terça-feira, 28 de abril de 2015

32



GAT CHAMA MEU NOME quando estou subindo para a passagem que leva à nova Clairmont. Eu
me viro e ele está correndo na minha direção, usando calça de pijama azul, sem camisa.
Gat. Meu Gat.
Ele vai ser meu Gat?
Para na minha frente, ofegante. O cabelo está arrepiado, amassado do travesseiro. Os
músculos do abdome são torneados e ele parece muito mais nu do que se estivesse de sunga.
— Johnny disse que você estava na praia pequena — ele ofega. — Fui te procurar lá
primeiro.
— Você acabou de acordar?
Gat esfrega a nuca. Olha para o que está vestindo.
— Mais ou menos. Queria alcançar você.
— Para quê?
— Vamos até a costa.
Andamos até lá como fazíamos quando crianças. Gat na minha frente e eu atrás. Subimos um
morro baixo, depois fazemos a curva na casa dos empregados, seguindo para onde o porto de
Vineyard fica visível, perto do ancoradouro.
Gat se vira tão de repente que quase trombo com ele. Antes que eu consiga recuar, seus
braços estão ao meu redor. Ele me puxa para junto de seu peito e enterra o rosto em meu
pescoço. Passo meus braços descobertos em volta de seu torso, a parte interna dos pulsos
contra sua coluna. Ele está quente.
— Não pude te abraçar ontem — Gat sussurra. — Todo mundo te abraçou, menos eu.
Tocá-lo é algo conhecido e desconhecido.
Já estivemos aqui antes.
E também nunca estivemos aqui antes.
Por um instante,
ou por minutos,
por horas, possivelmente,
estou simplesmente feliz, aqui, com o corpo de Gat sob minhas mãos. O som das ondas e de
sua respiração em meu ouvido. Contente por ele querer estar perto de mim.
— Você se lembra de quando viemos aqui juntos? — ele pergunta com a boca em meu
pescoço. — Quando fomos até aquela pedra lisa?
Eu me afasto. Porque não lembro.
Odeio a porra da minha mente retalhada, o fato de estar doente o tempo todo, o quanto
fiquei debilitada. Odeio ter perdido minha beleza, repetido de ano na escola, deixado de
praticar esportes e passado a ser cruel com minha mãe. Odeio o quanto ainda o quero depois
de dois anos.
Talvez Gat queira ficar comigo. Talvez. Mas é mais provável que só esteja me procurando
para dizer que não fez nada de errado quando me deixou há dois verões. Ele quer que eu diga
que não estou brava. Que ele é um cara ótimo.
Mas como posso perdoá-lo se nem sei exatamente o que ele fez?
— Não — respondo. — Devo ter apagado da minha mente.
— Nós, você e eu, nós. Foi um momento importante.
— De qualquer jeito, não lembro — digo. — E, é claro, nada que tenha acontecido entre
nós foi muito importante no fim das contas, não é?
Ele olha para as próprias mãos.
— Certo. Sinto muito. Isso foi bem abaixo do padrão. Você está zangada?
— É claro que estou zangada — eu digo. — Dois anos sumido. Sem ligar nem escrever de
volta e piorando tudo me ignorando. Agora você vem com essa de “Oh, achei que nunca mais
fosse te ver”, e fica pegando na minha mão, e “Todo mundo te abraça menos eu”, e caminhadas
seminuas pela costa. É abaixo do padrão demais, Gat. Se você quer falar nesses termos.
Ele fecha a cara.
— Parece terrível quando você diz dessa forma.
— É, bem, é assim que eu vejo.
Ele passa a mão no cabelo.
— Estou fazendo tudo errado — ele diz. — O que me diria se eu pedisse para começar de
novo?
— Minha nossa, Gat.
— O quê?
— Peça de uma vez. Não pergunte o que eu diria se você pedisse.
— Está bem, estou pedindo. Podemos começar de novo? Por favor, Cady? Vamos começar
de novo depois do almoço. Vai ser incrível. Vou fazer comentários divertidos e você vai rir.
Vamos sair para caçar ogros. Vamos ficar felizes quando nos encontrarmos. Você vai achar que
sou ótimo, prometo.
— É uma promessa e tanto.
— Certo, talvez não ótimo, mas pelo menos não abaixo do padrão.
— Por que falar assim? Por que não dizer o que você realmente é? Insensível, enganador,
manipulador?
— Meu deus. — Gat fica pulando de agitação. — Cadence! Eu realmente preciso
recomeçar do zero. Isso está passando de “abaixo do padrão” a “uma completa droga”. — Ele
pula e fica chutando como um garotinho zangado. Os pulos me fazem sorrir.
— Está bem — digo a ele. — Vamos começar de novo. Depois do almoço.
— Certo — ele diz, e para de pular. — Depois do almoço.
Ficamos nos encarando por um instante.
— Vou sair correndo agora — diz Gat. — Não leve para o lado pessoal.
— Tudo bem.
— É melhor para o recomeço se eu correr. Porque andar vai ser estranho.
— Eu disse que tudo bem.
— Tudo bem então.
E ele sai correndo.

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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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