quinta-feira, 20 de agosto de 2015

NICK DUNNE A NOITE DO RETORNO


A pulsação dela finalmente latejava sob meus dedos, do modo como eu imaginara. Apertei
com mais força e a levei ao chão. Ela soltou estalos molhados e arranhou meus pulsos. Ficamos
ambos ajoelhados, em uma prece, cara a cara por dez segundos.
Sua piranha maluca desgraçada.
Uma lágrima caiu do meu queixo e encontrou o chão.
Sua piranha maluca, assassina, manipuladora, cruel.
Os olhos azul-brilhantes de Amy olhavam para os meus, sem piscar.
E então o mais estranho de todos os pensamentos saiu chacoalhando, bêbado, do fundo do
meu cérebro para a frente e me cegou: e se eu matar Amy, quem serei?
Vi um clarão branco brilhante. Larguei minha esposa como se ela fosse um ferro em brasa.
Ela se sentou pesadamente no chão, arfou, tossiu. Quando recuperou o fôlego, foi em
inspirações entrecortadas, com um guincho quase erótico no final.
Quem eu serei então? A pergunta não era recriminatória. Não era como se a resposta fosse a
devota Então você será um assassino, Nick. Será tão ruim quanto Amy. Será o que todos
achavam que você era. Não. A questão era assustadoramente profunda e literal: quem eu seria
sem Amy a quem reagir? Porque ela estava certa: como homem, eu havia sido o mais
impressionante quando a amava — e fui o segundo melhor quando a odiei. Eu conhecia Amy
havia apenas sete anos, mas não podia voltar para a vida sem ela. Porque ela estava certa: eu não
poderia retornar a uma vida mediana. Eu soubera disso antes mesmo que ela dissesse qualquer
coisa. Já me imaginara com uma mulher comum — a garota doce e normal da esquina — e já me
imaginara contando a essa mulher comum a história de Amy, a que ponto ela tinha chegado para
me punir e voltar para mim. Já imaginara essa garota doce e medíocre dizendo algo
desinteressante como Ah, nãããão, oh, meu Deus. E já sabia que uma parte de mim estaria
olhando para ela e pensando: Você nunca assassinou por mim. Você nunca me incriminou. Você
nem sequer saberia como começar a fazer o que Amy fez. Você jamais poderia se importar a
esse ponto. O filhinho de mamãe mimado em mim não seria capaz de encontrar a paz com essa
mulher normal, e logo, logo ela não seria apenas normal, ela seria abaixo do padrão, e então a
voz do meu pai — piranha burra — se elevaria e assumiria a partir daí.
Amy estava certíssima.
Então talvez não houvesse um bom final para mim.
Amy era tóxica, mas eu não conseguia imaginar um mundo inteiramente livre dela. Quem eu
seria com Amy simplesmente sumida? Não havia mais opções que me interessassem. Mas ela
tinha de ser subjugada. Amy na prisão, esse era um bom final para ela. Enfiada em uma caixa
onde não pudesse infligir sofrimento a mim, mas onde eu pudesse visitá-la de tempos em tempos.
Ou ao menos imaginá-la. Uma pulsação, minha pulsação, deixada em algum lugar.
Eu tinha de colocar Amy lá. Era minha responsabilidade. Assim como Amy tinha o crédito
por me transformar em meu melhor eu, eu precisava assumir a culpa de ter feito a loucura brotar
nela. Havia um milhão de homens que teriam amado, honrado e obedecido Amy, e se considerado
sortudos por fazer isso. Homens confiantes, seguros e reais que não a teriam obrigado a fingir ser
nada além de seu perfeito, rígido, exigente, brilhante, criativo, fascinante, voraz, megalomaníacoeu.
Homens capazes de devoção à esposa.
Homens capazes de mantê-la sã.
A história de Amy poderia ter acontecido de um milhão de formas, mas ela me conheceu, e
coisas ruins aconteceram. Então cabia a mim detê-la.
Não matá-la, mas detê-la.
Colocá-la em uma de suas caixas.
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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