domingo, 14 de junho de 2015

Capítulo 37


Thomas emudeceu. Tudo seria diferente agora. Sem sol, sem suprimentos, sem proteção
contra os Verdugos. Teresa estava certa desde o começo - tudo tinha mudado. Thomas sentiu
como se o ar que respirava ficasse sólido, preso na garganta.
Alby apontou para a garota.
- Quero ela presa. Agora. Billy! Jackson! Ponham ela no Amansador, e ignorem qualquer
palavra que saia da sua boca de mértila.
Teresa não reagiu, mas Thomas fez o bastante pelos dois.
- O que está dizendo? Alby, você não pode... - Ele parou quando Alby lançou-lhe um olhar
de tal forma feroz que fez seu coração hesitar. - Mas... como pode acusá-la pelos muros não
terem fechado?
Newt aproximou-se, pousou a mão de leve sobre o peito de Alby e deslocou-o para trás.
- Como não podemos, Tommy? Ela mesma admitiu!
Thomas voltou-se para olhar para Teresa, empalidecendo com a tristeza que viu nos olhos
azuis. Sentia como se alguém tivesse atravessado o seu peito e espremido o seu coração.
- Dê-se por contente por não ir junto com ela, Thomas - falou Alby, dirigindo um último
olhar para eles antes de sair. Thomas nunca tivera tanta vontade de esmurrar alguém.
Billy e Jackson adiantaram-se e agarraram Teresa pelos braços, começando a acompanhá-
la para fora dali. Antes que chegassem às árvores, porém, Newt os deteve.
- Fiquem com ela. Não me importa o que aconteça, ninguém vai tocar nessa garota. Podem
apostar a vida nisso.
Os dois guardas concordaram, depois se afastaram, Teresa a reboque. Thomas sofreu
ainda mais ao ver como ela se foi de boa vontade. E não podia acreditar no quanto estava
triste... queria continuar conversando com ela. "Mas acabei de conhecê-la", pensou. "Nem
mesmo sei quem ela é direito." Ainda assim, sabia que não era verdade. Já sentia uma
afinidade que só podia existir por conhecê-la antes da existência desprovida de memória na
Clareira.
"Venha me visitar", ela lhe falou mentalmente.
Ele não sabia como fazer isso, como falar com ela daquele modo. Mas tentou assim
mesmo.
"Eu vou. Pelo menos estará segura lá."
Ela não respondeu.
"Teresa? "
Nada.
Nos trinta minutos seguintes ocorreu uma erupção de confusões.
Embora não tivesse havido nenhuma mudança sensível na luz desde que o sol e o céu azul
haviam deixado de surgir de manhã, parecia que uma escuridão espalhava-se sobre a Clareira.
Quando Newt e Alby se reuniram com os Encarregados e os instruíram a distribuir
responsabilidades e fazer com que os seus grupos estivessem na Sede dentro de uma hora,
Thomas sentiu-se nada mais do que um espectador, sem saber como poderia ajudar.
Os Construtores - sem o seu líder, Gally, que ainda não aparecera - receberam ordens de
erguer barricadas diante de cada Porta aberta; eles obedeceram, embora Thomas soubesse que
não teriam tempo suficiente e que não havia materiais que permitissem um bom resultado.
Teve a impressão que os Encarregados, ao manter as pessoas ocupadas, tentavam retardar os
inevitáveis ataques de pânico. Thomas ajudou enquanto os Construtores reuniam todos os
objetos soltos que pudessem encontrar e os empilhavam nas aberturas, prendendo as coisas
umas nas outras da melhor maneira possível. Aquilo lhe parecia horrível, ridículo e o
aterrorizava - não havia como proteger-se dos Verdugos.
Enquanto trabalhava, Thomas vislumbrava de relance as outras tarefas executadas em toda
a Clareira.
Todas as lanternas existentes tinham sido reunidas e distribuídas ao máximo de pessoas
possível; Newt dissera ter planejado que todo mundo dormisse na Sede naquela noite, e que
apagassem todas as luzes, a não ser em situações de emergência. A tarefa de Caçarola era tirar
todos os alimentos não perecíveis da cozinha e armazená-los na Sede, para o caso de ficarem
presos lá. Thomas mal podia imaginar quanto isso seria horrível. Outros reuniam os
suprimentos e ferramentas; Thomas viu Minho transportando armas do porão para o prédio
principal. Alby deixara claro que não tinham escolha: precisavam transformar a Sede na sua
fortaleza e deviam fazer o que fosse preciso para defendê-la.
Thomas finalmente safou-se dos Construtores e ajudou Minho, carregando caixas de facas
e rolos de arame farpado. Depois Minho falou que tinha uma incumbência especial da parte de
Newt, e mais ou menos disse para Thomas se afastar, recusando-se a responder qualquer uma
das suas perguntas.
Isso deixou Thomas chateado, mas ele partiu assim mesmo, querendo conversar com Newt
sobre outra coisa. Finalmente o encontrou, cruzando a Clareira a caminho do Sangradouro.
- Newt! - chamou, correndo para alcançá-lo. - Você precisa me escutar.
Newt parou tão de repente que Thomas quase se chocou contra ele. O rapaz mais velho
virou-se e dirigiu um olhar tão aborrecido para Thomas que ele pensou duas vezes antes de
dizer alguma coisa.
- Seja rápido - falou Newt.
Thomas quase se arrependeu, sem saber como dizer o que estava pensando.
- Você precisa soltar a garota. Teresa. - Ele sabia que ela só poderia ajudar, que poderia
lembrar-se de alguma coisa importante.
- Ah, que bom saber que vocês dois estão se dando bem. - Newt começou a se afastar. -
Não perca o seu tempo, Tommy.
Thomas segurou-o pelo braço.
- Escute! Tem alguma coisa a ver com ela... acho que ela e eu fomos mandados aqui para
ajudar a acabar com toda esta coisa.
- Está bem... terminar tudo deixando os malditos Verdugos entrarem aqui e matarem todos?
Já ouvi planos idiotas antes, Fedelho, mas esse ganha disparado.
Thomas gemeu, querendo que Newt soubesse como se sentia frustrado.
- Não, eu não acho que seja isso... os muros não se fecharem.
Newt cruzou os braços; parecia exasperado.
- Fedelho, sobre o que está resmungando aí?
Desde que vira aquelas palavras no muro do Labirinto - catástrofe e ruína universal:
experimento letal -, vinha pensando sobre elas. Sabia que, se havia alguém que lhe daria
crédito, esse alguém seria Newt.
- Acho... acho que estamos aqui como parte de uma espécie de experimento, ou teste, ou
algo parecido. Mas isso deve terminar de algum modo. Não podemos viver aqui para
sempre... quem quer que tenha nos mandado para cá quer o fim disto. De uma maneira ou de
outra. - Thomas sentia-se aliviado por desafogar o peito.
Newt esfregou os olhos.
- E isso deve me convencer de que tudo está bem... que devo soltar a garota? Por que ela
chegou aqui e de repente tudo virou uma questão de vida ou morte?
- Não, você não está entendendo. Não acho que ela tenha alguma coisa a ver com o fato de
estarmos aqui. Ela é apenas um joguete... eles a mandaram aqui como o nosso último
instrumento ou dica ou o que quer que seja para nos ajudar a sair. - Thomas respirou fundo. -
E acho que me mandaram para isso também. O fato de ela ter detonado o Término por si não a
torna uma pessoa ruim.
Newt olhou na direção do Amansador.
- Quer saber de uma coisa, estou pouco me lixando para tudo neste momento. Ela pode
passar uma noite lá... No mínimo, estará mais segura do que nós.
Thomas concordou, vendo nisso um compromisso.
- Tudo bem, vamos aguentar por esta noite, de alguma forma. Amanhã, quando tivermos um
dia inteiro de segurança, podemos pensar no que fazer com ela. Pensar no que devemos fazer.
Newt sorriu com ironia.
- Tommy, o que torna amanhã diferente? Já se passaram dois malditos anos, você sabe.
Thomas teve um sentimento avassalador de que todas aquelas mudanças eram um estopim,
um catalisador para o fim do jogo.
- Porque agora precisamos resolver isso. Seremos forçados a isso. Não podemos mais
continuar vivendo assim, dia após dia, pensando que o que mais importa é voltar para a
Clareira antes que as Portas se fechem, bem abrigados e seguros.
Newt pensou por um minuto parado ali, a agitação dos preparativos da Clareira
envolvendo os dois.
- Ir mais fundo. Permanecer lá fora enquanto os muros se movem.
- Isso mesmo - disse Thomas. - É exatamente disso que estou falando. E talvez possamos
fazer barricadas ou explodir a entrada do Buraco dos Verdugos. Encontrando tempo para
analisar o Labirinto.
- Alby não vai querer soltar a garota - falou Newt, inclinando a cabeça na direção da
Sede. - Aquele cara não tem vocês dois em muita consideração. Mas no momento precisamos
nos preparar e chegar até de manhã.
Thomas concordou.
- Vamos conseguir afugentá-los.
- Já fez isso antes, não é, Hércules? - Sem sorrir nem mesmo esperar pela resposta, Newt
se afastou, gritando para os garotos terminarem o trabalho e entrarem na Sede.
Thomas ficou contente com a conversa - saíra-se tão bem quanto poderia imaginar.
Decidiu apressar-se e conversar com Teresa antes que fosse tarde demais. Enquanto corria na
direção do Amansador na parte de trás da Sede, ele observou os Clareanos entrando, a
maioria com os braços cheios de uma coisa ou de outra.
Thomas aproximou-se da pequena cadeia e controlou a respiração.
- Teresa? - falou através das barras da janela da cela às escuras.
O rosto dela apareceu do outro lado, olhando para ele.
Ele deixou escapar uma exclamação de surpresa antes de poder se controlar; levaria um
segundo para recobrar o equilíbrio.
- Você às vezes se parece com um fantasma, sabia?
- Muito gentil da sua parte - disse ela. - Obrigada. - No escuro, os olhos azuis pareciam
brilhar como os dos gatos.
- Não tem de quê - respondeu ele, ignorando o sarcasmo. - Escute, estive pensando. - Fez
uma pausa para organizar os pensamentos.
- É bem mais do que posso dizer para aquele idiota do Alby - murmurou ela.
Thomas concordou, mas estava ansioso para expressar o que viera dizer.
- Deve haver um modo de sair deste lugar... só precisamos nos esforçar, passar mais
tempo no Labirinto. E o que você escreveu no seu braço, o que disse sobre o código, tudo tem
um significado, certo? - "Precisa ter", ele pensou. Não podia deixar de sentir alguma
esperança.
- É, sim, estive pensando a mesma coisa. Mas primeiro... não pode me tirar daqui? - As
mãos dela apareceram, agarrando as barras da janela.
Thomas sentiu a vontade ridícula de estender a mão e tocá-las.
- Bem, o Newt disse que talvez amanhã. - Thomas já estava contente por ele ter feito
tamanha concessão. - Você vai precisar passar a noite aí. Na verdade, talvez seja o lugar mais
seguro da Clareira.
- Obrigada por pedir a ele. Deve ser divertido dormir nesse chão frio. - Ela fez sinal para
trás com o polegar. - Mas imagino que um Verdugo não pode entrar por essa janelinha,
portanto estarei bem, certo?
A menção aos Verdugos o surpreendeu - ele não se lembrava de ter comentado a respeito
deles com ela até então.
- Teresa, tem certeza de que se esqueceu de tudo?
Ela pensou por um instante.
- É estranho... acho que me lembro de alguma coisa. A não ser que tenha ouvido as
pessoas conversando enquanto estava em coma.
- Bem, isso não importa agora. Só queria ver você antes de ir lá para dentro para passar a
noite. - Mas ele não queria ir; quase desejou poder entrar no Amansador para ficar com ela.
Sorriu ironicamente por dentro - podia imaginar a resposta de Newt a esse pedido.
- Tom? - chamou Teresa.
Thomas percebeu que olhava para o vazio em devaneio.
- Ah, desculpe. Diga.
Ela recolheu as mãos da janela. Ele só conseguia ver os olhos dela, o brilho claro da sua
pele.
- Não sei se consigo fazer isso... passar toda a noite nesta cela.
Thomas sentiu uma tristeza incrível. Teve vontade de roubar as chaves de Newt e ajudá-la
a fugir. Mas sabia que era uma ideia ridícula. Ela teria de sofrer e se arranjar como podia.
Fitou aqueles olhos brilhantes.
- Pelo menos não ficará totalmente escuro. Parece que vamos ter de nos acostumar com
esse lixo de crepúsculo de vinte e quatro horas daqui pra a frente.
- É. - Ela olhou para a Sede atrás dele, depois tornou a fitá-lo. - Sou uma garota forte...
ficarei bem.
Thomas sentiu-se péssimo em deixá-la ali, mas sabia que não tinha escolha.
- Vou falar para eles soltarem você bem cedo, logo de manhã, tudo bem?
Ela sorriu, o que o fez sentir-se melhor.
- Isso é uma promessa, certo?
- Eu prometo. - Thomas fez uma continência, tocando a têmpora direita. - E caso se sinta
sozinha, pode conversar comigo com a sua... habilidade sempre que quiser. Tentarei
responder. - Ele aceitava aquilo agora, quase desejava. Só esperava conseguir descobrir
como responder, para poderem conversar.
"Logo você vai conseguir", falou Teresa mentalmente.
- Assim espero. - Ele ficou parado ali, sem querer partir. De jeito nenhum.
- É melhor você ir - disse ela. - Não quero ter o seu assassinato brutal na minha
consciência.
Thomas conseguiu sorrir diante do comentário.
- Tudo bem. A gente se vê amanhã.
E antes que pudesse mudar de ideia, escapuliu dali, passando pela esquina do prédio em
direção à porta da frente da Sede, exatamente quando o último par de Clareanos entrava, com
Newt tocando-os como galinhas extraviadas. Thomas entrou também, seguido de Newt, que
fechou a porta atrás de si.
Antes que ele a trancasse, Thomas pensou ter ouvido o primeiro gemido horripilante dos
Verdugos, vindo de algum lugar no fundo do Labirinto.
A noite começara.
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Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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