mesmo alguém tão rabugento quanto
Alby.
Estendendo as mãos, segurou Alby pelos braços, depois acocorou-se até conseguir se
sentar e passou os braços ao redor do pescoço dele por trás. Então puxou o corpo inerte para
as costas e ergueu-se sobre as pernas, grunhindo com o esforço. O peso era demais. Thomas
caiu de bruços no chão, com Alby espalhando-se para o lado com um baque surdo.
Os sons assustadores dos Verdugos pareciam cada vez mais próximos, ecoando nos muros
de pedra do Labirinto. Thomas achou que estava vendo lampejos luminosos a distância,
projetando-se no céu noturno. Não queria se encontrar com a fonte daquelas luzes e daqueles
sons.
Tentando uma nova investida, agarrou os braços de Alby outra vez e começou a arrastá-lo
pelo chão. Não conseguia acreditar em quanto um garoto podia ser tão pesado, e não precisou
nem de três metros para compreender que aquilo não daria certo. De qualquer forma, onde ele
iria levá-lo?
Empurrou Alby de volta para a rachadura que assinalava a entrada da Clareira e largou-o
de novo sentado, reclinado contra o muro de pedra.
Thomas sentou-se com as costas apoiadas no muro, ofegando pelo esforço, pensando.
Enquanto examinava com cuidado os recantos escuros do Labirinto, vasculhava a mente em
busca de uma solução. Mal conseguia ver alguma coisa, e sabia, apesar do que Minho dissera,
que seria burrice correr mesmo que conseguisse carregar Alby. Não só havia a possibilidade
de se perder, mas na verdade poderia acabar correndo na direção dos Verdugos em vez de ir
para longe deles.
Pensou no muro, na hera. Minho não explicara, mas dera a entender que era impossível
escalar aquelas paredes. Ainda assim...
Um plano tomou forma na sua mente. Tudo dependia das habilidades desconhecidas dos
Verdugos, mas era a melhor ideia que lhe ocorria.
Caminhou alguns metros ao longo do muro até encontrar um tufo mais crescido de hera,
recobrindo a pedra quase por completo. Abaixando-se, pegou uma das ramificações que iam
até o chão e envolveu-a com a mão. A trepadeira parecia mais grossa e mais sólida do que
imaginara, talvez com um centímetro e meio de diâmetro. Puxou-a e, com o som de um papel
grosso se rasgando, ela desprendeu-se do muro - e foi se soltando cada vez mais à medida que
Thomas se afastava do muro. Depois de recuar uns três metros, não conseguiu mais ver a
extremidade da hera no alto; ela desaparecia na escuridão. Mas a planta arrancada pendia
solta do muro, então Thomas concluiu que continuava presa a alguma coisa lá em cima.
Hesitando um pouco, aprumou-se no chão e puxou a trepadeira com toda a sua força.
Ela resistiu.
Puxou de novo. Depois de novo, puxando e relaxando com as duas mãos várias vezes.
Então resolveu pendurar-se na trepadeira; seu corpo balançou para a frente.
A trepadeira aguentava.
Rapidamente, Thomas agarrou outros ramos da trepadeira, desgrudando-os do muro,
criando uma série de cordas para escalar. Testou cada uma delas. Todas mostraram-se tão
fortes quanto a primeira. Confiante, voltou para junto de Alby e arrastou-o para perto das
trepadeiras.
Um estalo agudo ecoou vindo do Labirinto, seguido pelo som horrível de metal amassado.
Thomas, assustado, girou sobre si mesmo para ver. Sua mente estivera tão concentrada nas
trepadeiras que por um momento se esquecera dos Verdugos. Examinou as três direções do
Labirinto. Não conseguia ver nada se aproximando, mas os sons estavam mais altos -
zumbindo, gemendo, retinindo. E o ar tornara-se ligeiramente mais claro; conseguia distinguir
mais detalhes do Labirinto do que um minuto antes.
Lembrou-se das luzes estranhas que observara através da janela da Clareira com Newt. Os
Verdugos estavam próximos. Era óbvio.
Thomas tentou ignorar a onda de pânico e concentrou-se no que precisava fazer.
Agarrando um ramo da trepadeira, enrolou-a ao redor do braço direito de Alby. A planta
mal chegava até ele, por isso precisou empurrar Alby para cima o máximo que pôde para
conseguir prendê-lo. Depois de dar várias voltas com a planta, amarrou-a com firmeza. Então
pegou outra trepadeira e passou-a ao redor do braço esquerdo de Alby, depois pelas duas
pernas dele, amarrando cada extremidade o mais firme que conseguiu. Teve medo que a
circulação sanguínea de Alby fosse prejudicada, mas concluiu que valeria a pena correr o
risco.
Thomas seguiu em frente, tentando ignorar a dúvida que brotava na sua mente em relação
ao plano. Agora era a vez dele.
Agarrou uma trepadeira com as duas mãos e começou a escalar, logo acima do ponto onde
acabara de amarrar Alby. As folhas grossas da hera sustentavam bem as suas mãos, e, à
medida que subia, Thomas ficou animado ao descobrir que as muitas rachaduras no muro de
pedra eram apoios perfeitos para os seus pés. Começou a pensar como seria fácil sem...
Recusou-se a terminar o pensamento. Não poderia deixar Alby para trás.
Depois de chegar a quase sessenta centímetros acima do amigo, Thomas passou uma das
trepadeiras em volta do próprio peito, enrolou-a ainda outras vezes, bem presa sob as axilas
para aumentar o apoio. Então, muito devagar, começou a curvar o corpo, soltando o peso das
mãos, mas mantendo os pés apoiados firmemente nunca grande rachadura. Sentiu uma onda de
alívio quando percebeu que a trepadeira aguentava o peso.
Agora vinha a parte realmente difícil.
As quatro trepadeiras amarradas a Alby, que estava abaixo dele, prendiam-no fortemente.
Thomas alcançou a que estava ligada à perna esquerda de Alby e puxou-a. Só conseguiu
deslocá-la alguns centímetros antes de soltar - o peso era demais. Não conseguiria.
Desceu outra vez até o piso do Labirinto, decidido a tentar empurrar por baixo em vez de
puxar por cima. Para fazer um teste, tentou levantar Alby cerca de uns setenta centímetros,
membro por membro. Primeiro, empurrou a perna esquerda para cima, depois amarrou uma
nova trepadeira ao redor dela. Em seguida, a perna direita. Depois que as duas estavam bem
presas, Thomas fez o mesmo com os braços de Alby - o direito, depois o esquerdo.
Recuou, ofegante, para dar uma olhada.
Alby estava pendurado, aparentemente sem vida, agora quase noventa centímetros acima
de onde tinha estado cinco minutos antes.
Do Labirinto vinham sons metálicos. Rangidos. Zumbidos. Gemidos. Thomas pensou ter
visto uns dois lampejos vermelhos à sua esquerda. Os Verdugos estavam mais perto e era
óbvio que havia mais de um deles.
Voltou ao trabalho.
Usando o mesmo método de empurrar cada braço e cada perna de Alby para cima uns
sessenta ou noventa centímetros de cada vez, aos poucos Thomas foi conseguindo subir pelo
muro de pedra. Ele subia até ficar embaixo do corpo, enrolava uma trepadeira em volta do
peito para se apoiar, depois empurrava Alby o mais alto que podia, membro por membro, e o
amarrava com a hera. Em seguida, repetia todo o processo.
Subir, enrolar, empurrar, amarrar.
Subir, enrolar, empurrar, amarrar. Os Verdugos pelo menos pareciam avançar
vagarosamente pelo Labirinto, o que lhe dava algum tempo.
Pouco a pouco, os dois foram subindo. O esforço era exaustivo; Thomas arquejava a cada
respiração, sentia o suor cobrir cada centímetro da sua pele. As mãos começaram a escorregar
nas trepadeiras. Os pés doíam por causa da pressão nas fendas da pedra. Os sons estavam
cada vez mais altos - aqueles sons horríveis. Ainda assim Thomas continuou.
Quando chegaram a um ponto a cerca de nove metros do chão, Thomas parou, oscilando
pendurado na hera que enrolara ao redor do peito. Usando os braços exaustos e esfolados, ele
se virou para ver o Labirinto. Uma exaustão que ele não acreditava ser possível tomava conta
de cada minúscula partícula do seu corpo. Era um cansaço que doía; os músculos estavam em
frangalhos. Não conseguiria empurrar Alby nem mais um centímetro. Não aguentava mais.
Era ali que ficariam escondidos. Ou que tentariam resistir.
Sabia que não conseguiriam chegar até o alto, só esperava que os Verdugos não olhassem
para cima e os encontrassem. Ou, no mínimo, Thomas esperava que fosse possível enfrentá-
los ali do alto, um por um, em vez de ser atacado no chão.
Não fazia a menor ideia do que esperar; não sabia se veria o dia seguinte. Mas ali,
pendurado na hera, os dois encarariam o seu destino.
Alguns minutos se passaram antes que Thomas visse o primeiro lampejo luminoso
refletido nos muros do Labirinto à frente. Os sons terríveis que ele ouvira aumentar cada vez
mais na última hora agora eram como um guincho mecânico estridente e ensurdecedor, como
um urro de morte de um robô.
Uma luz vermelha à esquerda, sobre o muro, chamou a sua atenção. Ele se virou e quase
soltou um grito - um besouro mecânico achava-se a poucos centímetros dele, as pernas
pontudas roçando por entre os ramos de hera e de alguma forma prendendo-se à pedra. A luz
vermelha do seu olho era como um pequeno sol, brilhante demais para que se conseguisse
olhar diretamente. Semicerrando os olhos, Thomas tentou concentrar-se no corpo do besouro.
O torso era um cilindro prateado, com uns oito centímetros de diâmetro e uns vinte e cinco
de comprimento. Doze pernas articuladas projetavam-se ao longo da parte inferior do corpo
em todo o comprimento, estendidas para fora, o que lhe dava a aparência de um lagarto. Era
impossível ver a cabeça por causa do feixe de luz vermelha que brilhava na direção dele,
embora parecesse pequena... talvez a sua única finalidade fosse a visão.
Mas então Thomas avistou a parte mais sinistra. Pensou que tinha visto aquilo antes, lá na
Clareira quando o besouro mecânico passara correndo por ele e perdera-se na floresta. Agora
estava confirmado: a luz vermelha do seu olho lançava um brilho horripilante sobre as cinco
letras borradas ao longo do corpo, como se tivessem sido escritas com sangue:
CRUEL
Thomas não podia imaginar por que o besouro mecânico trazia estampada aquela palavra
no corpo, a menos que tivesse o propósito de anunciar aos Clareanos que era algo perverso.
Inumano.
Ele sabia que aquela coisa devia ser um espião de quem quer que os enviara para lá -
Alby contara-lhe a respeito, dizendo que os besouros eram um instrumento dos Criadores para
observá-los. Thomas ficou quieto, prendeu a respiração, esperando que talvez o besouro só
detectasse movimentos. Segundos intermináveis se passaram, os seus pulmões clamando por
ar.
Com um dique e depois um claque, o besouro virou-se e saiu em disparada,
desaparecendo por entre a hera. Thomas absorveu um imenso bocado de ar, depois outro,
sentindo o aperto das trepadeiras ao redor do peito.
Outro guincho metálico ressoou estridente pelo Labirinto, próximo agora, seguido por uma
sequência de estalidos e rangidos de máquina. Thomas tentou imitar o corpo inerte de Alby,
pendendo imóvel em meio às trepadeiras.
E então alguma coisa dobrou a esquina à frente e encaminhou-se na direção deles.
Uma coisa que ele já vira antes, mas por trás da segurança de um vidro grosso.
Uma coisa indescritível.
Um Verdugo.
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário

Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

Total de visualizações

Seguidores

Livros populares

Search