terça-feira, 18 de agosto de 2015

AMY ELLIOTT DUNNE VINTE E SEIS DIAS SUMIDA


Desi está aqui novamente. Ele agora está aqui quase todo dia, desfilando pela casa, de pé na
cozinha quando o pôr do sol ilumina seu perfil, para que eu possa admirá-lo, me levando pela
mão para a sala das tulipas para agradecer-lhe novamente, me lembrando como estou segura e
sou amada.
Ele diz que estou segura e sou amada embora não me deixe sair, o que não faz com que me
sinta segura e amada. Ele não deixa as chaves de nenhum carro. Nem chaves da casa nem a senha
de segurança do portão. Sou uma prisioneira — o portão tem quatro metros e meio de altura, e
não há escadas na casa (eu procurei). Imagino que poderia arrastar vários móveis até o muro,
empilhá-los, escalar e saltar para o outro lado, fugindo mancando ou me arrastando, mas essa não
é a questão. A questão é que sou a estimada e querida hóspede dele, e uma hóspede deve poder
partir quando quiser. Eu mencionei isso há alguns dias.
— E se eu tiver de partir? Imediatamente?
— Talvez eu devesse me mudar para cá — retruca. — Então poderia estar aqui o tempo todo
e mantê-la em segurança, e, se algo acontecer, poderíamos partir juntos.
— E se sua mãe desconfiar, aparecer aqui e encontrar você me escondendo? Seria horrível.
A mãe dele. Eu morreria se a mãe dele aparecesse aqui, pois ela me denunciaria
imediatamente. A mulher me despreza, tudo por causa daquele incidente no ensino médio — tanto
tempo atrás, e ela ainda guarda rancor. Arranhei meu rosto e disse a Desi que ela me atacara (a
mulher era tão possessiva, e tão fria comigo, que bem poderia ter atacado). Não se falaram por
um mês. Certamente fizeram as pazes.
— Jacqueline não sabe a senha. Esta é minha casa no lago. — Faz uma pausa enquanto finge
pensar. — Eu realmente deveria me mudar para cá. Não é saudável para você passar tantas horas
sozinha.
Mas não estou sozinha, não tanto. Estabelecemos uma espécie de rotina em apenas duas
semanas. É uma rotina determinada por Desi, meu carcereiro elegante, meu cortejador mimado.
Desi chega pouco depois do meio-dia, sempre cheirando a algum almoço caro que devorou com
Jacqueline em algum restaurante com toalha de mesa branca, o tipo de lugar ao qual me levaria
caso nos mudássemos para a Grécia. (Esta é a outra opção que ele apresenta repetidamente:
poderíamos nos mudar para a Grécia. Por alguma razão, ele acredita que nunca serei identificada
em uma pequena aldeia de pescadores na Grécia onde ele passou muitos verões e onde sei que
nos imagina tomando vinho, fazendo um amor preguiçoso ao pôr do sol, as barrigas cheias de
polvo.) Ele cheira a almoço quando entra, ele o exala. Deve passar fígado de ganso atrás das
orelhas (assim como a mãe sempre teve um cheiro levemente vaginal — comida e sexo, o fedor
dos Collings, não é uma estratégia ruim.)
Ele entra e me faz salivar. O cheiro. Ele me traz algo bom para comer, mas não tão bom
quanto o que ele comeu: está me emagrecendo, ele sempre preferiu suas mulheres diáfanas. Então
ele me traz adoráveis carambolas verdes, alcachofras pontudas, caranguejos espinhosos,
qualquer coisa que demande uma preparação elaborada e ofereça pouco em troca. Estou quase
com meu peso normal novamente, e meus cabelos estão crescendo. Eu os uso presos com uma
faixa que ele me trouxe, e os pintei de louro novamente, graças a uma tinta que ele também trouxe
para mim.
— Acho que irá se sentir melhor consigo mesma quando começar a parecer mais consigo
mesma, querida — diz ele.
Sim, é tudo pelo meu bem-estar, não pelo fato de que ele quer que eu tenha exatamente a
mesma aparência de antes. Amy circa 1987.
Eu almoço enquanto ele paira ao meu redor, esperando os elogios. (Nunca ter de dizer essa
palavra — obrigada — novamente. Não me lembro de Nick jamais ter parado para me permitir
— me obrigar — a lhe agradecer.) Termino o almoço e ele arruma as coisas o melhor que pode.
Somos duas pessoas desacostumadas a arrumar e limpar as coisas que usamos; o lugar começa a
parecer habitado — manchas estranhas nos balcões, poeira nas janelas.
Uma vez o almoço encerrado, Desi brinca um pouco comigo: meus cabelos, minha pele,
minhas roupas, minha mente.
— Olhe só para você — comenta, colocando meus cabelos para trás das orelhas do modo
como ele gosta, desabotoando uma casa de minha camisa e a afrouxando no pescoço para poder
olhar para o vazio em minha clavícula. Ele coloca o dedo na pequena depressão, enchendo o
vazio. É obsceno. — Como Nick pode ter machucado você, não tê-la amado, ter traído você?
Ele sempre toca nesses pontos, cutucando verbalmente a ferida.
— Não seria adorável simplesmente esquecer Nick, esses cinco anos medonhos, e seguir em
frente? Você tem essa chance, sabe, de recomeçar totalmente com o homem certo. Quantas
pessoas podem dizer isso?
Quero recomeçar com o homem certo, o Novo Nick. As coisas estão parecendo feias para
ele, horríveis. Apenas eu posso salvar Nick de mim. Mas estou presa.
— Se você um dia saísse daqui e eu não soubesse para onde foi, teria de procurar a polícia
— diz ele. — Não teria escolha. Precisaria ter certeza de que você está segura, de que Nick não
está... prendendo você em algum lugar contra a sua vontade. Violando você.
Uma ameaça disfarçada de preocupação.
Agora olho para Desi com uma aversão absoluta. Às vezes sinto que minha pele deve estar
quente de nojo e do esforço de esconder esse nojo. Eu me esquecera de como ele era. A
manipulação, a persuasão ronronante, o tormento delicado. Um homem que acha a culpa erótica.
E se ele não tiver as coisas do seu jeito, puxará algumas alavancas e colocará a punição em
andamento. Ao menos Nick foi homem o bastante para enfiar seu pau em alguma coisa. Desi
empurra e empurra com seus dedos lustrosos e finos até eu dar a ele o que deseja.
Achei que poderia controlar Desi, mas não posso. Sinto que algo muito ruim está prestes a
acontecer.
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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