O TELEFONE TOCA às dez da noite antes de irmos para Beechwood. Minha mãe está no banho.
Eu atendo.
Respiração pesada. Depois uma risada.
— Quem é?
— Cady?
É uma criança, eu percebo.
— Sim.
— Aqui é o Taft. — O irmão da Mirren. Ele é mal-educado.
— Por que está acordado a essa hora?
— É verdade que você é viciada em drogas? — Taft me pergunta.
— Não.
— Tem certeza?
— Está ligando para perguntar se sou viciada em drogas? — Eu não falava com Taft desde
o acidente.
— Estamos em Beechwood — ele diz. — Chegamos hoje de manhã.
Fico feliz por ele mudar de assunto. Coloco animação na voz.
— Nós vamos amanhã. O tempo está bom? Vocês já foram nadar?
— Não.
— Brincaram no balanço de pneu?
— Não — disse Taft. — Tem certeza de que não é viciada em drogas?
— De onde você tirou essa ideia?
— Bonnie. Ela disse que eu tinha que tomar cuidado com você.
— Não dê ouvidos a Bonnie — eu disse. — Ouça Mirren.
— É isso que estou dizendo. Bonnie é a única que acredita no que eu falo sobre
Cuddledown — ele diz. — Então eu quis ligar para você. Mas não se você for viciada em
drogas, porque os viciados em drogas não sabem o que está acontecendo.
— Não sou viciada em drogas, seu pestinha — eu digo, embora talvez estivesse mentindo.
— Cuddledown é mal-assombrada — diz Taft. — Posso ir dormir com você em
Windemere?
Eu gosto de Taft. Gosto mesmo. Ele é meio doido e coberto de sardas, e Mirren o ama mais
do que ama as gêmeas.
— A casa não é mal-assombrada. É que tem bastante corrente de ar — expliquei. — Em
Windemere também. As janelas batem.
— Então Windemere também é mal-assombrada — Taft diz. — Minha mãe não acredita em
mim, nem Liberty.
Quando ele era mais novo, era aquele que sempre achava que havia monstros dentro do
armário. Mais tarde, convenceu-se de que havia um monstro marinho no cais.
— Peça para Mirren te ajudar — eu digo a ele. — Ela vai ler uma história ou cantar para
você na hora de dormir.
— Você acha?
— Claro que sim. E quando eu chegar aí te levo para brincar de esqui-boia e mergulhar. Vai
ser um belo verão, Taft.
—tá bom —ele diz
— Não fique com medo da velha e idiota Cuddledown — eu digo a ele. — Mostre quem manda e eu te vejo amanhã. Ele desliga sem se despedir.
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