domingo, 14 de junho de 2015

Capítulo 39


Gally parecia fora de si com os olhos arregalados; as suas roupas estavam em frangalhos e
imundas. Ele caiu de joelhos e ficou ali, o peito arfando com a respiração pesada, sugando o
ar como se fosse sufocar. Correu os olhos pela sala como um cão raivoso em busca de alguém
para morder. Ninguém disse uma palavra. Era como se todos acreditassem - como Thomas -
que Gally fosse apenas um invento da sua imaginação.
- Eles vão matar vocês! - gritou Gally, respingando saliva para todos os lados. - Os
Verdugos vão matar todos vocês... um a cada noite até tudo estar acabado!
Thomas observou, perplexo, quando Gally levantou-se com esforço e avançou para eles,
arrastando a perna direita, mancando pesadamente. Ninguém no quarto moveu um músculo
enquanto assistia à cena, todos surpresos demais para esboçar alguma reação. Até mesmo
Newt permanecia mudo como um túmulo. Thomas estava quase com mais medo do visitante
inesperado do que do ataque dos Verdugos do lado de fora da janela.
Gally parou, equilibrando-se poucos passos à frente de Thomas e Newt; apontou para
Thomas com um dedo ensanguentado.
- Você... - disse com um sorriso de escárnio tão exagerado que passou de cômico a
perturbador. - É tudo culpa sua! - Sem avisar, ele lançou a mão esquerda, o punho fechado
projetando-se até chocar-se contra a orelha de Thomas. Thomas deu um grito e caiu no chão,
mais tomado de surpresa do que de dor. Levantou-se de imediato assim que atingiu o chão.
Newt finalmente despertara do seu torpor e dera um empurrão em Gally, que cambaleou
para trás e esborrachou-se sobre uma escrivaninha ao lado da janela. O abajur rolou para o
lado e desfez-se em pedaços no chão. Thomas imaginou que Gally revidaria, mas ele se
recompôs e, em vez disso, dirigiu a todos um olhar ensandecido.
- Não tem mais jeito - disse ele, a voz agora baixa e distante, espectral. - O maldito
Labirinto vai matar todos vocês, seus trolhos... Os Verdugos vão matar vocês... um a cada
noite até tudo estar acabado... É... É melhor que seja assim... - Os seus olhos projetaram-se
para o chão. - Eles vão matar todos vocês... um por noite ... suas estúpidas Variáveis...
Thomas ouviu assombrado, tentando dominar o medo para poder memorizar tudo o que o
garoto enlouquecido dizia.
Newt deu um passo à frente.
- Gally, cale essa maldita boca... Tem um Verdugo bem em cima da janela. Agora sente-se
aí e fique quieto... Assim, talvez ele vá embora.
Gally levantou a cabeça, os olhos apertados.
- Parece que você não entendeu nada, Newt. Você é idiota demais... sempre foi um grande
idiota. Não tem saída, não há como vencer! Eles vão matar você, todos vocês... um por um!
Gritando a última palavra, Gally lançou-se contra a janela e começou a arrancar as tábuas
como um animal selvagem tentando fugir de uma jaula. Antes que Thomas ou qualquer um
pudesse reagir, ele já arrancara uma tábua, que atirou contra o chão.
- Não! - gritou Newt, correndo na direção dele. Thomas o seguiu para ajudar, sena
acreditar no que estava acontecendo.
Gally arrancava a segunda tábua no instante em que Newt o alcançou. Ele girou-a para trás
com as duas mãos e acertou a cabeça de Newt, lançando-o esparramado sobre a cama
enquanto um pequeno borrifo de sangue manchava os lençóis. Thomas aproximou-se, pronto
para uma luta.
- Gally! - gritou. - O que você está fazendo?
O garoto plantou os pés no chão, bufando como um cão esbaforido.
- Feche já essa boca suja, Thomas. Cale a boca! Eu sei quem você é, mas não me importa
mais. Só vou fazer o que é certo.
Thomas sentiu como se os seus pés tivessem criado raízes no chão. Estava completamente
surpreso com o que Gally dissera. Observou o garoto voltar-se e soltar a última tábua. No
instante em que a tábua arrancada alcançou o chão do quarto, o vidro da janela explodiu para
dentro como um enxame de vespas de cristal. Thomas cobriu o rosto e caiu no chão, agitando
as pernas para arrastar o corpo para o mais longe possível. Quando bateu na cama, recompôsse
e olhou para cima, pronto para ver o seu mundo chegar ao fim.
O corpo pulsante e bulboso de um Verdugo achava-se enfiado pela metade através da
janela destruída, os braços metálicos com pinças agitados e tentando agarrar alguma coisa em
todas as direções. Thomas estava tão aterrorizado que mal percebera que todo mundo no
quarto fugira para o corredor - a não ser Newt, que jazia inconsciente sobre a cama.
Paralisado, Thomas observou quando um dos longos braços do Verdugo adiantou-se para
o corpo inerte. Isso foi o que bastou para libertá-lo do medo. Levantando-se com dificuldade,
apalpou o chão ao redor em busca de uma arma. Tudo o que encontrou foram facas - não
teriam utilidade nenhuma no momento. O pânico explodiu dentro dele, consumindo-o.
Então Gally tornou a falar; o Verdugo recolheu o braço, como se precisasse da coisa para
ser capaz de observar e ouvir. Mas o corpo permaneceu pulsando, tentando espremer-se a
todo custo para dentro.
- Ninguém nunca entendeu! - gritava o garoto por sobre o horrível som produzido pela
criatura, que se contraía tentando entrar de vez na Sede, fazendo a parede em pedaços. -
Ninguém nunca entendeu o que eu vi, o que a Transformação fez comigo! Não volte ao mundo
real, Thomas! Você não... quer... se lembrar!
Gally dirigiu a Thomas um olhar demorado e assombrado, a expressão tomada pelo terror;
depois voltou-se e mergulhou de encontro ao corpo enroscado do Verdugo. Thomas gritou
enquanto todos os braços estendidos do monstro imediatamente se retraíram e agarraram Gally
pelos braços e pelas pernas, impossibilitando que ele escapasse ou pudesse ser resgatado. O
corpo do rapaz afundou vários centímetros na carne pegajosa da criatura, produzindo um som
horrível de esmagamento. Depois, com uma velocidade surpreendente, o Verdugo recuou de
volta para o lado de fora do batente estraçalhado da janela e começou a descer para o chão lá
embaixo.
Thomas correu até o buraco escancarado e disforme, olhou para baixo no exato momento
em que o Verdugo chegava ao chão e começava a fugir pela Clareira, o corpo de Gally
aparecendo e desaparecendo enquanto a coisa rolava. As luzes do monstro brilharam com
mais intensidade, lançando um brilho amarelo funesto sobre a pedra da Porta Oeste aberta, por
onde o Verdugo saiu para as profundezas do Labirinto. Então, segundos depois, vários outros
monstros seguiram logo atrás do companheiro, silvando e estalando como se comemorassem
uma vitória.
Thomas estava enjoado a ponto de vomitar. Ele começou a recuar da janela, mas alguma
coisa do lado de fora atraiu a sua atenção. Rapidamente se inclinou para fora do prédio para
olhar melhor. Uma forma solitária corria através do pátio da Clareira em direção à saída pela
qual Gally acabara de ser levado.
Apesar da luz fraca, Thomas reconheceu imediatamente quem era. Então gritou - gritou
para que parasse -, mas era tarde demais.
Minho corria a toda velocidade, desaparecendo no Labirinto
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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