terça-feira, 28 de abril de 2015

27



MEU QUARTO EM WINDEMERE é coberto de painéis de madeira pintados de creme. Há uma
colcha verde de retalhos sobre a cama. O tapete é como aqueles feitos de trapo que se vê em
pousadas do interior.
Você esteve aqui há dois verões, digo a mim mesma. Neste quarto, todas as noites. Neste
quarto, todas as manhãs.
É provável que estivesse lendo, jogando no iPad, escolhendo roupas. Do que se lembra?
Nada.
Belas gravuras de botânica ocupam as paredes, além de algumas obras de minha autoria:
uma aquarela da acerácea que costumava ocupar o gramado de Clairmont e dois desenhos
feitos com lápis de cor, um da vovó Tipper com seus cachorros, Príncipe Philip e Fatima, e
outro do meu pai. Arrasto o cesto de roupas de vime para fora do armário, tiro todas as
imagens e as enfio no cesto.
Há uma prateleira cheia de livros, infantojuvenis e de fantasia, que eu gostava de ler alguns
anos atrás. Histórias de criança que li centenas de vezes. Pego todos e empilho no corredor.
— Vai doar os livros? Você ama livros — minha mãe diz. Ela está saindo do quarto, usando
roupas limpas para o jantar. Batom.
— Podemos doar para alguma biblioteca — eu digo. — Ou para o Exército de Salvação.
Minha mãe se abaixa e folheia os livros.
— Lemos Vida encantada juntas, você lembra?
Faço que sim com a cabeça.
— E esse também: As vidas de Christopher Chant. Você tinha oito anos. Queria ler tudo,
mas ainda não sabia direito, então eu lia para você e para Gat durante horas e horas.
— E Johnny e Mirren?
— Eles não aguentavam ficar parados — disse minha mãe. — Não quer guardar esses?
Ela estica o braço e toca meu rosto. Eu recuo.
— Quero que tudo tenha um lar melhor — digo a ela.
— Esperava que você se sentisse diferente quando voltássemos para a ilha. Só isso.
— Você se livrou de todas as coisas do papai. Comprou um sofá novo, louça nova, joias
novas.
— Cady.
— Não tem nada na casa inteira que diga que ele já morou com a gente, exceto eu. Por que
você pode apagar meu pai e eu não posso…?
— Apagar você mesma? — minha mãe diz.
— Outras pessoas podem usar isso — respondo, apontando para a pilha de livros. —
Pessoas que realmente precisem. Você não pensa em fazer o bem?
Naquele momento, Poppy, Bosh e Grendel sobem as escadas correndo e ocupam todo o
corredor em que estamos, fuçando nossas mãos, abanando os rabos peludos na altura de
nossos joelhos.
Minha mãe e eu ficamos em silêncio.
Finalmente, ela diz:
— Não tem problema se você ficar vagando pela praia pequena, ou seja lá o que fez essa
tarde. Não tem problema se doar seus livros, já que sente tanta necessidade. Mas eu te espero
em Clairmont para o jantar em uma hora, com um sorriso no rosto para seu avô. Sem
discussão. Sem desculpa. Entendeu?
Faço que sim.

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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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