domingo, 14 de junho de 2015

Capítulo 36


Thomas não queria vê-la. Não queria ver ninguém.
Assim que Newt partiu para ir conversar com a garota, Thomas afastou-se
silenciosamente, apostando que ninguém iria se importar com ele no meio de toda a
empolgação. Com os pensamentos de todos ocupados com a novidade de a garota ter
despertado do coma, acabou sendo fácil. Ele se esgueirou pela borda da Clareira e depois,
começando a correr, encaminhou-se para o seu lugar de isolamento atrás da floresta do
Campo-santo.
Agachou-se no canto, aninhou-se na hera e atirou a manta sobre o corpo, cobrindo-se da
cabeça aos pés. De alguma forma, era como se fosse um modo de se esconder da intrusão de
Teresa nos seus pensamentos. Transcorreram alguns minutos, finalmente seu coração acalmouse
até bater mais devagar.
- Esquecer você foi a pior parte.
A princípio, Thomas pensou que fosse outra mensagem na cabeça; ele apertou os punhos
contra as orelhas. Mas não, fora... diferente. Escutara com os próprios ouvidos. Uma voz
feminina. Calafrios subindo pela espinha, foi abaixando a manta bem devagar.
Teresa achava-se à sua direita, recostada no imenso muro de pedra. Ela parecia muito
diferente agora, desperta e alerta - em guarda. Usando uma camisa branca de mangas
compridas, jeans e sapatos marrons, ela parecia - algo quase impossível - ainda mais
impressionante do que quando a vira em coma. O cabelo negro emoldurava a tez clara do
rosto, os olhos azuis como duas labaredas.
- Tom, você não se lembra mesmo de mim? - A voz dela era macia, um contraste com o
som desconjuntado e áspero que ouvira partir dela assim que chegara, quando ela transmitira a
mensagem de que tudo iria mudar.
- Quer dizer que você... você se lembra de mim? - indagou ele, aturdido pelo som
esganiçado que escapara na última palavra.
- Sim. Não. Talvez. - Ela atirou os braços para cima em desagrado. - Não sei explicar.
Thomas abriu a boca, depois a fechou sem dizer nada.
- Eu me lembro de lembrar - murmurou ela, sentando-se com um suspiro pesado; encolheu
as pernas para junto do corpo e passou os braços ao redor dos joelhos. - Sentimentos.
Emoções. Digamos que tenho todos esses arquivos na cabeça, rotulados para lembranças e
rostos, mas eles estão vazios. Como se tudo antes disso fosse apenas o outro lado de uma
cortina branca. Incluindo você.
- Mas como você me conhece? - Ele sentiu como se os muros girassem ao seu redor.
Teresa voltou-se para ele.
- Eu não sei. Alguma coisa sobre antes de virmos para o Labirinto. Alguma coisa sobre
nós. Está praticamente vazio, como eu disse.
- Você sabe sobre o Labirinto? Quem contou? Você acabou de acordar.
- Eu... Está tudo muito confuso neste momento. - Ela suspendeu a mão. - Mas sei que você
é meu amigo.
Quase atordoado, Thomas afastou a manta e inclinou-se para frente, para apertar a mão
dela.
- Gosto de ouvir você me chamar de Tom. - Assim que a frase saiu, ele não teve dúvidas
de que não poderia ter falado algo mais imbecil.
Teresa rolou os olhos.
- Esse é o seu nome, não é?
- É, sim, mas a maioria das pessoas me chama de Thomas. Bem, a não ser Newt... ele me
chama de Tommy. Tom me faz sentir... como se estivesse em casa ou algo parecido. Muito
embora eu não saiba o que é estar em casa. - Ele deu uma risada amarga. - Acho que estamos
bem encrencados, hein?
Ela sorriu pela primeira vez, e ele quase precisou desviar o olhar, como se algo tão bonito
não pertencesse a um lugar assim sombrio e cinzento, como se não tivesse o direito de
observar a expressão dela.
- É, sim, estamos encrencados - confirmou ela. - E eu estou morrendo de medo.
- Também estou, acredite em mim. - O que era definitivamente a frase do dia.
Um longo momento se passou, os dois olhando para o chão.
- O que você... - ele começou, sem saber muito bem como perguntar. - Como... você falou
dentro da minha mente?
Teresa abanou a cabeça. "Não tenho ideia... simplesmente faço", ela pensou para ele.
Depois voltou a falar em voz alta.
- É como se você tentasse andar de bicicleta aqui... se eles tivessem uma. Aposto que faria
sem pensar. Mas você se lembra de ter aprendido a pedalar?
- Não. Quer dizer... lembro de andar de bicicleta, mas não de aprender. - Ele fez uma
pausa, sentindo uma onda de tristeza. - Nem de quem me ensinou.
- Bem - disse ela, os olhos trêmulos como se ficasse sem jeito diante da tristeza
inesperada. - Enfim... é mais ou menos isso.
- É, esclarece tudo.
Teresa deu de ombros.
- Você não contou a ninguém, contou? Vão pensar que somos loucos.
- Bem... quando aconteceu da primeira vez, contei. Mas acho que o Newt deve pensar que
eu estava estressado ou coisa parecida. - Thomas sentiu-se irrequieto, como se fosse
enlouquecer se não se movesse. Ele se levantou e começou a andar de um lado para o outro na
frente dela. - Precisamos entender o que está acontecendo. Aquele bilhete estranho que você
trouxe dizendo ser a última pessoa a vir pra cá, o seu coma, o fato de poder conversar comigo
telepaticamente. Tem alguma ideia?
Teresa acompanhou-o com o olhar enquanto ele ia de um lado para o outro.
- Poupe o fôlego e pare de perguntar. A única coisa que tenho são impressões distantes...
que você e eu éramos importantes um para o outro, que de alguma forma estávamos
acostumados um com o outro. Que somos inteligentes. Que viemos aqui por uma razão. Sei que
desencadeei o Término, seja lá o que isso signifique. - Ela gemeu, enrubescendo
violentamente. - As minhas lembranças são tão inúteis quanto as suas.
Thomas ajoelhou-se na frente dela.
- Não são, não. Quer dizer, o fato de você saber que a minha memória foi arrancada sem
precisar me perguntar... e essa outra coisa. Você está muito à frente de mim e de todos os
outros.
Os seus olhares se encontraram por um longo tempo; pareceu para ele que a mente dela
girava, tentando dar um sentido para tudo aquilo.
"Só que eu não sei", disse-lhe ela mentalmente.
- Olhe aí você de novo - falou Thomas em voz alta, embora estivesse aliviado por não se
perturbar mais com essa capacidade dela. - Como é que você consegue fazer isso?
- Eu apenas faço, e aposto que você também é capaz.
- Bem, não diria que estou muito ansioso para tentar. - Ele voltou a sentar-se e encolheu as
pernas como ela fizera. - Você disse alguma coisa para mim... nos meus pensamentos... pouco
antes de me encontrar aqui. Você disse: "O Labirinto é um código". O que quis dizer com
isso?
Ela abanou a cabeça ligeiramente.
- Assim que acordei, foi como se tivesse entrado em um hospício... todos aqueles caras
estranhos em volta da minha cama, o mundo girando ao meu redor, as lembranças rodopiando
na minha cabeça. Tentei me livrar deles e acho que acertei um. Não me lembro realmente por
que disse isso.
- Aconteceu mais alguma coisa?
- Na verdade, sim. - Ela arregaçou a manga do braço esquerdo, expondo o bíceps. Havia
letras miúdas escritas na pele em tinta escura.
- O que é isso? - ele perguntou, inclinando-se para ver melhor.
- Leia por si mesmo.
As letras eram difíceis de distinguir, mas ele conseguiu entender quando se aproximou
bem o bastante.
CRUEL é bom
O coração de Thomas bateu mais forte.
- Já vi essa palavra... cruel. - Ele vasculhou na mente tentando entender o que poderia
significar aquela frase. - Em uns seres pequenos que vivem aqui. Os besouros mecânicos.
- O que são eles? - ela quis saber.
- São maquininhas parecidas com um lagarto que nos espionam para os Criadores... as
pessoas que nos mandaram para cá.
Teresa considerou a informação por um instante, olhando para o vazio. Depois voltou-se
para o próprio braço.
- Não me lembro por que escrevi isto - disse ela, enquanto umedecia o polegar e
começava e esfregar as palavras. - Mas não me deixe esquecer... deve ter algum significado.
As três palavras giravam sem parar na mente de Thomas.
- Quando escreveu isso?
- Quando acordei. Deixaram uma caneta e um bloco de anotações ao lado da cama. Na
comoção, eu escrevi.
Thomas estava perplexo com a garota - primeiro a ligação que sentira com ela desde o
começo, depois a capacidade de se comunicar mentalmente, agora isso.
- Tudo sobre você é bem estranho. Você já deve saber, certo?
- A julgar pelo seu esconderijo, eu diria que você também não é tão normal. Gosta de
viver no mato, né?
Thomas tentou ficar sério, mas sorriu. Sentia-se ridículo, e envergonhado por se esconder.
- Bem, você me parece familiar e diz que somos amigos. Acho que vou confiar em você.
Ele estendeu a mão para outro aperto e ela a pegou, segurando-a por um longo tempo. Um
arrepio atravessou Thomas de maneira surpreendentemente agradável.
- Tudo o que eu quero é voltar pra casa - disse ela, finalmente soltando a mão dele. -
Assim como todos vocês.
Thomas sentiu um aperto no coração ao voltar de chofre à realidade e lembrar-se de como
o mundo ficara sombrio.
- É, bem, as coisas estão muito difíceis no momento. O sol desapareceu e o céu ficou
cinzento, não nos mandaram os suprimentos semanais... parece que tudo vai se acabar de uma
forma ou de outra.
Mas, antes de Teresa poder responder, Newt apareceu correndo entre as árvores.
- Mas como foi que... - disse enquanto se colocava à frente deles.
Alby e alguns outros vinham logo atrás dele. Newt olhou para Teresa.
- Como veio parar aqui? O Socorrista disse que você estava lá num instante e no outro
tinha desaparecido.
Teresa levantou-se, surpreendendo Thomas com a sua segurança.
- Acho que o garoto se esqueceu de contar a parte em que dei um chute bem naquele lugar
dele e pulei a janela.
Thomas quase deu uma risada enquanto Newt virava-se para um rapaz mais velho parado
ali perto, cujo rosto enrubescera violentamente.
- Parabéns, Jeff - falou Newt. - Você é oficialmente o primeiro cara aqui a ser derrotado
por uma garota.
Teresa não se deteve.
- Continue falando assim e será o próximo.
Newt voltou-se para encarar Thomas e a garota, mas o seu rosto mostrava tudo menos
medo. Ele ficou parado, só olhando para eles. Thomas devolveu o olhar, imaginando o que
passava pela cabeça do rapaz mais velho.
Alby adiantou-se.
- Estou cheio disso. - Apontou para o peito de Thomas, quase tocando-o. - Quero saber
quem é você, quem é essa trolha aqui e como vocês dois se conhecem.
Thomas quase afrouxou.
- Alby, eu juro...
- Ela veio direto até você depois de acordar, cara de mértila!
A raiva cresceu dentro de Thomas - e a preocupação de que Alby se comportasse como
Ben.
- E daí? Eu a conheço, ela me conhece... ou pelo menos nos conhecíamos. Isso não
significa nada! Não consigo me lembrar de nada. Nem ela.
Alby olhou para Teresa.
- O que você fez?
Thomas, confuso com a pergunta, voltou-se para Teresa e viu que ela sabia o que ele
queria dizer. Mas não respondeu.
- O que você fez! - Alby gritou. - Primeiro o céu, agora isso.
- Eu desencadeei alguma coisa - respondeu ela com voz calma. - Não de propósito, eu
juro. O Término. Não sei o que isso significa.
- Qual o problema, Newt? - Thomas indagou, sem querer falar com Alby diretamente. - O
que aconteceu?
Mas Alby o agarrou pela camisa.
- O que aconteceu? Vou te contar o que aconteceu, trolho. Estava ocupado demais com
esses olhinhos adoráveis para dar uma espiada por aí? Para se incomodar em perceber como
o tempo enlouqueceu?
Thomas olhou para o relógio, percebendo horrorizado o que deixara escapar, sabendo o
que Alby estava prestes a dizer antes que ele dissesse.
- Os muros, seu mértila. As Portas. Elas não fecharam à noite.
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário

Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

Total de visualizações

Seguidores

Livros populares

Search