domingo, 14 de junho de 2015

Capítulo 26


Thomas permaneceu imóvel na cadeira, um enjoo avolumando-se no estômago como uma
infestação. Tinha passado por toda a escala de emoções no curto período de tempo desde que
chegara à Clareira. Medo, solidão, desespero, tristeza, até mesmo um ligeiro sentimento de
alegria. Mas aquilo era algo novo - ouvir uma pessoa dizer que o odiava o bastante para
querer matá-lo.
"Gally está louco", disse para si mesmo. "Está completamente insano." Mas o pensamento
só aumentou as suas preocupações. As pessoas insanas podiam ser capazes de qualquer coisa.
Os membros do Conselho estavam em pé ou sentados em silêncio, aparentemente tão
chocados quanto Thomas diante do que acabavam de testemunhar. Newt e Winston finalmente
soltaram Minho; os três encaminharam-se para os seus lugares e sentaram-se, contendo o seu
desagrado.
- Até que enfim ele recebeu o que merecia - disse Minho, quase num sussurro.
Thomas não saberia dizer se Minho, ao falar, tivera a intenção de ser ouvido pelos outros.
- Bem, ninguém nesta sala é santinho - falou Newt. - O que estão pensando? A coisa foi um
pouco além dos limites, não acham?
Minho contraiu os olhos e atirou a cabeça para trás, como se fosse atingido em cheio pela
pergunta de Newt.
- Não me culpe por esse lixo. Cada um de vocês adoraria ver aquele cabeção receber o
que merece, e sabem muito bem disso. Era só uma questão de tempo alguém enfrentar aquele
trolho.
- Ele está no Conselho por alguma razão - argumentou Newt.
- Meu, ele ameaçou quebrar o meu pescoço e matar o Thomas! O cara é um doente e acho
melhor vocês mandarem alguém agora mesmo atirá-lo no Amansador. Ele é perigoso.
Thomas não poderia estar mais de acordo e de novo quase desrespeitou a ordem para
permanecer calado, mas controlou-se. Não queria criar mais problemas do que já tinha - mas
não sabia por quanto tempo mais iria aguentar.
- Quem sabe ele tenha uma boa razão - falou Winston, em voz muito baixa.
- Qual? - indagou Minho, espelhando exatamente os pensamentos de Thomas.
Winston pareceu surpreso ao reconhecer que dissera alguma coisa. Correu rapidamente os
olhos pela sala antes de se explicar.
- Bem... ele passou pela Transformação... Um Verdugo o picou durante o dia perto da
Porta Oeste. Isso significa que ele tem lembranças, e ele disse que o Fedelho lhe parece
familiar. Por que inventaria isso?
Thomas pensou sobre a Transformação e o fato de que trazia lembranças. A ideia não lhe
ocorrera antes, mas valeria a pena ser picado pelos Verdugos, passar por aquele processo
horrível, só para se lembrar de alguma coisa? Imaginou Ben se debatendo na cama e lembrouse
dos gritos de Alby. "De jeito nenhum", pensou.
- Winston, você viu realmente o que aconteceu? - indagou Caçarola, parecendo incrédulo.
- Gally está maluco. Não se pode acreditar em nada daquela completa maluquice. E aí, você
acha que o Thomas aqui é um Verdugo disfarçado?
Regras do Conselho ou não, para Thomas já era demais. Não poderia permanecer em
silêncio nem mais um segundo.
- Posso dizer alguma coisa agora? - perguntou, a frustração aumentando o volume da sua
voz. - Estou cansado de ver vocês falando a meu respeito como se eu não estivesse aqui.
Newt relanceou o olhar na direção dele e inclinou a cabeça concordando.
- Vá em frente. Esta maldita reunião não poderia ser mais zoneada.
Thomas rapidamente organizou os seus pensamentos, procurando as palavras certas dentro
da nuvem rodopiante de frustração, confusão e raiva na sua mente.
- Não sei por que o Gally me odeia. Não me importa. Ele parece maluco para mim. Quanto
a quem eu realmente sou, vocês todos sabem tanto quanto eu. Mas, se me lembro corretamente,
estamos aqui por causa do que eu fiz lá no Labirinto, não porque um idiota acha que sou um
demônio.
Alguém deu uma risadinha, e Thomas parou de falar, esperando ter expressado o que
sentia.
Newt concordou, parecendo satisfeito.
- Bom isso. Vamos acabar de uma vez com esta reunião e nos preocupar com Gally
depois.
- Não podemos votar sem a presença de todos os membros aqui - insistiu Winston. - A
menos que estejam doentes, como Alby.
- Faça o favor, Winston - replicou Newt. - Eu diria que o Gally também está pra lá de
doente hoje, então vamos continuar sem ele. Thomas, defenda-se e depois vamos votar no que
devemos fazer com você.
Thomas percebeu que estava com os punhos cerrados sobre as pernas. Relaxou-as e
enxugou as patinas úmidas nas calças. Depois começou, sem ter certeza do que diria antes de
as palavras saírem.
- Não fiz nada de errado. Só sei que vi duas pessoas fazendo o maior esforço para
conseguir entrar pelos muros e não conseguir. Ignorar isso por causa de uma regra estúpida me
pareceu egoísmo, covardia e... bem, estupidez. Se quiserem me atirar na prisão por tentar
salvar a vida de alguém, vão em frente. Da próxima vez, prometo que vou apontar para eles e
dar risada, depois ir comer alguma coisa na cozinha do Caçarola.
Thomas não estava querendo ser engraçado. Só não conseguia acreditar que tudo aquilo
pudesse ser mesmo um problema.
- A minha recomendação é a seguinte - falou Newt. - Você desrespeitou a nossa maldita
Regra Número Um, portanto deve passar um dia no Amansador. Essa é a sua punição.
Também recomendo elegermos você um Corredor, passando a vigorar assim que esta reunião
acabar. Você mostrou mais em uma noite do que a maioria dos aprendizes em semanas. Quanto
a você ser uma droga de Encarregado, pode esquecer. - Ele olhou para Minho. - Gally estava
certo quanto a isso... é uma ideia idiota.
O comentário feriu os sentimentos de Thomas, muito embora não pudesse discordar. Olhou
para Minho esperando a reação dele.
O Encarregado não pareceu surpreso, mas questionou do mesmo jeito.
- Por quê? Ele é o melhor que nós temos... eu juro. O melhor deve ser o Encarregado.
- Ótimo - respondeu Newt. - Se for verdade, faremos a troca depois. Dê-lhe um mês para
ver se ele dá no couro.
Minho deu de ombros.
- Bom isso.
Thomas suspirou baixinho aliviado. Ainda queria ser um Corredor - o que o surpreendia,
considerando a experiência pela qual acabara de passar no Labirinto -, mas tornar-se o
Encarregado de imediato parecia ridículo.
Newt relanceou o olhar pela sala.
- Muito bem, temos várias recomendações, então vamos discutir cada uma...
- Ah, sem essa - falou Caçarola. - Vamos votar. Eu voto na sua.
- Eu também - disse Minho.
Todos os demais imitaram a aprovação deles, enchendo Thomas de alívio e de um
sentimento de orgulho. Winston foi o único a dizer não.
Newt olhou para ele.
- Não precisamos do seu voto, mas diga para a gente o que está fundindo a sua cuca.
Winston olhou para Thomas atentamente, depois voltou-se para Newt.
- Para mim está tudo bem, mas não deveríamos ignorar totalmente o que Gally falou. Tem
alguma coisa aí... não acho que ele simplesmente inventou. E é verdade que desde que o
Thomas chegou aqui, tudo tem sido mertilento e zoneado.
- Muito certo - falou Newt. - Todo mundo pensa nisso... quem sabe quando estivermos a
fim e sem mais nada para fazer podemos ter outro Conclave para discutir o assunto. Bom isso?
Winston concordou.
Thomas gemeu ao perceber como se tornara invisível.
- Adoro a maneira como vocês falam de mim como se eu não estivesse aqui.
- Olhe, Tommy - falou Newt. - Acabamos de eleger você uma droga de um Corredor. Pare
com essa choradeira e dê o fora daqui. O Minho tem um monte de coisas para ensinar a você
no treinamento.
Thomas ainda não se dera conta disso até o momento. Seria agora um Corredor, ia
explorar o Labirinto. Apesar de tudo, sentiu um calafrio de empolgação; tinha certeza de que
evitaria ficar preso lá à noite de novo. Quem sabe aquele fora o primeiro e único golpe de má
sorte.
- E quanto à minha punição?
- Amanhã - respondeu Newt. - Do despertar ao pôr do sol.
"Um dia", pensou Thomas. "Não deve ser tão ruim."
A reunião foi encerrada e todos, a não ser Newt e Minho, saíram da sala apressados. Newt
não se movera da cadeira, onde ficara fazendo anotações.
- Bem, essa foi boa - murmurou ele.
Minho aproximou-se e deu um murro de brincadeira no braço de Thomas.
- Foi tudo culpa desse trolho.
Thomas revidou o murro brincalhão.
- Encarregado? Você quer que eu seja o Encarregado? Você com certeza está bem mais
maluco do que o Gally.
Minho fingiu um sorriso maligno.
- Funcionou, hein? Mire alto, acerte embaixo. Me agradeça mais tarde.
Thomas não pôde deixar de sorrir ante a esperteza do Encarregado. Uma batida na porta
aberta chamou a sua atenção - ele se voltou para ver quem era. Chuck estava lá, parecendo ter
acabado de ser perseguido por um Verdugo. Thomas sentiu o sorriso apagar-se do seu rosto.
- Qual é o problema? - quis saber Newt, levantando-se. O seu tom de voz só aumentou a
preocupação de Thomas.
Chuck retorcia as mãos.
- Os Socorristas me mandaram aqui.
- Por quê?
- Acho que Alby está se debatendo e agindo como um louco, dizendo que precisa falar
com alguém.
Newt correu para a porta, mas Chuck levantou a mão.
- Hum... não é você que ele quer ver.
- O que está dizendo?
Chuck apontou para Thomas.
- Ele não para de chamar por ele.
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário

Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

Total de visualizações

Seguidores

Livros populares

Search