domingo, 14 de junho de 2015

Capítulo 23


Thomas refletiu longa e profundamente sobre Alby. Considerava uma grande vitória
salvar-lhe a vida, trazê-lo de volta de uma noite no Labirinto. Mas teria valido a pena? Agora
o rapaz passava por um sofrimento intenso, sentindo as mesmas dores que Ben. E se ficasse
maluco também? Os pensamentos o torturavam.
A noite caiu sobre a Clareira e os gritos de Alby continuaram a assombrar o ar. Era
impossível escapar daqueles sons terríveis, mesmo depois que Thomas finalmente convenceu
os Socorristas a liberá-lo - exausto, dolorido, coberto de curativos, mas cansado dos lamentos
penetrantes de agonia do líder. Newt foi inflexível quando Thomas pediu para ver a pessoa
por quem arriscara a vida. "Só vai piorar as coisas", argumentara ele, pouco disposto a ceder.
Thomas estava cansado demais para iniciar uma briga. Não imaginava que fosse possível
sentir-se tão exausto mesmo depois de algumas horas de sono. Ferira-se demais para fazer
qualquer coisa e passou a maior parte do dia sobre um banco nas imediações do Campo-santo,
mergulhado em desespero. A euforia da fuga desaparecera rapidamente, deixando-o entregue à
dor e aos pensamentos sobre a sua nova vida na Clareira. Todos os seus músculos doíam;
estava coberto de cortes e hematomas da cabeça aos pés. Mas mesmo isso não era tão ruim
quanto a insuportável carga emocional a que fora sujeitado na noite anterior. Era como se a
realidade de sua nova vida tivesse finalmente se instalado em sua mente, como se ouvisse um
diagnóstico definitivo de câncer terminal.
"Como alguém pode ser feliz numa vida como esta?", pensou. "Como alguém pode ser tão
diabólico para fazer isso com a gente?" Agora, mais do que nunca, entendia a obsessão dos
Clareanos em descobrir a saída do Labirinto. Não era só uma questão de escapar. Pela
primeira vez, ele sentiu uma vontade imensa de se vingar das pessoas responsáveis por
mandá-lo para lá.
No entanto, esses pensamentos só devolveram a desesperança que já o dominara tantas
vezes antes. Se Newt e os outros não haviam sido capazes de encontrar a saída do Labirinto
depois de dois arcos de buscas, parecia impossível que pudesse haver uma solução. O fato de
os Clareanos não terem desistido falava mais sobre essas pessoas que qualquer outra coisa.
E agora Thomas era um deles.
"Esta é a minha vida", pensou. "Viver em um labirinto gigantesco, cercado por monstros
horrendos." A tristeza o inundou como um veneno forte. Os gritos de Alby, agora distantes mas
ainda audíveis, só pioravam a situação. Ele precisava tapar os ouvidos com as mãos cada vez
que os escutava.
Finalmente o dia terminou, e o pôr do sol trouxe o agora familiar rangido opressivo das
quatro Portas fechando-se. Thomas não se lembrava de sua vida anterior à Caixa, mas tinha
absoluta certeza de que acabara de passar pelas piores vinte e quatro horas da sua existência.
Assim que escureceu, Chuck trouxe-lhe alguma coisa para jantar e um copo grande de água
gelada.
- Obrigado - falou Thomas, experimentando uma sensação de grande simpatia pelo garoto.
Atacou o bife com macarrão do prato o mais rápido que os braços doloridos lhe permitiram. -
Precisava muito disso - murmurou em meio a um grande bocado. Engoliu um bom gole da
água, então voltou a atacar a comida. Só percebeu o quanto estava com fome depois de
começar a comer.
- Você é nojento quando come - comentou Chuck, sentado no banco ao lado dele. - É como
ver um porco faminto comer o próprio plong.
- Engraçadinho - retrucou Thomas com sarcasmo. - Você deveria ir fazer gracinhas para os
Verdugos, só para ver se eles riem.
Uma sombra de mágoa atravessou o semblante de Chuck, fazendo Thomas sentir-se mal,
mas desapareceu quase tão depressa como se manifestara.
- Isso me faz lembrar uma coisa: você é a sensação do momento.
Thomas endireitou-se, sem saber como se sentia perante a notícia.
- O que isso quer dizer?
- Ah, meu, deixe-me ver. Primeiro, você sai para o Labirinto quando não devia. Depois se
transforma numa espécie de homem das selvas, escalando trepadeiras e amarrando pessoas
nos muros. Em seguida, torna-se um dos primeiros caras a sobreviver a uma noite inteira no
Labirinto. E, acima de tudo isso, consegue matar quatro Verdugos. É, realmente não sei por
que aqueles trolhos estão falando de você.
Uma onda de orgulho cresceu dentro de Thomas, depois se desfez. Sentiu-se culpado pela
felicidade que acabara de experimentar. Alby ainda estava na cama, uivando de dor,
provavelmente desejando ter morrido.
- Mas quem teve a ideia de levar os Verdugos para o Penhasco foi o Minho, não eu.
- Bom, não é o que ele diz. Ele viu você dar aquele drible tipo mergulho, então teve a
ideia de fazer a mesma coisa no Penhasco.
- Aquele "drible tipo mergulho"? - indagou Thomas, rolando os olhos. - Qualquer idiota
do planeta teria feito aquilo.
- Não venha com essa conversa de tadinho para cima da gente. O que você fez foi incrível.
Você e o Minho, os dois.
Thomas atirou o prato vazio no chão, irado.
- Então por que me sinto um lixo, Chuck? Pode me explicar isso?
Thomas buscou uma resposta na expressão de Chuck, mas pela aparência ele não tinha
nenhuma para dar. O garoto simplesmente continuou ali inclinado para a frente com as mãos
cruzadas sobre os joelhos, a cabeça baixa. Depois de alguns segundos, meio sussurrando, ele
disse:
- Pela mesma razão que todos nós nos sentimos um lixo.
Ficaram ali sentados em silêncio até que, minutos depois, Newt apareceu, com uma cara
horrível. Sentou-se no chão à frente deles, preocupado e devastado pela tristeza. Ainda assim,
Thomas estava feliz por tê-lo por perto.
- Acho que o pior já passou - comentou Newt. - Aquele besta deve dormir uns dois dias,
depois vai acordar bem. Talvez gritando um pouco de vez em quando.
Thomas não conseguia imaginar quanto devia ser ruim passar por tudo aquilo, ainda assim
o processo da Transformação continuava sendo um mistério para ele. Voltou-se para o rapaz
mais velho, tentando ao máximo parecer normal.
- Newt, como é que ele está se sentindo agora? Sério, não faço a menor ideia de como é
essa tal Transformação.
A resposta de Newt surpreendeu Thomas.
- E você acha que nós fazemos? - respondeu ele com veemência, atirando os braços para o
alto, depois batendo-os com força de volta nos joelhos. - A única coisa que a gente sabe é
que, se os Verdugos picam você com aquelas agulhas nojentas, você injeta o Soro da Dor ou
morre. Quando você recebe o Soro, o seu corpo enlouquece, não para de tremer, a sua pele se
enche de bolhas, fica toda esverdeada e você vomita até as tripas. Tá boa essa explicação
agora, Tommy?
Thomas franziu a testa. Não queria deixar Newt mais irritado do que já estava, mas
precisava de respostas.
- Ei, eu sei que é uma droga ver seu amigo passar por isso, mas só queria saber o que
realmente estava acontecendo lá. Por que vocês chamam isso de Transformação?
Newt relaxou, pareceu se encolher, acalmou-se e suspirou.
- É que ela provoca lembranças. São apenas fragmentos, mas lembranças nítidas de antes
de virmos para este lugar horrível. Todos que passam por ela agem como um maluco quando
acaba... embora normalmente não tão mau quanto foi com o coitado do Ben. Enfim, é como se
alguém devolvesse sua vida anterior só para arrancá-la de novo.
Thomas ruminava os pensamentos.
- Tem certeza disso? - quis se assegurar.
Newt pareceu confuso.
- O que está querendo dizer? Certeza do quê?
- Eles ficam transformados porque querem voltar para a vida anterior ou porque se sentem
deprimidos ao perceber que a outra vida não era melhor do que a que temos hoje?
Newt olhou para ele por um segundo, depois desviou o olhar, parecendo refletir
profundamente.
- Os trolhos que passaram por isso nunca falam como é. Eles ficam... diferentes.
Desagradáveis. Existem vários pela Clareira, mas não consigo nem chegar perto deles. - Sua
voz soou distante, o olhar perdido em algum ponto indefinido na floresta. Thomas entendeu
que ele devia estar pensando que Alby talvez nunca mais fosse o mesmo outra vez.
- Nem fale - concordou Chuck. - O Gally é o pior de todos.
- Alguma novidade sobre a garota? - quis saber Thomas, mudando de assunto. Não estava
com disposição de falar sobre Gally. Além do mais, os seus pensamentos sempre voltavam
para ela. - Vi os Socorristas dando comida para ela lá em cima.
- Nenhuma - respondeu Newt. - Continua na droga do coma, ou seja lá o que for. Muito de
vez em quando murmura alguma coisa... palavras sem nexo, como se estivesse sonhando. Ela
aceita a comida, parece estar indo bem. Meio estranho.
Seguiu-se uma longa pausa, como se os três estivessem tentando encontrar uma explicação
para a garota. Thomas refletiu de novo sobre a inexplicável sensação que tinha de estar ligado
a ela, embora isso tivesse enfraquecido um pouco, mas devia ser por causa de tudo o mais que
vinha ocupando os seus pensamentos.
Newt rompeu o silêncio.
- Sei lá... agora é pensar o que a gente vai fazer com o Tommy.
Thomas sobressaltou-se na hora, confuso com o comentário.
- Fazer comigo? Do que você está falando?
Newt levantou-se, abriu os braços.
- Você virou toda esta droga de lugar de cabeça para baixo, seu maldito trolho. Metade
dos Clareanos acha que você é Deus, a outra metade quer atirar você no Buraco da Caixa. O
que não falta é assunto para conversar.
- Por exemplo? - Thomas não sabia o que era mais inquietante: o fato de alguns acharem
que ele era uma espécie de herói ou a ideia de que outros preferiam que ele não existisse.
- Tenha calma - falou Newt. - Você vai descobrir amanhã cedo, depois de acordar.
- Amanhã? Por quê? - Thomas não gostou do que ouviu.
- Convoquei um Conclave. E você vai participar. Você é o único tema na droga da pauta.
Dizendo isso, deu meia-volta e se afastou, deixando Thomas imaginando por que afinal de
contas seria necessário um Conclave só para discutir sobre ele.
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Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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