domingo, 16 de agosto de 2015

AMY ELLIOTT DUNNE 21 DE JULHO DE 2011


ANOTAÇÃO EM DIÁRIO
Sou uma idiota completa. Algumas vezes olho para mim mesma e penso: Não é de espantar
que Nick me ache ridícula, frívola, mimada, comparada com a mãe dele. Maureen está
morrendo. Ela esconde a doença atrás de grandes sorrisos e largos suéteres bordados,
respondendo a todas as perguntas sobre sua saúde com: “Ah, estou bem, mas como você está,
querida?” Ela está morrendo, mas não vai admitir isso, não ainda. Então me telefonou ontem de
manhã, perguntando se eu queria dar um passeio com ela e as amigas — está tendo um dia bom e
quer ficar fora de casa o máximo possível —, e aceitei imediatamente, embora saiba que não vão
fazer nada que me interesse particularmente: jogos de cartas, como pinochle e bridge, alguma
atividade na igreja, que normalmente envolve separar coisas.
“Passaremos aí em quinze minutos”, informa ela. “Use mangas curtas.”
Limpeza. Deve ter a ver com limpeza. Algo que exija trabalho braçal. Coloco uma camiseta
de mangas curtas e em exatos quinze minutos estou abrindo a porta para Maureen, careca sob um
gorro de tricô, rindo com as duas amigas. Estão todas usando camisetas com a mesma imagem
estampada, sinos e fitas, com as palavras As Plasmães pintadas com air-brush sobre o peito.
Fico achando que elas criaram um grupo de blues, mas então entramos no velho Chrysler de
Rose — velho-velho, daqueles em que o banco da frente ocupa toda a largura, um carro de avó
que cheira a cigarros femininos — e partimos alegremente para o centro de doação de plasma.
“Nós vamos todas as segundas e quintas”, explica Rose, olhando para mim pelo retrovisor.
“Ah”, digo. De que outro jeito eu poderia responder? Ah, esses são ótimos dias para doar
plasma!
“A gente pode doar duas vezes por semana”, diz Maureen, os sinos em seu suéter balançando.
“Na primeira vez você recebe vinte dólares, na segunda, trinta. Por isso todas estão tão animadas
hoje.”
“Você vai adorar”, diz Vicky. “Todas ficam sentadas conversando, como em um salão de
beleza.”
Maureen aperta meu braço e diz em voz baixa: “Não posso mais doar, mas achei que você
poderia ser minha representante. Pode ser um belo modo de você ganhar algum dinheiro... é bom
para uma garota ter seu próprio dinheiro.”
Engulo um breve sopro de raiva. Eu costumava ter mais do que algum dinheiro próprio,
mas eu dei ao seu filho.
Um homem magricela usando uma jaqueta jeans pequena demais está parado no
estacionamento como um cachorro de rua. Do lado de dentro o lugar é limpo. Bem iluminado,
cheirando a pinho, com cartazes cristãos nas paredes, pombas e névoa. Mas sei que não vou
conseguir fazer isso. Agulhas. Sangue. Não suporto nenhum dos dois. Na verdade não tenho
nenhuma outra fobia, mas essas duas são sólidas — eu sou a garota que desmaia quando corta o
dedo com papel. Algo sobre pele se abrindo: descascando, ralando, furando. Durante a quimio
com Maureen, eu nunca olhava quando eles enfiavam a agulha.
“Oi, Cayleese!”, chama Maureen quando entramos, e uma negra pesada em um uniforme
vagamente médico responde: “Oi, Maureen! Como está se sentindo?”
“Ah, estou bem, bastante bem — mas como você está?”
“Há quanto tempo você faz isso?”, pergunto.
“Há algum tempo”, diz Maureen. “Cayleese é a preferida, enfia a agulha bem suavemente. O
que sempre foi bom para mim, porque as minhas fogem.” Ela estende seu antebraço com grossas
veias azuis. Quando conheci Mo, ela era gorda, mas não mais. É estranho, ela na verdade fica
melhor gorda. “Olha, tente colocar o dedo numa.”
Olho ao redor, esperando que Cayleese venha nos levar para dentro.
“Vamos lá, tente.”
Coloco a ponta do dedo na veia e a sinto fugir para o lado. Uma onda de calor sobe dentro de
mim.
“Então, essa é nossa nova recruta?”, pergunta Cayleese, de repente ao meu lado. “Maureen
fala bem de você o tempo todo. Vamos precisar que preencha uma papelada...”
“Lamento, não posso. Não suporto agulhas, não posso ver sangue. Tenho uma fobia grave. Eu
literalmente não posso fazer isso.”
Eu me dou conta de que não comi hoje, e uma tonteira toma conta de mim. Meu pescoço
parece fraco.
“Tudo aqui é muito higiênico, você está em ótimas mãos”, diz Cayleese.
“Não, não é isso, de verdade. Nunca tirei sangue. Meu médico fica bravo comigo porque não
dou conta nem de um exame de sangue anual para, sei lá, colesterol.”
Em vez disso, esperamos. Leva duas horas, Vicky e Rose presas a máquinas que giram. Como
se estivessem sendo colhidas. Até marcaram os dedos delas, para que não possam doar mais de
duas vezes por semana em nenhum lugar — as marcas aparecem sob uma luz violeta.
“Essa é a parte James Bond da coisa”, diz Vicky, e todas riem. Maureen cantarola a música
tema de Bond (acho) e Rose faz uma arma com os dedos.
“Será que vocês, galinhas velhas, não conseguem ficar quietas nem sequer uma vez?”, fala
uma mulher de cabelos brancos quatro poltronas depois. Ela se inclina sobre os corpos
reclinados de três homens gordurosos — tatuagens verde-azuladas nos braços, barba por fazer no
queixo, o tipo de homem que eu imaginava doando plasma — e acena com um dedo do braço
livre.
“Mary! Achei que você só viesse amanhã!”
“Era o plano, mas meu seguro-desemprego está uma semana atrasado e eu estava reduzida a
uma caixa de cereal e uma lata de creme de milho!”
Todas riem, como se quase morrer de fome fosse divertido — esta cidade algumas vezes é
demais, tão desesperada e tão cega em relação a isso. Começo a me sentir mal, o som de sangue
girando, as compridas fitas plásticas de sangue indo de corpos para máquinas, as pessoas sendo,
sei lá, ordenhadas. Sangue por todo lado, à mostra, onde não deveria estar. Denso e escuro,
quase roxo.
Levanto-me para ir ao banheiro, jogar água fria no rosto. Dou dois passos e meus ouvidos se
fecham, meu campo de visão estreita, sinto meu próprio batimento cardíaco, meu próprio sangue,
e enquanto caio, digo: “Ah. Desculpe-me.”
Mal me lembro da volta para casa. Maureen me põe na cama, um copo de suco de maçã e
uma tigela de sopa ao meu lado. Tentamos ligar para Nick. Go diz que ele não está n’O Bar, e ele
não atende ao telefone.
O homem desaparece.
“Ele também era assim quando menino, ele é um ser errante”, diz Maureen. “A pior coisa que
você podia fazer com ele era deixá-lo de castigo no quarto.” Ela coloca um pano úmido e frio em
minha testa; seu hálito tem o cheiro ácido de aspirina. “Sua obrigação é descansar, está bem?
Vou continuar telefonando até trazer aquele garoto para casa.”
Quando Nick chega em casa, estou dormindo. Acordo e o ouço tomando banho, e verifico a
hora: onze e quatro da noite. Ele deve ter ido para O Bar, finalmente — ele gosta de uma
chuveirada depois do turno, tirar do corpo o cheiro de cerveja e pipoca salgada. (Diz ele.)
Ele desliza para a cama, e quando me viro para ele de olhos abertos, ele parece consternado
que eu esteja acordada.
“Passamos horas tentando achar você”, digo.
“Meu telefone estava sem bateria. Você desmaiou?”
“Você não disse que seu telefone estava sem bateria?”
Ele faz uma pausa e sei que está prestes a mentir. O pior sentimento: quando você tem
simplesmente que esperar e se preparar para a mentira. Nick é antiquado, ele precisa de sua
liberdade, não gosta de se explicar. Ele sabe que tem planos com os amigos uma semana antes,
mas ainda assim espera até uma hora antes do jogo de pôquer para me dizer, despreocupado: “Ei,
então, pensei em jogar pôquer com o pessoal esta noite se não for problema para você”, e me
deixar ser a vilã da história se eu tiver feito outros planos. A gente nunca quer ser a esposa que
impede o marido de jogar pôquer — não quer ser a megera com os bobes no cabelo e o rolo de
macarrão. Então você engole sua decepção e diz que tudo bem. Não acho que ele faça isso por
maldade, apenas foi criado assim. O pai sempre fazia o que queria, e a mãe aceitava. Até se
divorciar dele.
Ele começa sua mentira. Eu nem presto atenção.
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Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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