terça-feira, 28 de abril de 2015

17



NO OUTONO SEGUINTE à viagem para a Europa, comecei um projeto. Dou algo meu todo dia.
Enviei a Mirren pelo correio uma Barbie antiga com cabelo muito comprido, pela qual
costumávamos brigar quando éramos crianças. Mandei para Johnny um cachecol listrado que
costumava usar muito. Johnny gosta de listras.
Para os mais velhos da família — minha mãe, as tias, o vovô —, o acúmulo de belos
objetos é uma meta de vida. Quem morrer com mais coisas ganha.
Ganha o quê? É o que eu gostaria de saber.
Eu era uma pessoa que gostava de coisas bonitas. Assim como minha mãe, como todos os
Sinclair. Mas não sou mais assim.
Minha mãe encheu nossa casa em Burlington com prata e cristal, livros de arte e mantas de
caxemira. Tapetes grossos cobrem todos os pisos, e quadros de vários artistas locais que ela
apadrinha ocupam as paredes. Minha mãe gosta de porcelana antiga e expõe peças na sala de
jantar. Trocou o Saab em perfeitas condições por uma BMW.
Nenhum desses símbolos de prosperidade e bom gosto tem utilidade.
— Beleza é uma utilidade válida — minha mãe argumenta. — Cria um senso de
pertencimento, de história pessoal. Até mesmo prazer, Cadence. Já ouviu falar de prazer?
Mas eu acho que ela está mentindo, para mim e para si mesma, sobre o motivo de ter esses
objetos. O impacto de uma nova compra faz minha mãe se sentir poderosa, mesmo que apenas
por um instante. Acho que há status em ter uma casa cheia de coisas bonitas, em comprar
caríssimas pinturas de conchas de seus amigos com pretensões artísticas e colheres da Tiffany.
Antiguidades e tapetes orientais dizem às pessoas que minha mãe pode ser só uma criadora de
cães que abandonou o curso de artes em Bryn Mawr, mas tem poder — porque tem dinheiro.
DOAÇÃO: meu travesseiro. Eu o levo quando saio.
Há uma menina encostada no muro da biblioteca. Ela tem um copo perto dos tornozelos,
para os trocados. Não é muito mais velha do que eu.
— Quer esse travesseiro? — pergunto. — Lavei a fronha.
Ela pega e senta em cima dele.
Não fiquei confortável na minha cama aquela noite, mas foi por um bom motivo.
DOAÇÃO: exemplar de Rei Lear, que li quando estava no segundo ano, encontrado debaixo da
cama.
Doado para a biblioteca pública.
Não preciso ler de novo.
DOAÇÃO: uma foto da vovó Tipper em uma festa do Instituto Agrícola, usando um vestido de
festa e segurando um leitão.
Paro no Exército de Salvação a caminho de casa.
— Olá, Cadence — diz Patti do outro lado do balcão. — Veio trazer alguma coisa?
— Essa era minha avó.
— Ela era uma linda mulher — diz Patti, espiando. — Tem certeza de que não quer tirar a
foto? Pode doar apenas a moldura.
— Tenho certeza.
Vovó morreu. Ter uma foto dela não vai mudar nada.
— VOCÊ FOI no Exército de Salvação de novo? — minha mãe pergunta quando chego em casa.
Ela está fatiando pêssegos com uma faca especial para frutas.
— Fui.
— Do que se livrou?
— Só uma foto velha da vovó.
— Com o leitão? — Ela torce os lábios. — Ah, Cady.
— Era minha, eu podia fazer o que quisesse.
Minha mãe suspira.
— Se doar um dos cães, vai ouvir um sermão eterno.
Eu me agacho na altura dos cães. Bosh, Grendel e Poppy me cumprimentam com latidos
baixos, adequados para o interior da casa. São os cães de nossa família, distintos e bemeducados.
Golden retrievers de raça pura. Poppy deu várias crias para o canil da minha mãe,
mas os filhotes e os outros cães reprodutores moram com seu sócio em uma fazenda perto de
Burlington.
— Eu nunca faria isso — digo.
Sussurro o quanto os amo em suas orelhas macias de cachorro
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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