terça-feira, 18 de agosto de 2015

NICK DUNNE DEZ DIAS SUMIDA


Passamos o dia da entrevista reunidos no quarto extra da suíte de Tanner, preparando minhas
falas, dando um jeito na minha aparência. Betsy reclamou das minhas roupas, depois Go aparou
os cabelos acima das minhas orelhas com uma tesoura de unha enquanto Betsy tentava me
convencer a usar maquiagem — base — para reduzir o brilho. Todos falávamos em voz baixa
porque a equipe de Sharon estava se aprontando do lado de fora; a entrevista seria na sala de
estar da suíte, com vista para o Arco de St. Louis. Porta de entrada para o Oeste. Não sei bem
qual o intuito do monumento a não ser servir como um símbolo vago do meio do país: Você Está
Aqui.
— Você precisa de pelo menos um pouco de pó no rosto, Nick — disse finalmente Betsy,
indo na minha direção com a almofadinha. — Seu nariz sua quando você fica nervoso. Nixon
perdeu uma eleição por causa de suor no nariz.
Tanner supervisionava tudo como um maestro.
— Não tire muito desse lado, Go. Bets, tome muito cuidado com esse pó. Menos é mais.
— Deveríamos ter aplicado Botox nele — refletiu ela.
Aparentemente o Botox combate o suor, além das rugas — alguns dos clientes deles haviam
tomado uma série de injeções nas axilas antes de um julgamento, e já estavam sugerindo o mesmo
para mim. Gentilmente, sutilmente sugerindo, caso fôssemos a julgamento.
— É, eu realmente preciso que a imprensa descubra que eu fazia um tratamento com Botox
enquanto minha esposa estava desaparecida. Está desaparecida — corrigi.
Eu sabia que Amy não estava morta, mas também sabia que estava tão fora do meu alcance
que era como se estivesse. Ela era uma esposa no pretérito.
— Boa sacada — disse Tanner. — Da próxima vez faça isso antes que as palavras escapem
da sua boca.
Às cinco horas da tarde o telefone de Tanner tocou, e ele olhou o visor.
— Boney — disse, deixando cair na caixa postal. — Ligo para ela depois.
Ele não queria que nenhuma nova informação, interrogação ou fofoca nos obrigasse a
reformular a mensagem. Eu concordava: não queria Boney em minha cabeça naquele momento.
— Tem certeza de que não deveríamos ver o que ela quer? — perguntou Go.
— Ela quer foder um pouco mais comigo — respondi. — Ligamos para ela. Algumas horas.
Ela pode esperar.
Todos nos acomodamos, uma reafirmação grupal de que o telefonema não era nada com que
se preocupar. O quarto ficou em silêncio por meio minuto.
— Tenho de dizer, estou estranhamente animada para conhecer Sharon Schieber — disse Go
finalmente. — Mulher muito classuda. Não como aquela Connie Chung.
Eu ri, o que era a intenção. Nossa mãe adorava Sharon Schieber e odiava Connie Chung —
nunca a perdoara por constranger a mãe de Newt Gingrich na TV, algo sobre Newt chamar
Hillary Clinton de p-i-r-a-n-h-a. Não me lembro da entrevista em si, apenas do ultraje de nossa
mãe com ela.
Às seis horas entramos na sala, onde duas cadeiras haviam sido colocadas de frente uma para
a outra, o Arco ao fundo, o momento escolhido com precisão para que o Arco brilhasse mas não
houvesse reflexo do pôr do sol nas janelas. Um dos momentos mais importantes da minha vida,
pensei, determinado pelo ângulo do sol. Uma produtora cujo nome eu não iria lembrar veio na
nossa direção com o clique de saltos perigosamente altos e me explicou o que eu deveria
esperar. As perguntas poderiam ser feitas várias vezes, para que a entrevista parecesse o mais
natural possível, e para permitir imagens das reações de Sharon. Eu não podia falar com meu
advogado antes de dar uma resposta. Podia dar nova formulação a uma resposta, mas não mudar
o conteúdo dela. Eis um pouco de água, vamos colocar seu microfone.
Começamos a ir na direção da cadeira, e Betsy puxou meu braço. Quando olhei para baixo
ela me mostrou um bolso cheio de jujubas.
— Lembre-se — falou, e sacudiu o dedo indicador para mim.
De repente, a porta da suíte foi escancarada e Sharon Schieber entrou, tão suavemente como
se carregada por uma equipe de cisnes. Era uma linda mulher, uma mulher que provavelmente
nunca tivera ar de menina. Uma mulher cujo nariz provavelmente nunca suava. Tinha cabelos
escuros e grossos e olhos castanhos enormes que podiam lembrar uma corça ou parecer
malévolos.
— É Sharon! — disse Go, um sussurro emocionado para imitar nossa mãe.
Sharon se virou para Go e acenou majestosamente com a cabeça, vindo nos cumprimentar.
— Sou Sharon — apresentou-se com uma voz grave e calorosa, segurando as duas mãos de
Go.
— Nossa mãe adorava você — comentou Go.
— Fico muito contente — disse Sharon, conseguindo soar calorosa.
Ela se virou para mim e estava prestes a falar quando sua produtora apareceu clicando nos
saltos altos e sussurrou em seu ouvido. Depois esperou a reação de Sharon, e sussurrou
novamente.
— Ah. Ah, meu Deus — exclamou Sharon.
Quando se virou novamente para mim, não estava sorrindo nem um pouco.
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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