domingo, 16 de agosto de 2015

AMY ELLIOTT DUNNE 15 DE FEVEREIRO DE 2012


ANOTAÇÃO EM DIÁRIO
Que época estranha, esta. Tenho de pensar dessa forma, tentar examiná-la a distância: Rá-rá,
que período estranho será este de relembrar, como ficarei divertida quando tiver oitenta anos,
vestindo lavanda desbotada, uma figura sábia e divertida preparando martínis, e isso não será
uma história e tanto? Uma história estranha e medonha de algo a que sobrevivi.
Porque há algo terrivelmente errado com meu marido, estou certa disso agora. Sim, ele está
de luto pela mãe, mas é algo mais. Parece dirigido a mim, não uma tristeza, mas... Sinto ele me
observando às vezes, e ergo os olhos e vejo seu rosto contorcido de desgosto, como se tivesse
me flagrado fazendo algo medonho em vez de apenas comendo cereal de manhã ou penteando os
cabelos à noite. Está tão irritado, tão instável que fiquei me perguntando se seu humor está
relacionado a algo físico — uma daquelas alergias a trigo que deixam as pessoas loucas, ou uma
colônia de esporos de mofo que se alojou em seu cérebro.
Desci as escadas certa noite e o encontrei na mesa da sala de jantar, a cabeça nas mãos, olhando para uma pilha de faturas de cartão de crédito. Observei meu marido, totalmente só, sob
a luz de um candelabro. Quis ir até ele, me sentar com ele e resolver tudo como parceiros. Mas
não o fiz, eu sabia que isso o irritaria. Algumas vezes me pergunto se esta é a raiz de seu
desgosto comigo: ele me deixou ver suas deficiências, e me odeia por eu conhecê-las.
Ele me empurrou. Com força. Há dois dias, ele me empurrou, eu caí e bati com a cabeça no
balcão da cozinha e não consegui ver por três segundos. Não sei muito bem o que dizer sobre
isso. Foi mais chocante que doloroso. Eu estava dizendo a ele que poderia conseguir um
emprego, algo como freelance, para podermos começar uma família, ter uma vida de verdade...
“Como você chama isto?”, ele perguntou.
Purgatório, eu pensei. Fiquei calada.
“Como você chama isto, Amy? Hein? Como você chama isto? Isto não é vida segundo a
Senhorita Exemplar?”
“Não é minha ideia de vida”, eu disse, e ele deu três grandes passos na minha direção e eu
pensei: parece que ele vai... E então ele estava se jogando contra mim e eu estava caindo.
Ambos ficamos sem ar. Ele fechou a mão em punho e parecia que ia chorar. Ele estava além
do triste, estava chocado. Mas eis o que quero deixar claro: eu sabia o que estava fazendo, sabia
que estava forçando a barra com ele. Eu o via se fechando cada vez mais — queria que dissesse
algo finalmente, fizesse algo. Mesmo que seja ruim, mesmo que seja o pior, faça algo, Nick. Não
me deixe aqui como um fantasma.
Apenas não me dei conta de que ele iria fazer aquilo.
Nunca havia pensado no que fazer se meu marido me atacasse, porque não faço exatamente
parte do grupo de pessoas que batem nas esposas. (Eu sei, como nos filmes para mulheres que
passam na televisão, eu sei: a violência não respeita barreiras socioeconômicas. Ainda assim:
Nick?) Estou parecendo superficial. Mas parece inacreditavelmente risível: eu sou uma esposa
agredida. Amy Exemplar e o agressor doméstico.
Ele se desculpou profusamente. (Alguém faz algo profusamente além de se desculpar? Suar,
acho.) Concordou em considerar terapia de casal, algo que nunca achei que iria acontecer. O que
é bom. Ele é um homem tão bom, no fundo, que estou disposta a deixar isso para lá, a acreditar
que realmente foi uma anomalia doentia, produzida pelo estresse pelo qual nós dois estamos
passando. Algumas vezes esqueço que todo o estresse que sinto, Nick também sente: ele tem o
fardo de ter me trazido para cá, sente o esforço de querer satisfazer a reclamona, e para um
homem como Nick — que acredita piamente em uma felicidade como resultado da simples
determinação — isso pode ser enfurecedor.
Então o empurrão forte, tão rápido, e pronto, isso não me assustou. O que me assustou foi a
expressão em seu rosto quando eu estava caída no chão, piscando, a cabeça zumbindo. Foi a
expressão em seu rosto enquanto ele se controlava para não dar outro golpe. Quanto queria me
empurrar novamente. Quão difícil foi não fazê-lo. Como ele tem me olhado desde então: culpa e
desgosto pela culpa. Desgosto absoluto.
Eis a parte mais sinistra. Ontem fui de carro até o shopping, onde metade da cidade compra
drogas, e é tão fácil como entrar na farmácia com uma receita; sei porque Noelle me contou: o
marido dela às vezes vai lá comprar um baseado. Mas eu não queria um baseado, queria uma
arma, só para me prevenir. Para o caso de as coisas com Nick darem realmente errado. Só
quando estava quase chegando me dei conta de que era Dia dos Namorados. Era Dia dos
Namorados e eu ia comprar uma arma e depois fazer o jantar do meu marido. E pensei comigo
mesma: O pai de Nick estava certo sobre você. Você é uma piranha burra. Porque se você acha
que seu marido vai machucá-la, você deve ir embora. E no entanto você não pode deixar seu
marido, que está de luto pela mãe morta. Não pode. Você teria de ser uma mulher
biblicamente medonha para fazer isso, a não ser que algo estivesse realmente errado. Você
teria de realmente acreditar que seu marido machucaria você.
Mas eu não acredito realmente que Nick me machucaria.
Apenas me sentiria mais segura com uma arma.
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Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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