sábado, 8 de agosto de 2015

CAPÍTULO VIII


Numa bela manhã de junho, nasceu o primeiro bebezinho de quem tive
de cuidar e último rebento do velho ramo dos Earnshaw. Estávamos
juntando o feno, num campo distante, quando a garota que geralmente nos
trazia o desjejum chegou uma hora mais cedo, correndo pelos prados e
chamando por mim.
— Um bebê e tanto! — ofegou ela. — A mais bela criança que eu já vi!
Mas o médico diz que a patroa está muito mal: que há muitos meses que ela
está com a tísica. Ouvi-o falar com o Sr. Hindley. Disse-lhe que não há mais
nada a fazer e que ela vai morrer antes de chegar o inverno. Vá já para casa,
Nelly. Você é que vai ter de alimentá-lo, de lhe dar leite com açúcar e tomar
conta dele, dia e noite. Quem me dera estar no seu lugar, porque ele seria todo meu, quando a patroa se for!
— Mas ela está mesmo assim tão doente? — perguntei, largando o
ancinho e amarrando a minha touca.
— Acho que sim. Mas não parece — replicou a moça —, e fala como
se esperasse viver até ele ser homem. Está louca de alegria, ele é tão bonito!
Se eu fosse ela, tenho a certeza de que não morreria; ficaria melhor só de
olhar para o bebê, apesar do que o médico diz. Fiquei furiosa com ele. A Sra.
Archer levou o anjinho para o patrão vê-lo na sala, e o rosto dele estava se
abrindo num sorriso, quando o pássaro de mau agouro disse: "Earnshaw, é
uma sorte que sua esposa tenha podido lhe dar este filho. Quando ela chegou,
fiquei convencido de que não ia durar muito; e, agora, devo preveni-lo de que o inverno provavelmente dará cabo dela. Não se aflija demasiado! Nada se
pode fazer. Além do mais, você deveria ter tido o cuidado de não escolher
uma mulher tão fraquinha!"
— E que foi que o patrão respondeu? — perguntei.
— Acho que praguejou; mas não prestei atenção, só queria ver o bebê
— e começou a descrevê-lo, entusiasmada. Corri para casa, ansiosa por vê-lo;
mas estava muito triste por Hindley. No seu coração só havia lugar para dois
ídolos: a mulher e ele próprio. Adorava a mulher, e eu não podia imaginar
como ele iria suportar a perda.
Quando cheguei ao Morro dos Ventos Uivantes, lá estava ele, à porta.
Ao entrar, perguntei-lhe: — Que tal o menino?
— Daqui a pouco vai correr por aí, Nell — respondeu, com um sorriso.
— E a patroa? — atrevi-me a perguntar. — O médico diz que. . .
— Para o diabo com o médico! — interrompeu ele, corando. —
Frances está muito bem; daqui a uma semana vai estar perfeitamente. Você
vai subir? Diga-lhe que eu subirei, se ela prometer não falar. Saí do quarto
porque ela não queria ficar calada. Diga-lhe que o Dr. Kenneth mandou dizer
que ela tem de repousar.
Dei o recado à Sra. Earnshaw; ela parecia felicíssima e respondeu,
alegremente:
— Eu mal falei, Ellen, e ele saiu duas vezes do quarto, chorando. Bem,
diga-lhe que eu prometo não falar . . . mas isso não me impede de rir dele!
Pobrezinha! Até a semana da sua morte, o seu alegre coração nunca a
traiu e o marido persistiu, obstinadamente, ou melhor, furiosamente, em
afirmar que a saúde dela melhorava de dia para dia. Quando o Dr. Kenneth lhe disse que os remédios eram inúteis naquela fase da doença e que não
precisava gastar mais dinheiro com ele, Hindley retrucou:
— Bem sei que não é preciso. . . ela está bem e não necessita mais do
seu atendimento! Nunca esteve tísica. Foi só uma febre, mas já acabou. O
pulso dela está agora tão lento quanto o meu e as suas faces tão frescas
quanto as minhas.
Dizia a mesma coisa à esposa, e ela parecia acreditar nele; mas uma
noite, quando, apoiada ao ombro dele, ela lhe dizia que talvez pudesse
levantar-se no dia seguinte, um acesso de tosse, um acesso bem leve, sacudiua.
Ele a tomou ao colo, ela lhe enlaçou o pescoço, o rosto transfigurado, e,
coitadinha, morreu.
Conforme a garota tinha antecipado, o pequenino Hareton ficou
inteiramente aos meus cuidados. Desde que o visse com saúde e não o
ouvisse chorar, o Sr. Earnshaw estava satisfeito quanto ao filho. Quanto a si
próprio, estava desesperado: o seu sofrimento era do tipo que não se lamenta.
Nem chorava nem rezava: amaldiçoava e desafiava, maldizia Deus e os
homens e entregava-se a todas as dissipações. Os criados não suportaram por
muito tempo o seu comportamento amargurado e tirânico. Joseph e eu fomos
os únicos a ficar. Eu, porque não tinha coragem de deixar o bebê e, além do
mais, fora criada com Hindley e sabia perdoar a sua conduta; Joseph, porque
podia mandar à vontade nos rendeiros e nos trabalhadores, e porque a sua
vocação era estar onde houvesse muita impiedade a censurar.
Os maus modos e as más companhias do patrão eram um péssimo
exemplo para Catherine e Heathcliff. A maneira como ele tratava este último
era suficiente para transformar um santo num demônio. E, na verdade, parecia que o rapaz estivesse possuído de algo demoníaco, durante esse
período. Comprazia-se em ver Hindley degradar-se cada vez mais; e dia a dia
se tornava mais conhecido pelo mau gênio e pela ferocidade. Não lhe posso
descrever o ambiente infernal que tínhamos em casa. O cura deixou de visitar-nos;
por fim, ninguém decente se aproximava de nós. A única exceção
eram as visitas que Edgar Linton fazia a Cathy. Aos quinze anos, ela era a
rainha da região; não havia moça que se comparasse a ela. Ela sabia disso e
tornava-se uma criatura altaneira e voluntariosa. Confesso que não gostava
dela, agora que já não era mais criança; censurava-a freqüentemente, tentando
corrigir-lhe a arrogância. . . mas ela nunca mostrou aversão por mim. Era
maravilhosamente fiel às velhas amizades; até mesmo Heathcliff conseguia
manter o mesmo lugar no seu coração;
 e o jovem Linton, com toda sua
superioridade, achava difícil rivalizar com ele. Edgar Linton era o meu
falecido patrão; aí está o retrato dele, sobre a lareira. Antigamente, os retratos
dele e da esposa estavam pendurados lado a lado; mas o dela foi removido, o
que é uma pena, pois o senhor poderia fazer uma idéia de como ela era. Que
tal o acha?
A Sra. Dean ergueu a vela e distingui um rosto de feições suaves, muito
parecido ao da jovem que vira na casa do Morro, mas mais pensativo e de
expressão mais agradável. Era um belo homem. O cabelo, longo e louro,
encaracolava-se ligeiramente nas têmporas; os olhos eram grandes e sérios; a
silhueta, quase demasiado graciosa. Não me surpreendi de que Catherine
Earnshaw tivesse esquecido o seu primeiro amigo ao conhecer aquele rapaz.
O que me surpreendia, e muito, era que ele, com um espírito correspondente à sua pessoa, pudesse ter gostado de Catherine Earnshaw, tal como eu a
imaginava.
— Bonito retrato — comentei com a governanta. — É fiel?
— Muito — respondeu ela; — só que ele parecia melhor quando estava
animado. A expressão do quadro é a que ele tinha geralmente; faltava-lhe o
que se chama espírito.
Catherine conservara a amizade com os Linton, desde que passara em
casa deles aquelas cinco semanas; e, como não lhe interessava mostrar o seu
lado selvagem em presença deles e tinha juízo suficiente para se envergonhar
de ser malcriada diante de uma tão invariável cortesia, foi se impondo aos
velhos pela sua engenhosa cordialidade, ao mesmo tempo que conquistava a
admiração de Isabella e o coração do irmão; conquistas que desde o princípio
a lisonjeavam, pois era cheia de ambição e elas a levaram a adotar uma dupla
personalidade sem que exatamente pretendesse enganar ninguém. Na casa em
que ouvia Heathcliff ser chamado "um jovem e vulgar rufião" e "pior do que
uma besta", tinha o cuidado de não proceder como ele; mas, de volta ao lar,
mostrava-se pouco inclinada a afetar uma polidez que só iria provocar risos,
bem como a controlar a sua natural insubordinação, sem que isso lhe
trouxesse crédito ou elogios.
Edgar raramente reunia coragem para ir abertamente ao Morro dos
Ventos Uivantes. Tinha pavor da reputação de Earnshaw e temia encontrar-se
com ele. Não obstante, era sempre recebido com os nossos melhores esforços
de cordialidade; mesmo o patrão evitava ofendê-lo, sabendo por que ele
vinha; se não conseguia ser gentil, pelo menos não se intrometia. Mas eu acho
que as visitas de Edgar não agradavam a Catherine; ela não era diplomática, não sabia coquetear, e era evidente que não gostava de que os seus dois
amigos se encontrassem; porque, quando Heathcliff expressava desprezo por
Linton na sua própria presença, ela não podia concordar, como fazia na
ausência dele; e quando Linton evidenciava antipatia e repugnância por
Heathcliff ela não ousava tratar os seus sentimentos com indiferença, como se
a depreciação do seu companheiro de infância fosse de pouca importância
para ela. Muitas vezes ria das suas perplexidades e dilemas secretos, que ela
em vão tentava esconder de mim. Isso parece pouco generoso da minha
parte; mas ela era tão orgulhosa, que era impossível sentir pena dela, enquanto
não aprendesse a ser um pouco mais humilde. Por fim passou a confiar em
mim, pois não havia outra pessoa a quem ela pudesse pedir conselhos.
Uma tarde em que o Sr. Hindley havia saído, Heathcliff resolveu
aproveitar para dar a si próprio uma folga. Contava, nessa altura, creio que
dezesseis anos, e, embora não tivesse feições más ou fosse de inteligência
deficiente, todo ele suscitava uma repulsa física e mental, que a sua atual
aparência não mais provoca. Em primeiro lugar, tinha, por esse tempo,
esquecido quase tudo o que aprendera: o trabalho duro e contínuo,
começando cedo e terminando tarde, extinguira nele toda a curiosidade que
antes mostrara quanto a aprender coisas novas, e todo o interesse que tinha
pelos livros ou por aprender. O seu antigo senso de superioridade, nele
instilado pela preferência do falecido Sr. Earnshaw, havia desaparecido.
Durante muito tempo, ele se esforçara por manter-se a par de Catherine nos
estudos, e acabara rendendo-se com um desgosto profundo, embora
silencioso; mas rendera-se completamente; e não havia como insistir com ele
para que lutasse por progredir, quando ele sentia que tinha afundado tanto. A sua aparência não tardou a acompanhar essa determinação mental: adquiriu
um andar encurvado e um aspecto ignóbil; a sua maneira de ser, já de si
reservada, tornou-se exageradamente e quase que estupidamente insociável;
além do quê, parecia ter um prazer estranho em provocar a aversão, e não a
estima das poucas pessoas que com ele tratavam.
Ele e Catherine continuavam a ser companheiros constantes, sempre
que Heathcliff tinha algum descanso do trabalho; mas ele cessara de expressar
por palavras a sua amizade por ela, e rechaçava, com ar de suspeita, os carinhos
que ela lhe fazia, como se consciente de que não podia haver satisfação
em mostrar-lhe tanto afeto. Na tarde já mencionada, entrou na sala para
anunciar a sua intenção de tirar uma folga, quando eu ajudava Cathy a se
arrumar. Ela não contara com essa idéia dele e, imaginando que ficaria a sós,
conseguira, não sei como, informar Edgar da ausência do irmão, e estava a
preparar-se para recebê-lo.
— Cathy, você vai fazer alguma coisa esta tarde? — perguntou
Heathcliff. — Vai a algum lugar?
— Não. Está chovendo — respondeu ela.
— Então para que botou esse vestido de seda? — insistiu ele. — Não
está esperando visita, espero. . .
— Não — gaguejou ela. — Mas você devia estar no campo, Heathcliff.
Já se passou uma hora desde o almoço. Pensei que você já tinha ido.
— Hindley não costuma livrar-nos da sua maldita presença —
observou o rapaz. — Vou aproveitar para não trabalhar mais hoje e ficar com
você.
— Oh, mas Joseph vai contar-lhe — disse ela. — É melhor você ir.

— Joseph está carregando lodo no extremo de Peniston Crag e não
voltará antes de escurecer.
Assim dizendo, aproximou-se da lareira e sentou-se. Catherine pensou
um instante, as sobrancelhas franzidas; achava necessário aplainar as surpresas
de uma intrusão. — Isabella e Edgar Linton falaram que talvez viessem cá,
esta tarde — disse ela, ao cabo de um minuto de silêncio. — Como está
chovendo, não os espero; mas talvez eles resolvam vir assim mesmo, e, se
vierem, você corre o risco de ser escorraçado.
— Diga a Ellen para avisá-los de que você está ocupada, Cathy —
insistiu ele. — Não me troque pelos idiotas dos seus amigos! Às vezes chego
a ter vontade de me queixar de que eles. . . mas, não. . .
— De que eles o quê? — exclamou Catherine, olhando para ele com ar
preocupado. — Oh, Nelly! — acrescentou, com petulância, tirando a cabeça
das minhas mãos.
— Você me desmanchou os cachos todos! Chega, deixe-me! De que é
que você sente vontade de se queixar, hein, Heathcliff?
— De nada. Olhe só para a folhinha que está naquela parede. — E
apontou para uma folhinha perto da janela, dizendo: — As cruzes marcam as
tardes e as noites que você passou com os Linton, os pontos as que passou
comigo. Está vendo? Marquei todos os dias!
— Sim. . . uma idiotice; como se eu reparasse nisso!
— replicou Catherine, em tom caprichoso. — E para que tudo isso?
— Para mostrar que eu reparo nisso — respondeu Heathcliff.
— Quer dizer que eu devia ficar sempre com você?

— perguntou ela, cada vez mais irritada. — Que vantagem eu teria? De
que é que você fala? Até parece que você é idiota ou um bebê, pelo que fala
comigo!
— Você nunca me disse que eu falava pouco ou que a minha
companhia não lhe agradava, Cathy! — exclamou Heathcliff, agitado.
— Não é companhia nenhuma a de uma pessoa que nada sabe e nada
diz — murmurou ela.
Heathcliff levantou-se, mas não teve tempo de retrucar, pois as patas de
um cavalo ressoaram no pátio, e, após ter batido de leve na porta, o jovem
Linton entrou, o rosto resplandecente de satisfação pelo chamado inesperado
quê recebera. Sem dúvida, Catherine reparou na diferença entre os dois
amigos, um entrando e o outro saindo. O contraste lembrava o que existe
entre uma região anda, de minas de carvão, e um belo e fértil vale, e a voz e a maneira de cumprimentar do recém-chegado contrastavam igualmente com as
de Heathcliff. Tinha um modo de talar suave e agradável e pronunciava as
palavras como o senhor faz, ou seja, mais suavemente do que é costume aqui.
— Não cheguei cedo demais, cheguei? — perguntou ele, lançando-me
um olhar. Eu começara a limpar e a arrumar umas gavetas do aparador.
— Não — respondeu Catherine. — Que é que você está fazendo aí,
Nelly?
— O meu trabalho, senhorita — repliquei. (O Sr. Hindley dera-me
ordens para estar sempre presente durante as visitas que Linton fizesse.)
Ela se aproximou de mim e sussurrou, irritada: — Ponha-se daqui para
fora, você e mais os seu espanadores! Quando há visitas na sala, os criados
não têm nada que limpar!

— Estou aproveitando que o patrão não está em casa — respondi, em
voz alta. — Ele detesta ver-me limpar na sua presença. Tenho a certeza de
que o Sr. Edgar vai me desculpar.
— Pois eu também detesto ver você limpar na minha presença! —
exclamou a jovem imperativamente, não dando ao rapaz oportunidade de
responder; ainda não recuperara a calma, após a sua discussão com Heathcliff.
— Lamento muito, senhorita — respondi; e continuei com o que
estava fazendo.
Supondo que Edgar não a pudesse ver, Catherine arrancou-me a flanela
da mão e beliscou-me, com toda a fúria, no braço. Já lhe disse que não
gostava dela e sentia satisfação em mortificá-la, de vez em quando; além disso,
o beliscão doeu muito. Levantei-me e gritei: — Oh, senhorita, isso não se faz!
Não tem o direito de me beliscar, e não vou tolerar isso!
— Eu não lhe toquei, sua mentirosa! — retrucou ela, os dedos prontos
para me beliscar de novo e as orelhas vermelhas de raiva. Nunca conseguia
esconder as suas fúrias, ficava sempre rubra como um pimentão.
— Que é isto, então? — repliquei, mostrando a marca roxa que ela me
fizera no braço.
Ela bateu com o pé, hesitou um momento e, depois, impelida pela ira,
esbofeteou-me. . . uma bofetada que fez com que as lágrimas me viessem aos
olhos.
— Catherine, meu bem! Catherine! — interveio Linton, chocado com a
demonstração de mentira e violência que o seu ídolo fizera.
— Saia da sala, Ellen! — repetiu ela, tremendo dos pés à cabeça.

O pequeno Hareton, que me seguia para todo lado e estava sentado
perto de mim, no chão, vendo as minhas lágrimas, começou a chorar e a
soluçar contra a "má tia Cathy", o que atraiu a fúria dela para cima do
inocente: Cathy pegou-o pelos ombros e sacudiu-o até a criança ficar lívida de
medo. Edgar correu a lhe agarrar as mãos, para obrigá-la a soltá-lo. Conseguiu
soltar uma, mas o atônito jovem não tardou a senti-la cair, com toda a força,
no seu próprio ouvido. Recuou, consternado. Tomei Hareton ao colo e dirigime
com ele para a cozinha, deixando a porta aberta, pois estava curiosa de ver
como acabaria aquilo. O insultado visitante aproximou-se do lugar onde
deixara o chapéu, pálido e com o lábio trêmulo.
"Ótimo!", pensei comigo mesma. "Aceite o aviso e vá-se embora! Foi
uma sorte ter tido a oportunidade de ver como ela é, na realidade!"
— Aonde é que você vai? — perguntou Catherine, avançando para a
porta.
Ele se desviou dela e tentou passar.
— Você não pode ir embora! — exclamou ela, com energia.
— Vou, sim! — replicou ele, num fio de voz.
— Não! — insistiu ela, agarrando a maçaneta. — Não pode ir já, Edgar
Linton. Sente-se. Você não pode deixar-me neste estado. Passarei toda a noite
sem dormir, e não quero ficar sem dormir por sua culpa!
— Mas como é que eu posso ficar se você me bateu?
— perguntou Linton.
Catherine não respondeu.
— Fez-me sentir medo e vergonha de você, Catherine
— continuou ele. — Não voltarei mais aqui!

Os olhos dela começaram a brilhar e as pálpebras a tremular.
— Além disso, você mentiu deliberadamente! — acusou ele.
— Não! — exclamou ela, recobrando a fala. — Não fiz nada
deliberadamente. Está bem, vá-se embora, se quiser. . . vá logo! Deixe-me
chorar, agora. . . deixe-me chorar até adoecer!
Deixou-se cair de joelhos perto de uma cadeira e começou a chorar
desconsoladamente. Edgar persistiu na sua decisão até chegar ao pátio; lá,
pareceu hesitar. Resolvi encorajá-lo.
— Ela é terrivelmente caprichosa — disse-lhe. — Pior do que uma
criança mimada. É melhor o senhor voltar logo para casa, ou ela adoecerá só
para nos preocupar.
O pobre rapaz olhou pela janela: tinha tanta força de vontade quanto
um bebê recém-nascido. "Ah", pensei, "não há mais salvação para ele: está
condenado, irremediavelmente!" E assim foi: voltou-se abruptamente, correu
para a casa e fechou a porta atrás de si; quando eu entrei na sala, pouco
depois, para avisá-los de que Earnshaw voltara bêbedo, perdido e disposto a
brigar com todo o mundo (sua reação habitual, quando embriagado), percebi
que a contenda resultara apenas numa maior intimidade. Rompera toda a
timidez e permitira-lhes pôr de lado o disfarce da amizade e confessarem a
sua condição de enamorados.
A notícia de que o Sr. Hindley tinha chegado fez com que Linton
corresse para o seu cavalo e Catherine para o quarto. Por minha parte, corri a
esconder o pequeno Hareton e a tirar as balas da caçadeira do patrão, que
costumava dispará-la a esmo, quando ébrio, pondo em risco a vida de quem
se metesse na sua frente ou mesmo lhe atraísse demasiado a atenção.
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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