sábado, 15 de agosto de 2015

AMY ELLIOTT DUNNE 5 DE JULHO DE 2008


ANOTAÇÃO EM DIÁRIO
Estou gorda de amor! Corpulenta de ardor! Morbidamente obesa de devoção! Uma abelha
feliz e ocupada com o entusiasmo matrimonial. Chego até a zumbir quando estou perto dele,
cuidando e arrumando. Eu me tornei uma coisa estranha. Eu me tornei uma esposa. Eu me vejo
mudando o rumo de conversas — grosseiramente, sem naturalidade — apenas para poder dizer o
nome dele em voz alta. Eu me tornei uma esposa, me tornei uma chata, pediram que devolvesse
minha carteira de Jovem Feminista Independente. Não me importo. Eu controlo as contas, corto
seu cabelo. Eu me tornei tão retrô que em algum momento provavelmente usarei a palavra valise,
passando pela porta com meu gracioso casaco de tweed, os lábios pintados de carmim, a
caminho do salão de beleza. Nada me aborrece. Parece que tudo ficará bem, todo aborrecimento
transformado em uma história divertida a ser contada no jantar. Então, eu matei um mendigo
hoje, querido... Rá rá rá rá rá! Ah, como nós nos divertimos!
Nick é como um bom drinque forte: dá a perspectiva correta para tudo. Não uma perspectiva
diferente, a perspectiva correta. Com Nick, eu me dou conta de que, na verdade, de fato não
importa se a conta de luz está alguns dias atrasada, se meu último teste de personalidade ficou
meio ruim. (Sem brincadeira, meu último foi: “Que tipo de árvore você seria?” Eu sou uma
macieira! Isso não significa nada!) Não importa se o novo Amy Exemplar foi devidamente
arrasado, as resenhas cruéis, as vendas despencando após um começo já inseguro. Não importa
de qual cor pinto nosso quarto ou quanto tempo o trânsito me faz perder ou se nosso lixo
reciclável não é realmente reciclado. (Vamos lá, fale a verdade para mim, Nova York: ele é?)
Não importa, porque encontrei meu par. É Nick, descontraído e calmo, inteligente, divertido e
simples. Nada torturado, feliz. Legal. Pênis grande.
Todas as coisas de que eu não gosto em mim foram empurradas para o fundo do meu cérebro.
Talvez seja disso que mais goste nele, o modo como ele me faz. Não me faz sentir, apenas me faz.
Sou divertida. Sou brincalhona. Sou decidida. Eu me sinto naturalmente feliz e totalmente
satisfeita. Eu sou uma esposa! É estranho dizer essas palavras. (Falando sério, sobre o lixo
reciclável, Nova York — vamos lá, me dê pelo menos uma piscadela.)
Nós fazemos coisas bobas, tipo no fim de semana passado, quando fomos de carro até
Delaware porque nenhum de nós nunca tinha transado em Delaware. Veja a cena, porque essa
realmente é para a posteridade. Cruzamos a divisa do estado — Bem-vindo a Delaware!, diz a
placa, e também: Pequena Maravilha, e também: O Primeiro Estado, e também: Terra das
Compras Sem Impostos.
Delaware, um estado de muitas e ricas identidades.
Mostro para Nick a primeira estrada de terra que vejo e sacudimos por cinco minutos até
ficarmos cercados de pinheiros por todos os lados. Não falamos. Ele empurra o banco dele para
trás. Eu levanto minha saia. Estou sem calcinha, posso ver sua boca se abrir e o rosto
descontrair, o olhar drogado e determinado que ele tem quando está excitado. Monto nele de
costas, de frente para o para-brisa. Estou apertada contra o volante, e, quando nos mexemos
juntos, a buzina emite toques curtos que me imitam, e minha mão faz um barulho molhado à
medida que a pressiono contra o para-brisa. Nick e eu conseguimos gozar em qualquer lugar,
nenhum de nós tem medo do palco, é algo de que nos orgulhamos bastante. Depois voltamos
direto para casa. Eu, comendo pedaços de carne desidratada, com os pés descalços no painel.
Adoramos nossa casa. A casa que Amy Exemplar construiu. Uma casa de tijolos vermelhos
no Brooklyn que meus pais compraram para nós bem na Promenade, com uma ampla vista de
Manhattan. É extravagante, faz com que eu me sinta culpada, mas é perfeita. Eu luto como posso
contra a aparência de menina rica mimada. Muito trabalho manual. Pintamos nós mesmos as
paredes, em dois fins de semana: verde-primavera, amarelo-claro e azul-aveludado. Na teoria.
Nenhuma das cores ficou como achamos que ficaria, mas mesmo assim fingimos gostar delas.
Enchemos nossa casa com badulaques de brechós; compramos vinis para o toca-discos de Nick.
Ontem à noite nos sentamos no velho tapete persa, tomamos vinho e escutamos os velhos
arranhões no vinil enquanto o céu escurecia e Manhattan se acendia, e Nick disse: “Foi assim que
sempre imaginei. Exatamente assim que imaginei.”
Nos fins de semana, conversamos sob quatro camadas de cobertores, nosso rosto quente
sobre um edredom amarelo iluminado pelo sol. Até mesmo as tábuas do piso são alegres: há duas
tábuas velhas rangentes que nos chamam assim que passamos pela porta. Adoro isso, adoro que
seja nosso, que tenhamos uma grande história por trás da antiga luminária de piso, ou da caneca
de cerâmica deformada que fica ao lado de nossa cafeteira, sempre vazia a não ser por um único
clipe de papel. Passo meus dias pensando em coisas gentis que eu poderia fazer por ele —
comprar um sabonete de hortelã que ficará em sua mão como uma pedra quente, ou talvez um fino
filé de truta que eu possa preparar e servir para ele, uma ode a seus dias de barco fluvial. Eu sei,
sou ridícula. Mas adoro — nunca soube que eu era capaz de ser ridícula por um homem. É um
alívio. Chego a ficar extasiada com suas meias, que ele consegue largar em adoráveis poses
retorcidas, como se um cãozinho a tivesse trazido de outro aposento.
Estamos fazendo um ano de casados, e estou inchada de amor, embora as pessoas
continuassem a nos dizer que o primeiro ano ia ser difícil, como se fôssemos crianças ingênuas
marchando para a guerra. Não foi difícil. Fomos feitos para nos casar. É nosso aniversário de um
ano e Nick vai sair do trabalho na hora do almoço; minha caça ao tesouro espera por ele. As
pistas são todas sobre nós, sobre o ano passado juntos:
Sempre que meu querido maridinho fica resfriado
É esse prato que logo será comprado.
Resposta: a sopa tom yum do Thai Town na President Street. O gerente estará lá esta tarde
com uma tigelinha e a pista seguinte.
Também o McMann’s, em Chinatown, e a estátua de Alice no Central Park. Uma grandiosa
excursão por Nova York. Terminaremos no mercado de peixe da Fulton Street, onde comprarei
duas belas lagostas e levarei o recipiente no colo enquanto Nick se remexe nervosamente ao meu
lado no táxi. Correremos para casa, e eu as jogarei em uma panela nova em nosso fogão velho
com toda a fineza de uma garota que passou muitos verões em Cape, com Nick rindo e fingindo
se esconder de medo atrás da porta da cozinha.
Eu tinha sugerido que comêssemos hambúrgueres. Nick queria que saíssemos — um cinco
estrelas, elegante —, que fôssemos a algum lugar com uma sequência de pratos e garçons citando
nomes de famosos. Então as lagostas são um meio caminho perfeito, as lagostas são o que todos
nos dizem (e dizem de novo, e repetem) ser a essência do casamento: compromisso!
Comeremos lagosta com manteiga e transaremos no chão enquanto uma mulher canta para nós
em um de nossos discos de jazz com sua voz vinda do outro lado do túnel. Ficaremos preguiçosa
e lentamente bêbados com um bom scotch, o preferido de Nick. Eu entregarei o presente dele —
os papéis de carta com monograma que ele queria da Crane & Co., com a fonte limpa sem serifa
verde-floresta, no maço de papel cor de creme que conterá a tinta elegante e suas palavras de
escritor. Papéis para um escritor, e para uma esposa de escritor que talvez queira receber uma ou
duas cartas de amor.
Depois talvez façamos sexo de novo. E quem sabe comeremos um hambúrguer no meio da
noite. E mais scotch. Voilà: o casal mais feliz do quarteirão. E ainda dizem que casamento dá
muito trabalho
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Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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