terça-feira, 28 de abril de 2015

25



TODO MUNDO VAI para a nova Clairmont, me deixando sozinha com minha mãe em Windemere
para desfazer as malas. Deixo a minha de lado e vou procurar os Mentirosos.
De repente, eles estão em cima de mim como cachorrinhos. Mirren me abraça e me gira.
Johnny abraça Mirren, Gat abraça Johnny. Estamos todos abraçados, pulando. Depois estamos
separados novamente, indo para Cuddledown.
Mirren fala sem parar sobre como está feliz porque Bess e os pequenos vão passar o verão
com o vovô. Ele agora precisa ficar com alguém. Fora isso, é impossível ficar perto de Bess e
sua compulsão por limpeza. E ainda mais importante: os Mentirosos vão ter Cuddledown só
para si. Gat diz que vai fazer um chá, porque é seu novo vício. Johnny o chama de idiota
arrogante. Acompanhamos Gat até a cozinha. Ele coloca água para ferver.
É um redemoinho, todos falando ao mesmo tempo, discutindo com alegria, exatamente como
nos velhos tempos. Gat quase não olhou para mim, no entanto.
Não consigo parar de olhar para ele.
Ele é tão lindo. Tão Gat. Conheço o arco de seu lábio inferior, a força de seus ombros. O
modo como enfia a camisa mais ou menos dentro da calça jeans, como seus sapatos são
desgastados no calcanhar, como ele toca a cicatriz que tem na sobrancelha sem nem perceber.
Estou tão zangada. E tão feliz em vê-los.
Ele deve ter seguido com a vida, como qualquer pessoa equilibrada faria. Gat não tinha
passado os últimos dois anos em uma carapaça de dor de cabeça e autopiedade. Está saindo
com meninas de Nova York que usam sapatilha, levando-as para comer comida chinesa e
assistir shows. Se não estiver com Raquel, provavelmente tem uma namorada, ou até mais, no
lugar onde mora.
— Seu cabelo mudou — Johnny me diz.
— É.
— Mas você ficou bonita — diz Mirren, com doçura.
— Ela está tão alta — diz Gat, ocupando-se com caixas de chá preto e de jasmim, entre
outros. — Você não era tão alta, era, Cady?
— A gente cresce — eu digo. — Não é culpa minha. — Há dois verões, Gat era vários
centímetros mais alto do que eu. Agora estamos quase da mesma altura.
— Sou a favor do crescimento — diz Gat, ainda sem olhar na minha cara. — Só não fique
mais alta do que eu.
Ele está me paquerando?
Está.
— Johnny sempre me deixa ser o mais alto — Gat continua. — Nunca reclama disso.
— Como se eu tivesse outra opção — resmunga Johnny.
— Ela ainda é nossa Cady — diz Mirren com devoção. — Também devemos estar
diferentes para ela.
Mas não estão. Estão iguais. Gat usando uma camiseta verde desbotada de dois verões
atrás. Com seu sorriso espontâneo, o modo como se inclina para a frente, o nariz grande.
Johnny com seus ombros largos, vestindo jeans e uma camisa xadrez cor-de-rosa tão velha
que as bordas estão esfiapadas; unhas roídas, cabelo curto.
Mirren, como uma pintura pré-rafaelita, aquele queixo quadrado dos Sinclair. Cabelo longo
e fios grossos enrolados no alto da cabeça, usando a parte de cima de um biquíni e shorts.
É reconfortante. Eu os amo.
Será que vão se importar com o fato de eu não conseguir me lembrar nem de acontecimentos
básicos envolvendo o acidente? Perdi tanta coisa do que fizemos juntos no verão dos quinze.
Fico me perguntando se as tias ficaram falando a meu respeito.
Não quero que olhem para mim como se eu estivesse doente. Ou como se minha cabeça não
estivesse funcionando.
— Conte da faculdade — diz Johnny. Ele está sentado sobre a bancada da cozinha. — Em
qual você vai estudar?
— Nenhuma ainda. — Essa é uma verdade que não posso evitar. Estou surpresa por eles
não estarem sabendo.
— O quê?
— Por quê?
— Não terminei a escola. Perdi muita aula depois do acidente.
— Ah, que droga! — grita Johnny. — Isso é terrível. Não pode fazer aulas de recuperação?
— Só se eu não viesse para cá. Além disso, terei mais chances de entrar na faculdade
depois de cursar todas as matérias direito.
— O que você vai estudar? — Gat pergunta.
— Vamos falar sobre outra coisa.
— Mas nós queremos saber — diz Mirren. — Todos queremos.
— É sério — eu digo. — Vamos mudar de assunto. Como anda sua vida amorosa, Johnny?
— Uma droga.
Ergo as sobrancelhas.
— Quando se é tão lindo como eu, nunca é tranquilo — ele ironiza.
— Tenho um namorado chamado Drake Loggerhead — afirma Mirren. — Ele entrou na
faculdade de Pomona, assim como eu. Tivemos relações sexuais várias vezes, mas sempre
com proteção. Ele me dá rosas amarelas toda semana e tem belos músculos.
Johnny cospe o chá. Gat e eu rimos.
— É sério? — Johnny pergunta.
— Sim — responde Mirren. — Qual é a graça?
— Nenhuma. — Johnny sacode a cabeça.
— Estamos saindo há cinco meses — diz Mirren. — Ele está passando o verão em um
programa de treinamento ao ar livre, assim vai ter mais músculos da próxima vez que nos
encontrarmos!
— Você só pode estar brincando — diz Gat.
— Só um pouco — diz Mirren. — Mas eu o amo.
Aperto a mão dela. Estou feliz porque tem alguém para amar.
— Depois vou perguntar sobre as relações sexuais — eu a alerto.
— Quando os meninos não estiverem aqui eu conto tudo — ela diz.
Deixamos as xícaras de chá na cozinha e descemos para a praia pequena. Tiramos os
sapatos e afundamos os dedos na areia. Há conchas minúsculas e afiadas.
— Não vou jantar na nova Clairmont — diz Mirren de maneira conclusiva. — Nem tomar
café da manhã. Este ano não.
— Por que não? — pergunto.
— Eu não aguento — ela diz. — As tias. Os pequenos. Vovô. Ele está meio lelé, sabia?
Confirmo com a cabeça.
— É muita gente junta. Só quero ser feliz com vocês, aqui — diz Mirren. — Não vou ficar
naquela casa nova e fria. Eles estão bem sem mim.
— Digo o mesmo — diz Johnny.
— Eu também — diz Gat.
Percebo que eles discutiram a ideia antes de eu chegar
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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