terça-feira, 28 de abril de 2015

37



— VOCÊ ESTAVA NA QUADRA de tênis? — Minha mãe me pergunta. — Ouvi o barulho das bolas.
— Só passando o tempo.
— Você não joga há tanto tempo… Isso é maravilhoso.
— Meu saque está ruim.
— Estou tão feliz por você estar retomando as atividades. Se quiser jogar comigo amanhã, é
só dizer.
Ela está se iludindo. Não estou retomando o tênis só porque joguei uma única tarde e de
jeito nenhum vou querer jogar com ela. Minha mãe ia usar uma saia de tênis e me elogiar e me
pedir para tomar cuidado e ficar no meu pé até eu ser grossa com ela.
— Vamos ver — digo. — Acho que distendi o ombro.
O jantar é servido ao ar livre, no jardim japonês. Observamos o pôr do sol às oito, em
grupos ao redor de pequenas mesas. Taft e Will pegam costeletas de porco da bandeja e
comem com as mãos.
— Vocês são animais — diz Liberty, franzindo o nariz.
— E com isso você quer dizer que…? — pergunta Taft.
— Existe uma coisa chamada garfo — diz Liberty.
— E existe uma coisa chamada sua cara — diz Taft.
Johnny, Gat e Mirren podem comer em Cuddledown porque não estão doentes. E suas mães
não são controladoras. Minha mãe nem me deixa sentar com os adultos. Ela me obriga a sentar
em uma mesa separada com meus primos.
Estão todos rindo e discutindo uns com os outros, falando de boca cheia. Paro de escutar o
que estão dizendo. Em vez disso, olho para minha mãe, Carrie e Bess amontoadas ao redor do
meu avô.
AGORA ME LEMBRO de uma noite. Deve ter sido umas duas semanas antes do acidente. No início
de julho. Estávamos todos sentados à longa mesa no gramado de Clairmont. Velas de citronela
queimavam na varanda. Os pequenos tinham terminado de comer seus hambúrgueres e estavam
virando estrelas no gramado. Nós estávamos comendo peixe-espada grelhado com molho de
manjericão. Tinha uma salada de tomates amarelos e uma travessa de abobrinha gratinada. Gat
pressionou a perna junto à minha debaixo da mesa. Fiquei meio tonta de felicidade.
As tias brincavam com a comida, quietas e formais umas com as outras apesar dos gritos
dos pequenos. Meu avô recostou na cadeira, entrelaçando as mãos sobre a barriga.
— Vocês acham que devo reformar a casa de Boston? — ele perguntou.
Um silêncio se seguiu.
— Não, pai. — Bess foi a primeira a falar. — Amamos aquela casa.
— Você sempre reclama da corrente de ar na sala — disse meu avô.
Bess olhou para as irmãs.
— Não reclamo.
— Você não gosta da decoração — disse meu avô.
— Isso é verdade. — A voz da minha mãe era crítica.
— Eu acho que é atemporal — disse Carrie.
— Você poderia me dar algumas sugestões, sabe… — meu avô disse a Bess. — Poderia ir
até lá olhar com calma? Dizer o que acha?
— Eu…
Ele se aproximou.
— Eu também posso vender, sabe?
Todos sabíamos que tia Bess queria a casa de Boston. Todas as tias queriam a casa de
Boston. Era uma casa de quatro milhões de dólares, e tinham crescido nela. Mas Bess era a
única que morava lá perto, e a única com filhos o suficiente para encher os quartos.
— Pai — Carrie disse com severidade. — Não pode vender a casa.
— Posso fazer o que quiser — disse meu avô, espetando o último tomate de seu prato e o
enfiando na boca. — Você gosta da casa do jeito que está, Bess? Ou quer vê-la reformada?
Ninguém gosta de gente evasiva.
— Adoraria ajudar com tudo o que quiser mudar, pai.
— Ah, faça-me o favor — retrucou minha mãe. — Ontem mesmo você estava falando do
quanto estava ocupada e agora vai ajudar a reformar a casa de Boston?
— Ele pediu nossa ajuda — disse Bess.
— Ele pediu sua ajuda. Está nos excluindo, pai?
Minha mãe estava bêbada. Meu avô riu.
— Penny, relaxe.
— Vou relaxar quando a herança estiver definida.
— Você está nos enlouquecendo — Carrie resmungou.
— O que disse? Não murmure.
— Nós todas te amamos, pai — disse Carrie em voz alta. — Sei que esse ano está sendo
difícil.
— Se estão enlouquecendo, é por escolha de vocês mesmas — disse meu avô. —
Recomponham-se. Não posso deixar a herança para pessoas loucas.
VEJO AS TIAS AGORA, no verão dos dezessete. Aqui, no jardim japonês da nova Clairmont,
minha mãe abraça Bess, que estende o braço para cortar uma fatia de torta de framboesa para
Carrie.
É uma linda noite, e somos  de fato uma linda família.
Não sei o que mudou
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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