domingo, 11 de outubro de 2015

Capítulo Dezesseis


O livro era grande, está bem? O livro era importante.
Se eu tinha medo de mudar de sala, o que dizer de guardar a máquina de escrever e meu delgado manuscrito recém-começado e levá-lo de volta a Derry. Isso seria tão perigoso quanto levar uma criança pequena para o meio de uma tempestade. Portanto, fiquei, sempre me reservando o direito de sair de lá se as coisas ficassem esquisitas demais (do modo como os fumantes se reservam o direito de parar se a tosse piorar muito), e uma semana se passou. Coisas aconteceram naquela semana, mas, até que eu encontrasse Max Devore na Rua na sexta-feira seguinte — devia ser 17 de julho —, a coisa mais importante era que eu continuava a trabalhar
num romance que, se terminado, se chamaria Meu amigo de infância.
Talvez a gente sempre pense que o que foi perdido era melhor... ou teria
sido melhor. Não sei ao certo. Só sei que minha vida real naquela semana
teve principalmente a ver com Andy Drake, John Shackleford e uma figura
sombria em pé no pano de fundo. Raymond Garraty, amigo de infância de
John Shackleford. Um homem que às vezes usava um boné de beisebol.
Durante aquela semana, as manifestações na casa continuaram, mas
numa intensidade menor — não houve nada como o grito de gelar o sangue.
Às vezes o sino de Bunter tocava e às vezes os ímãs de frutas e legumes
se rearrumavam sozinhos num círculo... mas nunca com palavras no meio;
não naquela semana. Certa manhã, quando levantei, o pote de açúcar estava
derrubado, fazendo-me pensar na história de Mattie sobre a farinha. Nada estava escrito no açúcar espalhado, mas havia um rabisco ondulado —
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— como se alguma coisa tivesse tentado escrever e falhasse. Se o caso
era esse, tinha a minha solidariedade. Eu sabia o que era aquilo.
Meu depoimento ante o temível Elmer Durgin tinha sido no dia 10, sextafeira.
Na terça seguinte, desci a Rua para o campo de softbol do
Warrington’s para dar minha própria espiada em Max Devore. Eram quase
seis horas quando cheguei ao alcance auditivo dos gritos, aplausos e do
ruído dos bastões na bola. Um caminho marcado com sinais rústicos
(floreados Ws queimados em flechas de carvalho) levavam a uma casa de
barco abandonada, uns dois galpões e um mirante meio enterrado em
trepadeiras de amora-preta. Depois cheguei ao centro do campo. O lixo
composto de sacos de batata frita, invólucros de guloseimas e latas de
cerveja sugeria que às vezes outros assistiam aos jogos desse ponto
privilegiado. Não pude deixar de pensar em Jo e seu amigo misterioso, o
sujeito com o velho blazer marrom, o cara corpulento que tinha escorregado
um braço em torno da cintura dela e a levado do jogo, rindo, de volta à Rua.
Por duas vezes, durante o fim de semana, estive perto de ligar para Bonnie
Amudson, vendo se talvez eu pudesse descobrir quem era aquele camarada,
dar um nome a ele; e nas duas vezes havia recuado. Não ponha a mão em
vespeiro, disse a mim mesmo a cada vez. Não ponha a mão em vespeiro,
Michael.
Tive a área além do centro para mim naquela noite, e parecia a
distância certa da base do batedor, considerando-se que o homem que
geralmente estacionava a cadeira de rodas de Devore atrás da barreira
tinha me chamado de mentiroso e eu o convidei para guardar meu número
de telefone onde a luz do sol fica obscura.
Não precisava ter me preocupado, de qualquer modo. Devore não
tinha vindo, nem a adorável Rogette.
Divisei Mattie por trás da barreira negligentemente erguida na linha
da primeira base. John Storrow estava a seu lado, de jeans e camisa polo,
com a maior parte do cabelo vermelho preso dentro de um boné do Mets.
Assistiram ao jogo e conversaram como velhos amigos por dois innings
antes de me verem — tempo mais do que suficiente para que eu tivesse
inveja do lugar de John, e um pouco de ciúme também.
Finalmente alguém fez um lance longo para o centro, onde a margem
do bosque servia como único alambrado. O jogador voltou, mas a bola ia
passar muito por cima de sua cabeça. Foi arremessada bem dentro do meu
alcance, à minha direita. Movi-me naquela direção sem pensar, enfiando-me
pelas moitas que formavam uma zona entre o campo e as árvores,
esperando não estar correndo por hera venenosa. Peguei a bola com a mão
esquerda esticada e ri quando alguns dos espectadores aplaudiram. O
jogador do centro do campo me aplaudiu batendo com a mão direita na mão
enluvada. Enquanto isso o batedor circulava as bases serenamente, sabendo
que tinha conseguido um ponto.
Atirei a bola para um dos jogadores, e quando voltei a minha posição
original, entre as embalagens de guloseimas e latas de cerveja, olhei para
trás e vi Mattie e John me olhando.
Se algo confirma a ideia de que somos apenas outra espécie de
animal, um com o cérebro ligeiramente maior e uma ideia muito maior de
nossa própria importância no esquema das coisas, é o fato de quanto
podemos transmitir através de gestos quando temos absolutamente que
fazê-lo. Mattie entrelaçou as mãos no peito, inclinou a cabeça para a
esquerda e ergueu as sobrancelhas — Meu herói. Eu levei as mãos à altura
dos ombros e virei as palmas para o céu — Ora, dona, não foi nada. John
abaixou a cabeça e pôs os dedos na testa, como se algo estivesse doendo
ali — Seu filho da puta sortudo.
Com tais comentários fora do caminho, apontei para a barreira e
ergui os ombros numa pergunta. Mattie e John deram de ombros em
resposta. Um inning depois, um garotinho que parecia uma explosiva sarda
gigante correu até onde eu estava, sua camiseta Michael Jordan batendo
nas canelas como uma saia.
— Aquele cara ali me deu cinquenta centavos para dizer que você
deve ligar mais tarde para ele no hotel dele em Rock — disse, apontando
para John. — Ele disse para você me dar mais cinquenta centavos se tiver resposta.
— Diga a ele que vou ligar por volta de 9h30 — falei. — Mas não
tenho trocado. Você aceita um dólar?
— Puxa, aceito sim, brigado. — Pegou o dinheiro, virou-se, depois
voltou. Sorriu, revelando uma fileira de dentes capturada entre o Ato I e o
Ato II. Com os jogadores de softbol ao fundo, ele parecia um arquétipo de
Norman Rockwell. — O cara também falou para eu dizer que sua jogada foi
uma besteira.
— Diga a ele que as pessoas diziam isso de Willie Mays o tempo
todo.
— Willie quem?
Ah, juventude. Ah, costumes.
— Apenas diga a ele, garoto. Ele irá saber.
Fiquei por outro inning, mas a essa altura o jogo estava ficando sem
graça. Devore ainda não tinha aparecido, e voltei para casa pelo caminho
por onde viera. Encontrei um pescador em pé numa pedra e dois jovens
caminhando pela Rua em direção ao Warrington’s, de mãos dadas. Eles
disseram oi, eu disse oi também. Sentia-me solitário e contente ao mesmo
tempo. Acredito ser essa uma espécie rara de felicidade.
Alguns checam suas secretárias eletrônicas quando chegam em
casa; naquele verão, eu sempre examinava a frente da geladeira. Como
Alceu, de Alceu e Dentinho, costumava dizer, os espíritos estão prestes a
falar. Naquela noite eles não o fizeram, embora os ímãs em forma de
frutas e legumes tivessem formado uma linha sinuosa como uma serpente ou talvez a letra S tirando uma soneca:
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Um pouco mais tarde, liguei para John e lhe perguntei onde Devore tinha
estado. Ele repetiu em palavras o que já havia me dito muito mais
economicamente por gestos.
— É o primeiro jogo a que ele não vem desde que voltou — disse. —
Mattie tentou perguntar a algumas pessoas se ele estava bem, e o
consenso parece ser de que estava... pelo menos tanto quanto alguém
sabia.
— O que significa ela tentou perguntar?
— Várias pessoas nem mesmo falaram com ela. “Dê um gelo nela”,
dizia a geração de meus pais. — Cuidado, companheiro, pensei mas não
disse, isso está apenas a meio passo de distância da minha geração. —
Uma de suas velhas amigas falou com ela finalmente, mas há uma atitude
generalizada em relação a Mattie Devore. Aquele Osgood pode ser um
vendedor pavoroso, mas como o Senhor Dinheiro de Max Devore está
fazendo um trabalho fantástico para separar Mattie dos outros habitantes
da cidadezinha. É uma cidadezinha, Mike? Eu não pego bem essa parte.
— É só a TR — eu disse distraidamente. — Não há nenhum modo
verdadeiro de explicar a coisa. Você acredita mesmo que Devore está
subornando todo mundo? Isso não diz nada muito bom sobre a velha ideia
de Wordsworth a respeito da bondade e inocência pastorais, não é?
— Ele está distribuindo dinheiro e usando Osgood. Talvez Footman
também, para espalhar histórias. E o pessoal por aqui parece pelo menos
tão honesto quanto políticos honestos.
— Aqueles que permanecem comprados?
— É. Ah, eu vi uma das testemunhas potenciais de Devore no Caso
da Criança Fugida. Royce Merrill. Ele estava perto do galpão de
equipamentos com alguns de seus camaradas. Por acaso reparou nele?
Eu disse que não.
— O cara deve ter uns 130 anos — continuou John. — Tem uma
bengala com castão de ouro do tamanho do cu de um elefante.
— É a bengala do Boston Post. A pessoa mais velha da área fica
com ela.
— E não tenho a menor dúvida de que ele a ganhou honestamente. Se
os advogados de Devore o puserem no banco das testemunhas, vou depená-
lo. — A alegre autoconfiança de John tinha algo que dava calafrios.
— Claro — eu disse. — Como é que Mattie está recebendo o
afastamento dos velhos amigos? — Eu me lembrei dela dizendo que
detestava as noites de terça, detestava pensar em jogos de softbol que
continuavam como sempre no campo onde havia conhecido o falecido
marido.
— Bem — disse John. — De qualquer modo, acho que deu a maior
parte deles como causa perdida. — Eu tinha minhas dúvidas sobre aquilo.
Pelo que me lembro, aos 21 anos as causas perdidas são um tipo de
especialidade. Mas não disse nada. — Ela está aguentando. Anda solitária e
assustada, e acho que mentalmente podia ter começado o processo de
desistir de Kyra, mas agora sua autoconfiança voltou. Principalmente graças
a você. É um caso fantástico de mudança brusca de sorte.
Bom, talvez. Num relâmpago me lembrei de Frank, o irmão de Jo,
dizendo que achava não existir essa coisa de sorte, e sim destino e
escolhas inspiradas. E então me lembrei da imagem da TR entrecruzada de
cabos invisíveis, conexões que não se viam, mas que eram fortes como
aço.
— John, esqueci de fazer a pergunta mais importante desses dias
todos, depois que fiz meu depoimento. Esse caso de custódia com que
todos nos preocupamos... já foi marcado?
— Boa pergunta. Já chequei três vezes até domingo, e Bissonette
também. A menos que Devore e seu pessoal tenham montado algo
realmente escorregadio, como dar entrada no caso em outra jurisdição
distrital, acho que não foi.
— Eles poderiam fazer isso? Dar entrada em outra jurisdição?
— Talvez. Mas provavelmente não sem que descobríssemos.
— Então isso significa o quê?
— Que Devore está à beira de desistir do caso — disse John
prontamente. — Por enquanto não vejo outra maneira de explicar a coisa.
Estou voltando para Nova York amanhã cedo, mas ficarei em contato. Se
acontecer alguma novidade, faça o mesmo.
Eu disse que o faria e fui para cama. Nenhuma visitante feminina apareceu para partilhar meus sonhos. E isso foi um tipo de alívio.


Quando desci ao andar de baixo para encher novamente meu copo de chá
gelado na manhã de quarta, Brenda Meserve havia montado o varal giratório
no alpendre dos fundos e estava pendurando minhas roupas. Fazia isso sem
dúvida como a mãe lhe ensinara, com calças e camisas para o lado de fora
e roupas de baixo para o lado de dentro, para que qualquer passante xereta
não pudesse ver o que você usava mais perto da pele.
— O senhor pode levar essas roupas para dentro lá pelas quatro
horas — disse a sra. M. quando se preparava para ir embora. Olhou-me
com a brilhante e cínica expressão de uma mulher que vinha “sendo
diarista” para homens abastados a vida inteira. — Não vai esquecer e deixar
as roupas do lado de fora a noite toda. Roupas que ficam no sereno nunca
parecem limpas até serem lavadas de novo.
Afirmei-lhe humildemente que me lembraria de levar as roupas para
dentro. Então perguntei — sentindo-me um espião à procura de informação
numa festa de embaixada — se ela achava que ia tudo bem com a casa.
— Tudo bem como? — perguntou, erguendo para mim uma
sobrancelha turbulenta.
— Bem, ouvi uns barulhos esquisitos umas duas vezes. À noite.
Ela torceu o nariz.
— É uma casa de troncos, não é? Construída por etapas, digamos
assim. Uma ala se assenta na outra. Provavelmente é isso que o senhor
escuta.
— Nenhum fantasma, hein? — eu disse, como se estivesse
desapontado.
— Não que eu já tenha visto — disse ela, prática como um contador
—, mas minha mãe dizia que havia muitos aqui. Dizia que todo esse lago é
assombrado. Pelos Micmacs que viveram aqui até serem expulsos pelo
general Wing, e por todos os homens que foram para a Guerra Civil e
morreram lá, mais de seiscentos foram para lá desta parte do mundo, sr.
Noonan, e menos de 150 voltaram... pelo menos em seus corpos. Mamãe
dizia que este lado do Dark Score também é assombrado pelo fantasma
daquele menino negro que morreu nessas bandas, pobre do guri. Ele era de
um dos Red-Tops, o senhor sabe.
— Não. Sei sobre Sara e os Red-Tops, mas isso não. — Fiz uma
pausa: — Ele se afogou?
— Não, ficou preso numa armadilha de pegar animal. Lutou a maior
parte do dia, gritando por socorro. Finalmente o encontraram. Salvaram o pé
dele, mas não deviam ter feito isso. O garoto teve toxemia e morreu. Foi
no verão de 1901. É por isso que foram embora, acho eu, era triste demais
ficar. Mas mamãe costumava dizer que o garoto tinha ficado. Costumava
dizer que ele ainda está na TR.
Fiquei pensando no que diria a sra. M. se eu lhe contasse que o
rapazinho provavelmente havia estado aqui para me saudar quando cheguei
de Derry, e desde então havia voltado em várias ocasiões.
— E também teve o pai de Kenny Auster, Normal — disse ela. — O
senhor conhece essa história, não é? Ah, é uma história terrível.
Ela parecia contente — ou de conhecer uma história tão terrível ou
de ter a chance de contá-la.
— Não — eu disse. — Mas conheço Kenny. É aquele que tem o galgo.
Mirtilo.
— É. Ele faz um pouco de serviço de carpinteiro e um pouco de
caseiro, como o pai fazia. Foi caseiro de muitos lugares aqui, e, pouco
depois da Segunda Guerra Mundial terminar, Normal Auster afogou o
irmãozinho de Kenny no quintal dos fundos. Foi quando moravam em Wasp
Hill, bem onde a estrada se bifurca, um lado indo para o velho cais de
desembarque e o outro para a marina. Mas ele não afogou o guri no lago.
Botou ele no terreno debaixo da bomba e o deixou ali até que o bebê se
enchesse de água e morresse.
Fiquei ali encarando-a enquanto as roupas atrás de nós balançavam
no varal. Pensei em minha boca, nariz e garganta cheios daquele frio sabor
mineral que bem podia ter sido água de poço, assim como água do lago; ali,
a água toda vinha do mesmo aquífero. Eu me lembrei da mensagem na
geladeira: socorro estou afogando.
— Ele deixou o garotinho bem debaixo da bomba. Tinha um Chevrolet
novo e o dirigiu até a estrada 42. Levou a espingarda, também.
— Não vai me dizer que o pai de Kenny Auster cometeu suicídio em
minha casa, vai, sra. Meserve?
Ela balançou a cabeça.
— Não. Ele fez isso no deck dos Brickers que dava para o lago.
Sentou na varanda deles e estourou sua desgraçada cabeça assassina de
bebês.
— Os Brickers? Eu não...
— Nem poderia. Não tem havido nenhum Brickers no lago desde os
anos 1960. Vinham de Delaware. Gente de qualidade. Eram tipo os
Washburn, acho eu, se bem que esses agora também já se foram. O lugar
está vazio. De vez em quando, aquele bobo nato do Osgood leva alguém até
lá e mostra o lugar, mas jamais vai vendê-lo com o preço que está pedindo.
Escreva o que estou dizendo.
Eu havia conhecido os Washburn — joguei bridge com eles uma ou
duas vezes. Gente bastante simpática, embora provavelmente não o que a
sra. M., com seu esquisito esnobismo de uma região rural remota, teria
chamado “de qualidade”. A casa deles ficava talvez a uns 200 metros ao
norte da minha ao longo da Rua. Além daquele ponto não há muito mais —
a descida para o lago fica íngreme e os bosques são emaranhados maciços
de vegetação nascida depois da destruição do bosque inicial e moitas de
amora-preta. A Rua prossegue até a ponta de Halo Bay no extremo norte de
Dark Score, mas quando a estrada 42 curva-se de volta para a rodovia, o
caminho é usado principalmente em expedições para a colheita de frutinhas
vermelhas no verão e por caçadores no outono.
Pensei em Normal. Que raio de nome para um sujeito que havia
afogado o filho pequeno debaixo de uma bomba no quintal.
— Ele deixou um bilhete? Alguma explicação?
— Não. Mas a gente ouve o pessoal dizer que ele assombra o lago
também. Cidadezinhas pequenas são muitas vezes cheias de assombrações,
mas não posso dizer que sim ou que não, ou talvez seja eu mesma; não
sou do tipo sensitivo. Tudo que sei sobre a sua casa, sr. Noonan, é que
cheira a umidade por mais que eu tente arejá-la. Acho que são os troncos.
Construção de tronco não combina com lagos. A umidade entra na madeira.
Ela tinha colocado a bolsa entre os Reeboks; então se curvou e a
pegou. Era uma bolsa de mulher do campo, preta, sem estilo (a não ser
pelas presilhas douradas segurando as alças) e utilitária. Ela poderia ter
levado uma boa quantidade de utensílios de cozinha na bolsa, se quisesse.
— Não posso ficar aqui de papo o dia todo, por mais que eu queira.
Tenho que ir a mais um lugar antes de acabar por hoje. O verão é tempo
de colheita nesta parte do mundo, como o senhor sabe. Não vai se esquecer
de levar essas roupas para dentro antes de escurecer, sr. Noonan. Não
deixe elas apanharem sereno.
— Não vou não. — E não deixei. Mas quando saí para levá-las para
dentro, no meu calção de banho e coberto do suor do forno onde estive
trabalhando (tinha que mandar consertar o ar-condicionado; tinha que fazer
isso de qualquer maneira), vi que algo tinha alterou as arrumações da sra.
M. Os jeans e as camisas estavam pendurados agora em torno do mastro.
As roupas de baixo e meias, decorosamente escondidas quando a sra. M.
saíra pelo caminho de carros em seu velho Ford, estavam agora do lado de
fora. Era como se meu hóspede invisível, um de meus hóspedes invisíveis, estivesse dizendo ha ha ha.

Fui à biblioteca no dia seguinte, e a primeira coisa que fiz foi renovar meu
cartão. A própria Lindy Briggs recebeu minhas quatro pratas e me registrou
no computador, dizendo primeiro o quanto lamentou ter sabido da morte de
Jo. Da mesma forma que em Bill, senti certa censura em seu tom, como
se eu fosse o culpado daquelas condolências tão impropriamente atrasadas.
Acho que eu era.
— Lindy, você tem uma história da cidade? — perguntei quando
terminamos as fórmulas apropriadas com relação à minha mulher.
— Temos duas — disse ela. Depois se inclinou para mim por sobre a
mesa. Era uma mulher pequena num vestido sem mangas e violentamente
estampado, o cabelo grisalho numa bola fofa em torno da cabeça, os olhos
brilhantes nadando por trás das lentes bifocais. Numa voz confidencial, ela
acrescentou: — Nenhuma das duas é muito boa.
— Qual é melhor? — perguntei, no mesmo tom dela.
— Provavelmente a de Edward Osteen. Era um residente de verão
até meados dos anos 1950 e morou aqui direto depois de se aposentar.
Escreveu Dark Score Days em 1965 ou 1966. Publicou-o por sua própria
conta porque não conseguiu achar uma editora comercial que o aceitasse.
Nem os editores da região o quiseram. — Ela suspirou. — O pessoal do
lugar comprou o livro, mas isso não significa muitos exemplares, não é?
— Não, acho que não — eu disse.
— Ele não era muito bom escritor. Também não era um fotógrafo
muito bom, aquelas fotos instantâneas em preto e branco fazem meus
olhos doerem. Mesmo assim, conta algumas histórias boas. A estrada dos
Micmacs, o cavalo amestrado do general Wing, o furacão na década de
1880, os incêndios dos anos 1930...
— Algo sobre Sara e os Red-Tops?
Ela assentiu com a cabeça, sorrindo.
— Finalmente veio dar uma espiada na história de sua própria casa,
não é? Fico contente em saber disso. Ele encontrou uma velha foto deles, e
está lá. Ele achava que tinha sido tirada na Feira de Fryeburg em 1900. Ed
costumava dizer que daria muito para ouvir um disco feito por aquele
grupo.
— Eu também, mas nenhum foi feito. — Subitamente ocorreu-me um
haicai do poeta grego George Seferis: “São as vozes de nossos amigos
mortos/ ou apenas o gramofone?” — O que aconteceu com o sr. Osteen?
Não me lembro do nome.
— Morreu em menos de um ano ou dois depois que você e Jo
compraram a casa no lago — acrescentou ela. — Câncer.
— Você disse que havia duas histórias?
— A outra você provavelmente conhece: Uma história do condado de
Castle e de Castle Rock. Feita para o centenário do condado, e seca como
poeira. O livro de Eddie Osteen não é muito bem escrito, mas não é seco.
A gente tem que lhe conceder isso. Você deve encontrar os dois por ali. —
Apontou para a prateleira com uma tabuleta por cima que dizia DE
INTERESSE DO MAINE. — Eles não circulam. — Então se animou: — Embora
aceitemos alegremente qualquer níquel que você seja a compelido a colocar
em nossa máquina de fotocópia.
Mattie estava sentada no canto extremo junto a um garoto de boné
de beisebol virado para trás, mostrando-lhe como usar o leitor de
microfilme. Ergueu os olhos para mim, sorriu e mexeu os lábios dizendo
Boa pegada. Referindo-se à minha jogada de sorte no Warrington’s,
provavelmente. Dei de ombros com modéstia antes de voltar às prateleiras
DE INTERESSE DO MAINE. Mas ela estava certa — com sorte ou não, tinha sido uma bela pegada.


— O que é que está procurando?
Eu havia mergulhado tanto nas duas histórias que encontrei que a
voz de Mattie me fez dar um pulo. Virei-me e sorri, primeiro consciente de
que ela usava um perfume leve e agradável, e segundo que Lindy Briggs nos
observava da mesa principal, sem o sorriso de boas-vindas.
— Pano de fundo da área onde moro — falei. — Histórias antigas.
Minha diarista me deixou interessado. — Então, numa voz mais baixa: — A
professora está observando. Não olhe.
Mattie pareceu espantada e, na minha opinião, um pouco preocupada.
Depois soube que tinha razão de estar assim. Numa voz baixa, mas mesmo
assim emitida para ir até a mesa, ela perguntou se podia recolocar um dos
livros na estante para mim. Entreguei-lhe os dois. Enquanto os pegava, ela
disse quase num sussurro de conspiradora:
— Aquele advogado que representou você na sexta-feira passada
conseguiu um detetive particular para John. Ele disse que podem ter
descoberto uma coisa interessante sobre o guardião ad litem.
Andei até as prateleiras DE INTERESSE DO MAINE com ela,
esperando com isso não lhe arranjar problemas, e perguntei se sabia o que
esse algo interessante podia ser. Mattie balançou a cabeça, deu-me um
sorriso de bibliotecariazinha profissional e se afastou.
Na viagem de volta para casa, tentei pensar sobre o que havia lido,
mas não havia muito. Osteen era um escritor ruim que tirava fotos ruins, e
ainda que suas histórias fossem coloridas, também eram muito
inconsistentes na base. Sem dúvida mencionava Sara e os Red-Tops, mas
referia-se a eles como um “octeto Dixie-Land”; até eu sabia que isso não
estava certo. Os Red-Tops podem ter tocado algum Dixieland, mas haviam
sido basicamente um grupo de blues (noites de sextas e sábados) e um
grupo gospel (manhãs de domingo). O resumo de duas páginas de Osteen
sobre a estada dos Red-Tops na TR deixava claro que ele não havia
escutado mais ninguém fazendo covers das músicas de Sara.
Ele confirmava que uma criança havia morrido de toxemia causada
por um ferimento de armadilha, história que parecia a de Brenda Meserve...
mas por que não pareceria? Osteen provavelmente a ouviu do pai ou do avô
da sra. M. Dizia também que o garoto era o filho único de Son Tidwell, e
que o verdadeiro nome do guitarrista era Reginald. Os Tidwell haviam
provavelmente se deslocado para o norte vindos da zona de prostituição de
Nova Orleans — as famosas ruas de clubes e espeluncas cheias de ladrões
conhecidas na virada do século como Storyville.
Não havia menção de Sara e dos Red-Tops na história mais formal
do condado de Castle, e nenhuma menção ao irmãozinho afogado de Kenny
Auster nos dois livros. Pouco antes de Mattie chegar para falar comigo, tive
uma ideia maluca: a de que Son Tidwell e Sara Tidwell eram casados, e que
o garotinho (cujo nome Osteen não mencionava) era filho deles. Achei o
retrato de que Lindy tinha falado e examinei-o atentamente. Mostrava pelo
menos uma dúzia de negros em pé num grupo austero na frente do que
parecia uma exposição de gado. Havia um antiquado carro ao fundo. Poderia
bem ter sido tirada na Feira de Fryeburg e, apesar de velha e desbotada,
tinha um poder simples e elemental que todas as fotos de Osteen
colocadas juntas não poderiam alcançar. A gente vê fotos dos bandidos do
Oeste e da época da Depressão com aquele mesmo olhar de verdade
sinistra — rostos severos acima de gravatas e colarinhos apertados, olhos
não muito perdidos nas sombras de antigos chapéus desabados.
Na frente e no centro da foto, Sara, com seu violão, usava um
vestido preto. Não estava exatamente sorrindo na fotografia, mas parecia
haver um sorriso em seus olhos, e achei que eram como os olhos de
algumas telas, os que parecem nos seguir quando nos movemos pela sala.
Examinei a foto e pensei em sua voz quase rancorosa no meu sonho: O que
quer saber, benzinho? Acho que eu queria saber sobre ela e os outros —
quem haviam sido, o que eram uns para os outros quando não estavam
cantando e tocando, por que haviam partido, para onde tinham ido.
As mãos dela eram claramente visíveis, uma sobre as cordas do
violão, a outra nos trastos do instrumento, onde ela esteve tirando um
acorde de sol num dia de feira em outubro do ano de 1900. Seus dedos
eram compridos, artísticos, despidos de anéis. Isso não significava
necessariamente que ela e Son Tidwell não fossem casados, claro, e
mesmo que tivessem sido, o garotinho capturado na armadilha poderia ser
filho de outro. Só que a mesma sombra de sorriso pairava nos olhos de Son
Tidwell. A semelhança era extraordinária. Ocorreu-me que os dois tivessem
sido irmão e irmã, não marido e mulher.
Pensei nessas coisas a caminho de casa, assim como em conexões
que eram mais sentidas do que vistas... mas me descobri pensando
principalmente sobre Lindy Briggs — o modo como sorrira para mim e, um
pouco mais tarde, o modo como não sorrira para sua alegre e jovem
bibliotecária com diploma do ensino médio. Aquilo tinha me preocupado.
Então voltei para casa e depois só me preocupei com minha história e as pessoas contidas nela — sacos de ossos que ganhavam carne diariamente.

Michael Noonan, Max Devore e Rogette Whitmore representaram sua
horrível ceninha de comédia na noite de sexta-feira. Duas outras coisas que
merecem ser contadas aconteceram antes daquilo.
A primeira foi um telefonema de John Storrow na quinta à noite. Eu
estava sentado em frente à TV com um jogo de beisebol desenrolando-se
sem som à minha frente (o botão MUTE com que a maioria dos controles
remotos vêm equipados pode ser a melhor invenção do século XX). Pensava
em Sara Tidwell e Son Tidwell e em Son Tidwell e seu filho. Pensava em
Storyville, um nome que qualquer escritor simplesmente tinha que adorar. E
no fundo de minha mente pensava em minha mulher, que havia morrido
grávida.
— Alô? — eu disse.
— Mike, tenho notícias maravilhosas — falou John. Parecia prestes a
estourar. — Romeo Bissonette pode ter um nome esquisito, mas não há
nada esquisito no detetive que ele encontrou para mim. Seu nome é George
Kennedy, como o ator. Ele é bom, e é rápido. Esse cara podia trabalhar em
Nova York.
— Se esse é o melhor elogio em que consegue pensar, precisa sair
mais da cidade.
Ele prosseguiu como se não tivesse ouvido.
— O verdadeiro trabalho de Kennedy é numa firma de segurança, o
outro negócio é estritamente um bico. O que é uma grande perda, acredite.
Ele conseguiu a maior parte da coisa por telefone. Não consigo acreditar.
— Você não consegue acreditar em que, exatamente?
— Na sorte grande, baby. — Mais uma vez falou naquele tom de
ávida satisfação que eu achava perturbador e tranquilizador ao mesmo
tempo. — Elmer Durgin fez as seguintes coisas desde o final de maio:
acabou de pagar seu carro; acabou de pagar seu terreno em Rangely Lakes;
conseguiu saldar cerca de noventa anos de pensão para os filhos...
— Ninguém paga pensão de filhos por noventa anos — eu disse, mas
falei apenas por falar... para extravasar um pouco de minha própria
excitação, na verdade. — Isso é impossível, cara.
— É possível se você tem sete filhos — disse John, e rolou de rir.
Pensei naquele rosto rechonchudo cheio de autossatisfação, a boca
de arco de cupido, as unhas que pareciam lustrosas e afeminadas.
— Ele não tem sete filhos.
— Tem sim — disse John, ainda rindo. Parecia um lunático completo,
maníaco, mas não depressivo. — Tem mesmo! E que vão de qu-quatorze a
tr-três anos! Que pauzinho p-p-potente e ocupado ele deve ter! — Mais
gargalhadas. Então comecei a rir junto com ele. Aquilo pegava como
cachumba. — Kennedy vai me mandar por f-f-fax r-retratos de toda a...
fam... família! — Nós gargalhávamos agora, rindo juntos pelo interurbano.
Eu podia imaginar John Storrow sentado sozinho em seu escritório da Park
Avenue, urrando como um lunático e assustando as faxineiras.
— Mas isso não importa — disse ele quando pôde falar
coerentemente de novo. — Você está vendo o que importa, não é?
— Estou. Como é que ele pôde ser tão burro? — falei, referindo-me a
Durgin, mas também a Devore. Acho que John entendeu que estávamos
falando dos dois ao mesmo tempo.
— Elmer Durgin é um advogadozinho de uma pequena comunidade
nos grandes e remotos bosques do Maine ocidental, só isso. Como é que
podia saber que chegaria um anjo guardião com recursos para desmascará-
lo? Por falar nisso, ele também comprou um barco. Há duas semanas. É de
motor gêmeo. Grande. Acabou, Mike. O time de casa marca nove pontos no
final do jogo.
— Se você está dizendo. — Mas minha mão se moveu por vontade
própria, fechou-se num punho frouxo e bateu na boa e sólida madeira da
mesinha.
— E sabe do que mais? O jogo de softbol não foi uma perda total. —
John ainda falava e ria em pequenos acessos como balões de hélio.
— O quê?
— Fiquei encantado com ela.
— Ela?
— Mattie — disse ele pacientemente. — Mattie Devore. — Fez uma
pausa. — Mike? Está ouvindo?
— Estou. O telefone escorregou. Desculpe. — O telefone não tinha
escorregado nem um centímetro, mas a explicação se mostrou bastante
natural, achei eu. Se não se mostrasse, e daí? No que tangia a Mattie, eu
seria, pelo menos na cabeça de John, acima de qualquer suspeita. Como a
equipe de empregados da casa de campo num livro de Agatha Christie. Ele
tinha 28 anos, talvez 30. A ideia de que um homem 12 anos mais velho
pudesse sentir-se sexualmente atraído por Mattie provavelmente jamais lhe
passou pela cabeça... ou talvez por um ou dois segundos no parque, antes
que ele a descartasse como ridícula. Da mesma maneira como a própria
Mattie tinha descartado a ideia de Jo e o homem de blazer marrom.
— Não posso fazer minha dança da conquista enquanto a estiver
representando — disse ele —, não seria ético. Também não seria seguro.
Mas depois... nunca se sabe.
— Não — eu disse, escutando minha voz como a gente ouve algumas
vezes a própria voz em momentos em que se é surpreendido
completamente sem ação, como se a voz tivesse saído de outra pessoa.
Alguém no rádio ou no toca-discos, talvez. São as vozes de nossos amigos
mortos ou apenas o gramofone? Pensei nas mãos dele, os dedos compridos
e esbeltos, sem um anel. Como as mãos de Sara naquela velha foto. —
Não, nunca se sabe.
Nós nos despedimos e continuei assistindo ao jogo de beisebol mudo.
Pensei em subir para pegar uma cerveja, mas o caminho até a geladeira
parecia muito distante — um safári, na realidade. O que eu sentia era uma
espécie de mágoa surda, seguida por uma emoção melhor: um alívio triste,
como acho que se pode chamar. Ele era velho demais para Mattie? Não,
acho que não. Era da idade certa. O Príncipe Encantado Número Dois, dessa
vez de terno, calças e colete. A sorte de Mattie com homens podia
finalmente estar mudando e, se fosse isso, eu deveria ficar contente. Eu
ficaria contente. E aliviado. Porque tinha um livro a escrever, pouco
importando a aparência de uns tênis brancos iluminando-se sob um vestido
vermelho de verão no crepúsculo crescente, ou a brasa do cigarro dela
dançando no escuro.
Ainda assim, senti-me realmente solitário pela primeira vez desde
que tinha visto Kyra andando pela linha branca da rota 68 de maiô e
sandálias de dedo.
— Homenzinho engraçado, disse Strickland — falei para a sala vazia.
Saiu antes de eu saber que ia dizer algo e, quando o fiz, o canal de TV
mudou. Foi do beisebol para uma reprise de Tudo em família e depois para
Ren & Stimpy. Dei uma espiada no controle remoto. Ainda estava na
mesinha de centro onde eu o deixara. O canal de TV mudou de novo, e
então passei a ver Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Havia um avião ao
fundo, e eu não precisava pegar o controle remoto e ligar o som para saber
que Humphrey dizia a Ingrid para ela entrar no avião. O filme preferido de
minha mulher entre todos que haviam sido feitos. No final, ela desabava no
choro, infalivelmente.
— Jo? — perguntei. — Você está aí?
O sino de Bunter tocou uma vez. Muito debilmente. Havia várias
presenças na casa, eu tinha certeza... mas naquela noite, pela primeira vez,
senti absolutamente que quem estava comigo era Jo.
— Quem era ele, meu bem? — perguntei. — Quem era o cara no
campo de softbol?
O sino de Bunter permaneceu imóvel e quieto. Mas ela estava na
sala. Eu a sentia, algo como uma respiração suspensa.
Lembrei-me da mensagenzinha feia e de escárnio na geladeira depois
de meu jantar com Mattie e Ki: rosa azul mentiroso ha ha.
— Quem era ele? — Minha voz saiu pouco firme, parecendo à beira
das lágrimas. — O que é que você estava fazendo aqui com um cara? Você
estava... — Mas não consegui perguntar se tinha mentido para mim, me
enganado. Não consegui fazê-lo mesmo que a presença que eu sentia
pudesse estar, vamos encarar o fato, apenas na minha cabeça.
A TV saiu de Casablanca e lá estava o advogado preferido de todo
mundo, Perry Mason, no Nick@tNite. A nêmesis de Perry, Hamilton Burger,
interrogava uma mulher de aparência atormentada, e repentinamente o som
estrondeou novamente, fazendo-me dar um pulo.
— Não sou mentirosa! — gritou uma antiga atriz de TV. Por um
momento ela olhou direto para mim; fiquei atônito e sem respiração ao ver
os olhos de Jo naquele rosto em branco e preto dos anos 1950. — Nunca
menti, sr. Burger, nunca!
— Eu alego que mentiu! — respondeu Burger. Moveu-se para perto
dela, pairando ali como um vampiro. — Eu alego que você...
A TV foi desligada subitamente. O sino de Bunter deu uma rápida e
única sacudidela e depois fosse lá o que tivesse estado ali foi embora. Mas eu me sentia melhor. Não sou mentirosa... Nunca menti, nunca.
Eu podia acreditar naquilo, se quisesse.
Se quisesse.
Fui para cama e não houve sonhos.


Passei a trabalhar bem cedo, antes que o calor assolasse realmente o
escritório. Bebia um pouco de suco, mastigava uma torrada e depois me
sentava à IBM até quase meio-dia, observando a bola Courier dançar e girar
enquanto as páginas flutuavam através da máquina e saíam escritas. A
velha mágica, tão estranha e maravilhosa. Aquilo nunca tinha parecido
trabalho para mim, embora eu o chamasse disso; parecia, isto sim, um tipo
esquisito de trampolim mental do qual eu saltava para a frente. Molas que
retiravam todo o peso do mundo durante um tempo.
Ao meio-dia, eu fazia uma pausa, dirigia até o “gordurorium” de
Buddy Jellison para comer algo bem pesado, voltava para casa e trabalhava
por mais uma hora mais ou menos. Depois disso, nadava e tirava uma
longa soneca sem sonhos no quarto norte. Raramente pousava a cabeça no
quarto principal na extremidade sul da casa, e se a sra. M. achava isso
esquisito, guardava a opinião para si mesma.
Na sexta-feira dia 17, ao voltar para casa, parei no Armazém
Lakeview para pôr gasolina no Chevrolet. Havia bombas na oficina, sendo
que a bomba manipulada pelo cliente era um ou dois centavos mais barata;
contudo, eu não gostava das vibrações. Hoje, enquanto estava na frente do
armazém com a bomba de gasolina automática e olhando na direção das
montanhas, o Dodge Ram de Bill Dean parou do outro lado da ilha de
combustível. Ele desceu e sorriu:
— Como vai, Mike?
— Muito bem.
— Brenda disse que você está escrevendo a todo vapor.
— Estou — respondi, e o pedido para uma revisão do ar-condicionado
quebrado do segundo andar esteve na ponta da minha língua, mas ficou ali.
Ainda me sentia nervoso demais sobre minha capacidade redescoberta para
querer mudar qualquer coisa no meio ambiente em que aquilo transcorria.
Talvez fosse estúpido, mas às vezes as coisas funcionam só porque você
acha que funcionam. É uma definição de fé tão boa quanto qualquer outra.
— Bem, estou contente de saber disso. Muito contente. — Achei que
era sincero, mas de alguma forma não soava como Bill. Não aquele que
havia me cumprimentado quando cheguei, de qualquer modo.
— Tenho dado uma espiada num material antigo sobre o meu lado do
lago — falei.
— Sara e os Red-Tops? Você sempre teve certo interesse neles, eu
me lembro.
— Neles sim, mas não só neles. Montes de histórias. Eu estava
conversando com a sra. M., e ela me contou do Normal Auster, o pai de
Kenny.
O sorriso de Bill ficou paralisado. Ele só fez uma rápida pausa no ato
de destampar o tanque de gasolina de seu carro, mas mesmo assim tive a
sensação muito clara de que havia congelado por dentro.
— Você não ia escrever sobre uma coisa daquelas, não é, Mike?
Porque há um monte de gente por aqui que acharia isso ruim e levaria a
mal. Eu disse a mesma coisa a Jo.
— Jo? — Senti um impulso de andar entre as duas bombas e pisar
na ilha para agarrá-lo pelo braço. — O que é que Jo tem a ver com isso?
Ele me olhou cautelosamente e por muito tempo.
— Ela não lhe contou?
— Do que está falando?
— Ela pensou que pudesse escrever algo sobre Sara e os Red-Tops
para um dos jornais locais. — Bill escolhia as palavras muito lentamente.
Tenho uma nítida lembrança disso, e de como o sol estava quente,
espancando meu pescoço, e como nossas sombras eram pronunciadas no
asfalto. Ele começou a bombear a gasolina, e o som do motor da bomba
era também muito alto. — Acho que ela chegou até a mencionar a revista
Yankee. Posso estar enganado sobre isso, mas acho que não estou.
Fiquei sem fala. Por que ela não teria me contado sobre a ideia de
escrever a respeito de uma pequena história local? Teria pensado que
estava se intrometendo em meu território? Isso era ridículo. Ela me
conhecia bem demais para aquilo... não conhecia?
— Quando é que vocês tiveram essa conversa, Bill? Você se lembra?
— Claro que sim. No mesmo dia em que ela apareceu para receber
aquelas corujas de plástico. Mas eu é que toquei no assunto, porque o
pessoal me disse que ela estava fazendo perguntas.
— Xeretando?
— Não disse isso — falou rigidamente. — Você é que está dizendo.
Era verdade, mas achei que ele queria dizer isso mesmo.
— Continue.
— Não tem continuação nenhuma. Eu disse a ela que alguns calos
doíam aqui e acolá na TR, o mesmo que acontece em toda parte, e pedi-lhe
que não pisasse em nenhum calo se pudesse evitar. Ela disse que
compreendia. Talvez compreendesse, talvez não. Só sei que continuou a
fazer perguntas. Escutando histórias de velhos tolos com mais tempo do
que juízo.
— Quando foi isso?
— Outono de 1993, inverno e primavera de 1994. Ela percorreu toda a
cidade, foi até Motton e Harlow, com seu caderno de notas e gravadorzinho.
De qualquer maneira, só sei isso.
Percebi uma coisa atordoante: Bill estava mentindo. Se me
perguntassem antes daquele dia, eu teria rido e dito que Bill Dean não tinha
uma mentira sequer dentro da cabeça. E não devia ter muitas, pois mentia
muito mal.
Pensei em lhe chamar a atenção para aquilo, mas com que
finalidade? Eu precisava pensar, e não poderia fazê-lo ali — minha mente
rugia. Com o tempo, o rugido poderia diminuir e eu veria que na verdade
não era nada, nada de importante, mas precisava de tempo. Quando você
começa a descobrir coisas inesperadas sobre um ente amado que morreu
há algum tempo, isso o abala. Abala mesmo, pode acreditar.
Os olhos de Bill tinham se afastado dos meus, mas voltaram a me
fitar. Ele parecia ao mesmo tempo sincero e — eu poderia jurar — um
pouco assustado.
— Ela perguntou sobre o pequeno Kerry Auster, e isso é um bom
exemplo do que quero dizer quando falo em pisar em calos. Isso não é
assunto para uma reportagem de jornal ou um artigo de revista. Normal
simplesmente detonou. Ninguém sabe por quê. Foi uma tragédia terrível,
sem sentido, e ainda há pessoas que poderiam ficar magoadas com o
assunto. Em cidadezinhas pequenas, as coisas estão ligadas por debaixo da
superfície...
É, como cabos que não se podem ver.
— ... e o passado morre com mais lentidão. Sara e aqueles outros é
uma questão diferente. Eles eram... só andarilhos... de longe. Jo poderia ter
se limitado a esse pessoal e ficaria tudo bem. E, tanto quanto sei, ela fez
isso. Porque nunca vi uma única palavra que tenha escrito. Se é que
escreveu.
A respeito daquilo, senti que ele estava dizendo a verdade. Mas eu
sabia algo mais, e com tanta certeza como quando soube que Mattie estava
usando short branco ao me ligar em seu dia de folga. Sara e aqueles outros
eram só andarilhos de longe. Bill havia dito aquilo, mas hesitou no meio do
pensamento, substituindo por andarilhos a palavra que lhe viera
naturalmente à mente. Crioulos era a palavra que não havia pronunciado.
Sara e os outros eram só crioulos de longe.
Imediatamente me vi pensando numa velha história de Ray
Bradbury: Marte É o Céu. Os primeiros viajantes espaciais para Marte
descobrem que ele é Green Town, Illinois, e que todos os seus parentes e
amigos bem-amados estão lá. Só que os amigos e parentes são na verdade
monstros alienígenas e, durante à noite, enquanto os viajantes pensam que
eles estão dormindo nas camas dos familiares mortos há muito tempo num
lugar que devia ser o céu, são assassinados até o último homem.
— Bill, tem certeza de que ela apareceu por aqui algumas vezes fora
da estação?
— Tenho. E também não foram só algumas vezes. Deve ter sido
uma dúzia de vezes ou mais. Viagens de um dia, sabe.
— Você viu alguma vez um sujeito com ela? Um cara corpulento, de
cabelo preto?
Ele pensou a respeito. Tentei não parar de respirar. Finalmente
balançou a cabeça.
— Nas poucas vezes em que a vi, ela estava sozinha. Mas não a via
toda vez que ela aparecia. Às vezes só sabia que Jo tinha estado na TR
depois que já havia ido embora de novo. Eu a vi em junho de 1994, indo na
direção de Halo Bay naquele carrinho dela. Ela acenou, eu respondi. Fui até
sua casa mais tarde naquela noite para ver se precisava de alguma coisa,
mas ela já tinha ido embora. Não a vi de novo. Quando ela morreu, naquele
mesmo verão, eu e ‘Vette ficamos muito chocados.
Fosse o que fosse que estivesse procurando, ela não deve ter
chegado a registrá-lo no papel. Eu teria encontrado o manuscrito.
Mas aquilo seria verdade? Ela tinha feito muitas viagens até aqui
sem nenhuma tentativa aparente de escondê-las, uma delas até
acompanhada por um desconhecido, e eu só descobrira essas visitas
acidentalmente?
— É difícil falar sobre isso — disse Bill —, mas já que começamos,
podemos ir até o fim. Morar na TR é como quando costumávamos dormir
quatro ou até cinco numa cama em janeiro e fazia um frio danado. Se todo
mundo se mantiver tranquilo, fica tudo bem. Mas se uma pessoa fica
inquieta, se mexe e se vira, ninguém pode dormir. Nesse momento, você é
a pessoa inquieta. É assim que o pessoal vê a coisa.
Bill esperou para ver o que eu diria. Quando se passaram quase vinte
segundos sem que eu desse uma palavra (Harold Oblowski teria ficado
orgulhoso), ele mexeu os pés e continuou.
— Há gente nessa cidade se sentindo desconfortável com o seu
interesse por Mattie Devore, por exemplo. Não que eu esteja dizendo que
haja alguma coisa entre vocês dois, embora tenha gente que diga isso, mas
se quer ficar na TR, está tornando a coisa difícil para você.
— Por quê?
— Voltando ao que eu disse uma semana atrás: Mattie significa
problemas.
— Segundo me lembro, Bill, você disse que ela estava com
problemas. E está. Estou tentando ajudá-la a se livrar deles. Não há nada
entre nós, a não ser isso.
— Eu me lembro de ter lhe dito que Max Devore é maluco — falou.
— Se deixar ele com raiva, nós todos vamos pagar. — A bomba desligou e
ele a colocou de volta no suporte. Então suspirou, levantou as mãos e as
deixou cair. — Você acha que é fácil para mim dizer isso?
— Você acha que é fácil para mim escutar isso?
— Está bem, sim, estamos no mesmo barco. Mas Mattie Devore não
é a única pessoa na TR vivendo apertado, sabe. Há outros com as suas
próprias desgraças. Entende?
Talvez ele visse que eu entendia bem demais, pois seus ombros
caíram.
— Se está me pedindo para ficar de lado e deixar Devore levar a
filha de Mattie sem nenhuma luta, pode esquecer — falei. — E espero que
não seja isso. Porque eu acho que teria que me afastar de um homem que
pede a outro para fazer uma coisa desse tipo.
— Eu não pediria isso agora de modo nenhum — disse ele, com o
sotaque mostrando-se forte quase ao ponto de desprezo. — Seria tarde
demais, não é? — E então, inesperadamente, amoleceu. — Que droga,
homem, estou preocupado com você. Mande o resto às favas, tá certo?
Solenemente. — Ele estava mentindo de novo, mas desta vez não me
importei muito porque achei que estava mentindo para si mesmo. — Mas
você tem que ter cuidado. Quando eu disse que Devore é maluco, não era
uma maneira de falar. Acha que ele vai se preocupar com a corte superior
se a corte não lhe der o que ele quer? Pessoas morreram naqueles
incêndios de 1933. Gente boa. Um até aparentado comigo. Queimaram mais
da metade do maldito condado e Max Devore ateou o fogo. Foi seu presente
de despedida para a TR. Nunca pôde ser provado, mas foi ele quem fez
aquilo. Naquela época, ele era jovem e sem dinheiro, tinha menos de 20
anos e a lei não estava no seu bolso. O que acha que ele faria agora?
Esquadrinhou-me com os olhos. Eu não disse nada.
Bill assentiu com a cabeça como se eu tivesse falado.
— Pense nisso. E lembre-se de uma coisa, Mike: se eu não me
importasse com você, jamais falaria tão direto como estou falando.
— Direto até que ponto, Bill? — Eu estava tenuemente consciente de
um turista saindo de seu Volvo, caminhando até o armazém e nos olhando
curiosamente; quando repassei a cena na cabeça mais tarde, percebi que
devíamos ter parecido dois caras à beira de uma briga de socos. Lembro
que senti vontade de chorar de tristeza, de perturbação e de uma sensação
indefinida de traição, mas me lembro também de estar furioso com aquele
velho curvado — com sua camiseta de algodão brilhando de limpa e sua
boca cheia de dentes falsos. Portanto, talvez tivéssemos estado perto de
brigar e eu apenas não tive consciência disso naquele momento.
— Tão direto quanto posso — disse ele, e se afastou para entrar e
pagar sua gasolina.
— Minha casa é assombrada — eu disse.
Ele parou de costas para mim, os ombros curvados como se para
absorver um golpe. Então virou-se lentamente.
— Sara Laughs sempre foi assombrada, Mike. Você os agitou. Talvez
você devesse voltar para Derry e deixá-los se aquietarem. Pode ser a
melhor coisa a fazer. — Fez uma pausa como se repassando o que havia
dito para ver se concordava, depois assentiu com a cabeça. Assentiu tão lentamente como se virou. — É, isso podia ser a melhor coisa por aqui.

Quando voltei a Sara, telefonei para Ward Hankins. Depois finalmente liguei
para Bonnie Amudson. Parte de mim torcia para que ela não estivesse na
agência de viagens em Augusta da qual era sócia, mas estava. No meio de
minha conversa com Bonnie, o fax começou a imprimir páginas xerocadas
das agendas de compromissos de Jo. Na primeira, Ward rabiscara: “Espero
que isso ajude.”
Eu não havia ensaiado o que dizer para Bonnie: senti que fazer isso
seria uma receita para o desastre. Contei a ela que Jo vinha escrevendo
uma coisa — talvez um artigo, ou uma série deles — sobre o distrito onde
se localizava nossa casa de verão, e que alguns habitantes aparentemente
haviam ficado profundamente desagradados com a curiosidade dela. Alguns
ainda permaneciam assim. Ela tinha conversado com Bonnie? Talvez
tivesse lhe mostrado um primeiro rascunho?
— Não, ahn-ahn. — Bonnie parecia honestamente surpresa. — Ela
costumava me mostrar suas fotos e mais amostras de ervas do que eu
sinceramente tinha interesse em ver, mas nunca me mostrou nada do que
estava escrevendo. Na verdade, lembro-me de ela dizer certa vez que tinha
resolvido deixar a escrita para você e experimentaria um pouco...
— ... de todo o resto, não é?
— É.
Achei que aquele era um bom momento para terminar a conversa,
mas os rapazes do sótão pareciam ter outras ideias.
— Ela estava saindo com alguém, Bonnie?
Silêncio do outro lado do fio. Com uma mão que parecia estar pelo
menos a 6 quilômetros de distância do braço, recolhi as folhas de fax da
cesta. Dez delas — novembro de 1993 a agosto de 1994. Rabiscos por toda
parte com a caligrafia cuidada de Jo. Nós tínhamos um fax antes de ela
morrer? Não conseguia me lembrar. Não havia muitas porcarias de que eu conseguisse lembrar.
— Bonnie? Se você sabe de algo, por favor, me conte. Jo morreu,
mas eu estou vivo. Posso perdoá-la se tiver que fazer isso, mas não posso
perdoar o que não compreen...
— Desculpe — disse ela, e riu nervosamente. — É que simplesmente
não entendi a princípio. “Saindo com alguém” é... tão estranho com relação
a Jo... à Jo que eu conheci... que não consegui entender o que você estava
falando. Achei que estivesse falando de uma visita a um analista, mas não
estava não, estava? Você queria dizer saindo com um homem. Um namorado.
— É o que eu queria dizer. — Folheando as páginas em xerox da
agenda, minha mão não tinha voltado à distância apropriada de meus olhos,
mas estava chegando lá, chegando lá. Senti alívio ante a perturbação
honesta na voz de Bonnie, mas não tanto quanto esperei. Porque eu sabia.
Nem chegou a precisar que a mulher no velho episódio de Perry Mason
apresentasse seus dois centavos, não precisou mesmo. Era de Jo que
estávamos falando afinal. Jo.
— Mike — Bonnie disse aquilo muito suavemente, como se eu
pudesse estar louco —, ela amava você. Ela amava você.
— É. Acho que amava. — As páginas da agenda mostravam como
minha mulher tinha sido ocupada. E o quanto era produtiva. O Sopão
Solidário do Maine... as sopas de caridade. WomShel, a rede de abrigos para
mulheres agredidas abrangendo vários condados. TeenShel. Amigos das
Bibliotecas do Maine. Esteve em duas ou três reuniões por mês, duas ou
três por semana em algumas épocas, e eu quase não havia notado. Estive
muito ocupado com minhas mulheres em perigo. — Eu também a amava,
Bonnie, mas ela estava envolvida com alguma coisa nos últimos dez meses
de sua vida. Ela não deu nenhuma pista do que poderia ser quando vocês
iam de carro às reuniões do Conselho do Sopão ou dos Amigos das
Bibliotecas do Maine?
Silêncio do outro lado do fio.
— Bonnie?
Afastei o telefone da orelha para ver se a luz vermelha de BATERIA
FRACA estava acesa, e ele gritou alto o meu nome. Coloquei-o no lugar.
— Bonnie, o que é?
— Não houve longas viagens de carro naqueles últimos nove ou dez
meses. Conversávamos ao telefone e lembro que uma vez almoçamos em
Waterville, mas não houve longas viagens de carro. Ela havia saído.
Folheei novamente as folhas de fax. Reuniões anotadas por toda
parte na caligrafia firme de Jo. Sopão Solidário do Maine entre elas.
— Não compreendo. Ela saiu do Conselho do Sopão?
Outro momento de silêncio. Então, falando cuidadosamente:
— Não, Mike. Ela deixou todos eles. Deixou os abrigos para mulheres
e os abrigos para adolescentes no final de 1993, seu período terminara. Dos
outros dois, Sopão e Amigos das Bibliotecas do Maine, ela pediu demissão
em outubro ou novembro de 1993.
Reuniões anotadas por todas as folhas que Ward tinha me enviado.
Dúzias delas. Reuniões em 1993, 1994. Reuniões de conselhos aos quais ela
não mais pertencia. Ela esteve aqui. Em todos aqueles dias em que
supostamente participava de reuniões, Jo tinha estado aqui na TR. Eu apostaria minha vida nisso.
Mas por quê?

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Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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