terça-feira, 18 de agosto de 2015

NICK DUNNE OITO DIAS SUMIDA


Quando o sol nasceu, eu estava segurando um cubo de gelo contra minha bochecha. Horas
depois e eu ainda podia sentir a mordida: dois pequenos buracos, como furos de grampeador. Eu
não podia ir atrás de Andie — um risco maior que a ira dela —, então finalmente telefonei. Caixa
postal.
Conter, isto precisa ser contido.
— Andie, sinto muito, não sei o que fazer, não sei o que está acontecendo. Por favor, me
perdoe. Por favor.
Eu não deveria ter deixado uma mensagem de voz, mas pensei: ela pode ter centenas de
minhas mensagens de voz arquivadas, pelo que sei. Bom Deus, se ela mostrasse uma seleção
das dez mais obscenas, grosseiras, melosas... qualquer mulher em qualquer júri me mandaria para
a cadeia só por isso. Uma coisa é saber que sou um traidor, outra é ouvir minha voz densa de
professor falando a uma jovem universitária sobre meu enorme, duro...
Corei à luz do amanhecer. O cubo de gelo derreteu.
Eu me sentei no degrau da frente da casa de Go, comecei a ligar para Andie a cada dez minutos, sem conseguir nada. Estava sem dormir, meus nervos à flor da pele, quando Boney
entrou na rampa de carros às seis e doze da manhã. Eu não disse nada enquanto ela caminhava na
minha direção trazendo dois copos de isopor.
— Oi, Nick, trouxe café para você. Só vim saber como estava.
— Imagino.
— Sei que provavelmente está perturbado. Com a notícia da gravidez.
Ela fez uma cena elaborada ao colocar duas doses de creme no meu café, do modo como eu
gostava, e me entregou o copo.
— O que é isso? — perguntou, apontando para minha bochecha.
— Como assim?
— Quero dizer, Nick, o que há de errado com seu rosto? Há uma marca rosa enorme —
disse, se inclinando mais para perto, agarrando meu queixo. — É como uma marca de mordida.
— Deve ser urticária. Tenho urticária quando estou estressado.
— Ahnnn — disse, mexendo seu café. — Você sabe que estou do seu lado, certo, Nick?
— Certo.
— Estou. Mesmo. Gostaria que confiasse em mim. Eu só... Estou chegando ao ponto em que
não serei capaz de ajudá-lo se não confiar em mim. Sei que isso parece papo de policial, mas é a
verdade.
Ficamos sentados em um estranho silêncio semiamigável, tomando café.
— Ei, então, queria que você soubesse antes que ouça em algum lugar — falou, animada. —
Encontramos a bolsa de Amy.
— O quê?
— É, sem dinheiro, mas identidade, celular. Em Hannibal, dentre todos os lugares. Na
margem do rio, ao sul do cais do barco a vapor. Nosso palpite é que alguém quis dar a impressão
de que havia sido jogada no rio pelo criminoso enquanto saía da cidade, pegando a ponte para
Illinois.
— Dar a impressão?
— Ela não chegou a afundar totalmente. Ainda há digitais no alto, perto do zíper. Algumas
vezes digitais podem resistir mesmo na água, mas... Vou lhe poupar da ciência, só dizer que a
teoria é que a bolsa foi colocada na margem para garantir que fosse encontrada.
— Tenho a impressão de que você está me contando isso por alguma razão — falei.
— As digitais que encontramos eram suas, Nick. O que não é tão maluco; os homens mexem
nas bolsas das esposas o tempo todo. Ainda assim — disse ela, e riu, como se tendo uma grande
ideia. — Tenho de perguntar: você não teria estado em Hannibal recentemente, teria?
Ela disse isso com uma confiança tão descontraída que tive uma visão: um rastreador da
polícia escondido em algum lugar embaixo do meu carro, que me foi devolvido na manhã em que
fui a Hannibal.
— Por que exatamente eu iria a Hannibal para me livrar da bolsa da minha esposa?
— Digamos que você matou sua esposa e forjou a cena do crime em sua casa, tentando nos
fazer pensar que ela foi atacada por alguém de fora. Mas depois se deu conta de que estávamos
começando a suspeitar de você, então quis plantar algo para nos obrigar a olhar para fora
novamente. Essa é a teoria. Mas neste momento alguns dos meus policiais estão tão certos de que
você é o culpado que encontrariam qualquer teoria que se encaixasse. Então, deixe-me ajudá-lo:
você esteve em Hannibal recentemente?
Balancei a cabeça em um gesto negativo.
— Você vai ter de falar com meu advogado. Tanner Bolt.
— Tanner Bolt? Tem certeza de que quer fazer as coisas assim, Nick? Acho que fomos muito
justos com você até agora, muito abertos. Bolt, ele é um... Ele é o último recurso. É o cara que as
pessoas culpadas chamam.
— Hã. Bem, eu claramente sou seu principal suspeito, Rhonda. Tenho de me proteger.
— Vamos nos encontrar quando ele chegar, está bem? Conversar sobre isso.
— Decididamente... É o nosso plano.
— Um homem com um plano — disse Boney. — Vou ficar esperando ansiosamente.
Ela se levantou, e enquanto ia embora, disse:
— Hamamélis é bom para urticária.
* * *
Uma hora depois, a campainha tocou e Tanner Bolt estava ali de pé em um terno azul-bebê, e
algo me disse que era o visual que ele adotava quando ia “ao Sul”. Estava inspecionando a
vizinhança, olhando os carros nas rampas, avaliando as casas. De certo modo, ele me lembrou os
Elliott — examinando e analisando o tempo todo. Um cérebro sem botão de desligar.
— Mostre para mim — disse Tanner ante que eu pudesse cumprimentá-lo. — Aponte o
depósito para mim; não venha comigo, e não chegue perto dele outra vez. Depois você me conta
tudo.
                                                                           * * *
Nós nos acomodamos à mesa da cozinha — eu, Tanner e uma Go recém-acordada, abraçando
sua primeira xícara de café. Espalhei todas as pistas de Amy como um medonho leitor de tarô.
Tanner se inclinou na minha direção, os músculos de seu pescoço contraíídos.
— Certo, Nick, defenda sua tese. Sua esposa orquestrou tudo isso. Defenda a tese! — disse,
batendo com o indicador na mesa. — Porque eu não vou adiante com meu pau em uma mão e uma
história maluca sobre uma armação na outra. A não ser que você me convença. A não ser que
funcione.
Respirei fundo e organizei minhas ideias. Eu sempre fui melhor escrevendo que falando.
— Antes de começarmos, você tem de entender uma coisa fundamental sobre Amy: ela é
brilhante. Seu cérebro está sempre ocupado e nunca funciona em um só nível. Ela é como uma
interminável escavação arqueológica: você acha que chegou à última camada, e então enfia a pá
mais uma vez e chega a mais um novo poço de mina abaixo. Com um labirinto de túneis e buracos
sem fundo.
— Tudo bem — disse Tanner. — Então...
— A segunda coisa que você precisa saber sobre Amy é que ela é moralista. É uma daquelas
pessoas que nunca estão erradas, e adora dar lições, distribuir castigos.
— Certo, bom, então...
— Deixe-me contar uma história, uma rápida. Há uns três anos, estávamos indo de carro para
Massachusetts. Estava um trânsito medonho, de irritar qualquer um, e um caminhoneiro mostrou o
dedo do meio para Amy, ela não queria deixá-lo passar, então ele disparou e a fechou. Nada
perigoso, mas realmente assustador por um segundo. Sabe aqueles avisos na traseira dos
caminhões: Como estou dirigindo? Ela me fez telefonar e passar o número da placa. Achei que
tinha terminado por aí. Dois meses depois, dois meses depois, entrei no quarto e Amy estava ao
telefone, repetindo o número daquela placa. Ela tinha inventado toda uma história: estava
viajando com o filho de dois anos e o motorista quase a tirara da estrada. Disse que era o quarto
telefonema. Disse que pesquisara até mesmo os roteiros da empresa para poder escolher as
estradas certas para seus falsos quase acidentes. Ela pensara em tudo. Estava muito orgulhosa.
Ela ia fazer o sujeito ser demitido.
— Caramba, Nick — murmurou Go.
— É uma história muito... esclarecedora, Nick — disse Tanner.
— É apenas um exemplo.
— Então, agora me ajude a juntar tudo isto. Amy descobre que você a está traindo. Simula a
própria morte. Faz a cena do suposto crime parecer esquisita o suficiente para despertar
suspeitas. Ela o ferrou com os cartões de crédito, o seguro de vida e seu pequeno santuário
masculino lá atrás...
— Ela provocou uma discussão comigo na noite antes de desaparecer, e fez isso ao lado de
uma janela aberta para que nossa vizinha ouvisse.
— Qual foi a discussão?
— Eu sou um babaca egoísta. Basicamente, a mesma que sempre temos. O que nossa vizinha
não escutou foi Amy se desculpando depois... Porque Amy não queria que ela ouvisse isso. Quer
dizer, lembro-me de ficar chocado, porque nunca havíamos feito as pazes tão rapidamente. Na
manhã seguinte ela estava fazendo crepes para mim, caramba, pelo amor de Deus.
Eu a vi novamente junto ao fogão, lambendo açúcar do polegar, cantarolando para si mesma,
e me vi caminhando até ela e sacudindo-a até...
— Certo, e a caça ao tesouro? — perguntou Tanner. — Qual é a teoria com relação a isso?
Cada pista estava desdobrada sobre a mesa. Tanner pegou algumas e as deixou cair.
— Elas são apenas um vá se foder de bônus — expliquei. — Conheço minha esposa, acredite
em mim. Ela sabia que tinha de fazer uma caça ao tesouro, ou pareceria suspeito. Então ela faz
isso, e claro que tudo tem dezoito significados diferentes. Veja a primeira pista.
Eu me imagino como uma estudante,
Com um professor tão belo e brilhante
Minha mente se abre (para não falar em minhas coxas!)
Se eu fosse sua pupila, não haveria necessidade de flores
Talvez apenas um encontro safado nos corredores
Então corra, ande logo, por favor
E desta vez eu ensinarei uma coisinha ou outra ao meu professor.
— Isso é a cara de Amy. Eu leio isso e penso: Ei, minha esposa está flertando comigo. Não.
Ela na verdade está se referindo à minha... infidelidade com Andie. Vá se foder número um.
Então eu vou lá, até o meu escritório, com Gilpin, e o que está esperando por mim? Lingerie
feminina. Nem perto do tamanho de Amy; os policiais ficaram perguntando a todo mundo que
número Amy vestia, e eu não conseguia entender por quê.
— Mas Amy não tinha como saber que Gilpin estaria com você — objetou Tanner, franzindo
a testa.
— Era uma aposta bem segura — interrompeu Go. — A Pista Um era parte da cena do crime,
então os policiais tomariam conhecimento dela, e ela fala sobre o lugar em que eu trabalho. É
lógico que eles iriam lá, com ou sem Nick.
— Então de quem é a calcinha? — perguntou Tanner.
Go torceu o nariz para a palavra calcinha.
— Quem sabe? — respondi. — Imaginei que fosse de Andie, mas... Amy provavelmente deve
ter comprado. A questão principal aqui é que não são do tamanho de Amy. Elas levam qualquer
um a acreditar que algo inadequado aconteceu em meu escritório com alguém que não é minha
esposa. Vá se foder número dois.
— E se os policiais não estivessem junto quando você foi ao escritório? — perguntou
Tanner. — Ou ninguém notasse a calcinha?
— Ela não se importa, Tanner! Esta caça ao tesouro é para diverti-la, assim como qualquer
outra coisa. Ela não precisa disso. Exagerou tudo só para ter certeza de que houvesse um milhão
de pistas condenatórias circulando. Mais uma vez, você tem de entender minha esposa: ela é do
tipo prevenida.
— Certo. Pista Dois — prosseguiu Tanner.
Imagine: estou louca por você
Meu futuro é tudo menos incerto com você
Você me trouxe aqui para que eu ouvisse sua conversa maneira
Sobre suas aventuras de menino: jeans baratos e viseira
Que se dane todo mundo, deles nós vamos nos livrar
E vamos roubar um beijo... Fingir que acabamos de nos casar
— Isso é Hannibal — falei. — Amy e eu fomos lá uma vez, então foi assim que eu li, mas
também é outro lugar onde eu tive... relações com Andie.
— E isso não levantou uma bandeira vermelha? — perguntou Tanner.
— Não, não ainda, eu estava muito sonhador com os bilhetes que Amy escrevera. Deus, a
garota me conhece bem demais. Ela sabe exatamente o que quero ouvir. Você é brilhante. Você
tem humor. E como deve ter sido divertido para ela saber que ainda podia foder com minha
cabeça assim. Mesmo a distância. Quer dizer, eu estava... Caramba, eu estava praticamente me
apaixonando por ela novamente.
Minha garganta fechou por um momento. A história boba sobre o bebê nojento e seminu de
sua amiga Insley. Amy sabia que isso era do que eu mais gostava quando ainda gostava de nós
dois: não os grandes momentos, não os momentos Românticos com R maiúsculo, mas nossas
piadas particulares secretas. E agora ela estava usando todas elas contra mim.
— E adivinhe? Eles acabaram de encontrar a bolsa de Amy em Hannibal. Tenho certeza
absoluta de que alguém pode provar que estive lá. Caramba, paguei pelo ingresso do passeio
com meu cartão de crédito. Então, mais uma vez, eis uma prova, e Amy garantindo que eu seja
ligado a ela.
— E se ninguém encontrasse a bolsa? — perguntou Tanner.
— Não importa — disse Go. — Ela está fazendo Nick correr em círculos, está se divertindo.
Tenho certeza de que ela ficou feliz só em saber como Nick deve ter se sentido culpado ao ler
todos esses bilhetes doces sabendo que é um traidor e que ela está desaparecida.
Tentei não fazer uma careta com seu tom de nojo: traidor.
— E se Gilpin ainda estivesse com Nick quando ele foi a Hannibal? — insistiu Tanner. — E
se Gilpin estivesse com Nick o tempo todo, e soubesse que Nick não havia plantado a bolsa
naquela ocasião?
— Amy me conhece suficientemente bem para saber que eu fugiria de Gilpin. Ela sabe que eu
não iria querer um estranho me assistindo ao ler essas coisas, avaliando minhas reações.
— Sério? Como você sabe disso?
— Simplesmente sei — respondi, dando de ombros.
Eu sabia, simplesmente sabia.
— Pista Três — disse, e coloquei-a na mão de Tanner.
Talvez por ter me trazido a esse lugar você se sinta culpado
Devo admitir que pareceu um pouco difícil de aceitar
Mas não é como se tivéssemos muita opção
Fazer desse o nosso lugar era uma decisão.
Vamos levar nosso amor para esta casinha marrom
Me dê um pouco de boa vontade, marido gostoso, meu bombom!
— Veja, eu entendi esta errado, achando que me trazido aqui significava Carthage, mas na
verdade ela está se referindo à casa do meu pai, e...
— E é mais um lugar onde você trepou com essa tal de Andie — concluiu Tanner. Ele se
virou para minha irmã: — Perdoe-me pela vulgaridade.
Go fez um gesto de mão para indicar que não havia problema.
Tanner continuou:
— Então, Nick. Há uma calcinha incriminativa no seu escritório, onde você trepou com
Andie; há a bolsa incriminativa de Amy em Hannibal, onde você trepou com Andie; e há uma
arca do tesouro incriminativa no depósito cheia de compras secretas feitas com o cartão de
crédito, onde você trepou com Andie.
— Hã, é. Sim, está certo.
— Então o que há na casa do seu pai?
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário

Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

Total de visualizações

Seguidores

Livros populares

Search