— VOCÊ ESTAVA NA QUADRA de tênis? — Minha mãe me pergunta. — Ouvi o barulho das bolas.
— Só passando o tempo.
— Você não joga há tanto tempo… Isso é maravilhoso.
— Meu saque está ruim.
— Estou tão feliz por você estar retomando as atividades. Se quiser jogar comigo amanhã, é
só dizer.
Ela está se iludindo. Não estou retomando o tênis só porque joguei uma única tarde e de
jeito nenhum vou querer jogar com ela. Minha mãe ia usar uma saia de tênis e me elogiar e me
pedir para tomar cuidado e ficar no meu pé até eu ser grossa com ela.
— Vamos ver — digo. — Acho que distendi o ombro.
O jantar é servido ao ar livre, no jardim japonês. Observamos o pôr do sol às oito, em
grupos ao redor de pequenas mesas. Taft e Will pegam costeletas de porco da bandeja e
comem com as mãos.
— Vocês são animais — diz Liberty, franzindo o nariz.
— E com isso você quer dizer que…? — pergunta Taft.
— Existe uma coisa chamada garfo — diz Liberty.
— E existe uma coisa chamada sua cara — diz Taft.
Johnny, Gat e Mirren podem comer em Cuddledown porque não estão doentes. E suas mães
não são controladoras. Minha mãe nem me deixa sentar com os adultos. Ela me obriga a sentar
em uma mesa separada com meus primos.
Estão todos rindo e discutindo uns com os outros, falando de boca cheia. Paro de escutar o
que estão dizendo. Em vez disso, olho para minha mãe, Carrie e Bess amontoadas ao redor do
meu avô.
AGORA ME LEMBRO de uma noite. Deve ter sido umas duas semanas antes do acidente. No início
de julho. Estávamos todos sentados à longa mesa no gramado de Clairmont. Velas de citronela
queimavam na varanda. Os pequenos tinham terminado de comer seus hambúrgueres e estavam
virando estrelas no gramado. Nós estávamos comendo peixe-espada grelhado com molho de
manjericão. Tinha uma salada de tomates amarelos e uma travessa de abobrinha gratinada. Gat
pressionou a perna junto à minha debaixo da mesa. Fiquei meio tonta de felicidade.
As tias brincavam com a comida, quietas e formais umas com as outras apesar dos gritos
dos pequenos. Meu avô recostou na cadeira, entrelaçando as mãos sobre a barriga.
— Vocês acham que devo reformar a casa de Boston? — ele perguntou.
Um silêncio se seguiu.
— Não, pai. — Bess foi a primeira a falar. — Amamos aquela casa.
— Você sempre reclama da corrente de ar na sala — disse meu avô.
Bess olhou para as irmãs.
— Não reclamo.
— Você não gosta da decoração — disse meu avô.
— Isso é verdade. — A voz da minha mãe era crítica.
— Eu acho que é atemporal — disse Carrie.
— Você poderia me dar algumas sugestões, sabe… — meu avô disse a Bess. — Poderia ir
até lá olhar com calma? Dizer o que acha?
— Eu…
Ele se aproximou.
— Eu também posso vender, sabe?
Todos sabíamos que tia Bess queria a casa de Boston. Todas as tias queriam a casa de
Boston. Era uma casa de quatro milhões de dólares, e tinham crescido nela. Mas Bess era a
única que morava lá perto, e a única com filhos o suficiente para encher os quartos.
— Pai — Carrie disse com severidade. — Não pode vender a casa.
— Posso fazer o que quiser — disse meu avô, espetando o último tomate de seu prato e o
enfiando na boca. — Você gosta da casa do jeito que está, Bess? Ou quer vê-la reformada?
Ninguém gosta de gente evasiva.
— Adoraria ajudar com tudo o que quiser mudar, pai.
— Ah, faça-me o favor — retrucou minha mãe. — Ontem mesmo você estava falando do
quanto estava ocupada e agora vai ajudar a reformar a casa de Boston?
— Ele pediu nossa ajuda — disse Bess.
— Ele pediu sua ajuda. Está nos excluindo, pai?
Minha mãe estava bêbada. Meu avô riu.
— Penny, relaxe.
— Vou relaxar quando a herança estiver definida.
— Você está nos enlouquecendo — Carrie resmungou.
— O que disse? Não murmure.
— Nós todas te amamos, pai — disse Carrie em voz alta. — Sei que esse ano está sendo
difícil.
— Se estão enlouquecendo, é por escolha de vocês mesmas — disse meu avô. —
Recomponham-se. Não posso deixar a herança para pessoas loucas.
VEJO AS TIAS AGORA, no verão dos dezessete. Aqui, no jardim japonês da nova Clairmont,
minha mãe abraça Bess, que estende o braço para cortar uma fatia de torta de framboesa para
Carrie.
É uma linda noite, e somos de fato uma linda família.
Não sei o que mudou
0 comentários:
Postar um comentário