— TAFT TEM UM LEMA — digo a Mirren. É meia-noite. Nós, os Mentirosos, estamos jogando
Scrabble na sala de Cuddledown.
Meu joelho está encostando na coxa de Gat, mas não sei se ele percebeu. O tabuleiro está
quase cheio. Meu cérebro está cansado. Tenho letras ruins.
Mirren reorganiza suas peças sem muita atenção.
— Taft tem o quê?
— Um lema — digo. — Como o vovô, sabe? Ninguém gosta de gente evasiva?
— Nunca sente nos fundos da sala — Mirren entoa.
— Nunca reclame, nunca explique — diz Gat. — Esse é de Disraeli, eu acho.
— Ah, ele adora esse — diz Mirren.
— E não aceite não como resposta — acrescento.
— Minha nossa, Cady! — grita Johnny. — Não pode simplesmente formar uma palavra e
deixar a gente continuar o jogo?
— Não grite com ela, Johnny — diz Mirren.
— Desculpe — diz Johnny. — Você pode, por favorzinho com açúcar mascavo e canela,
formar uma porra de uma palavra no Scrabble?
Meu joelho está encostando na coxa de Gat. Realmente não consigo pensar. Formei uma
palavra curta e idiota.
Johnny joga suas peças.
— Drogas não são amigas — eu anuncio. — É esse o lema do Taft.
— Não acredito — Mirren ri. — De onde ele tirou isso?
— Talvez esteja aprendendo sobre drogas na escola. Além disso, as gêmeas xeretaram meu
quarto e contaram a ele que eu tinha uma cômoda cheia de comprimidos, então ele quis se
certificar de que eu não era viciada.
— Meu Deus — exclamou Mirren. — Bonnie e Liberty são um desastre. Acho que agora
são cleptomaníacas.
— Sério?
— Elas pegaram os remédios para dormir da minha mãe e seus brincos de argola de
diamante. Não tenho ideia de onde acham que vão usar aqueles brincos sem que ela veja.
Além disso, são duas e só têm um par.
— Você falou com elas sobre isso?
— Tentei com Bonnie. Mas elas estão além de qualquer ajuda que eu possa dar — Mirren
afirma e volta a reorganizar as peças. — Eu gosto da ideia de um lema — continua. — Acho
que uma citação inspiradora pode ajudar nos momentos difíceis.
— Como o quê? — pergunta Gat.
Mirren para. Depois diz:
— Seja um pouco mais gentil do que precisa ser.
Ficamos todos em silêncio depois disso. Parece impossível discordar.
Então Johnny diz:
— Nunca coma nada maior do que sua bunda.
— Você já comeu algo maior do que sua bunda? — pergunto.
Ele confirma com seriedade.
— Certo, Gat — diz Mirren. — Qual é o seu?
— Não tenho nenhum.
— Ah, vamos.
— Certo, talvez — Gat fica olhando para as unhas. — Não aceite um mal que você possa
mudar.
— Concordo com isso — digo, porque concordo.
— Eu não — diz Mirren.
— Por que não?
— Há muito pouca coisa que se pode mudar. É preciso aceitar o mundo como ele é.
— Não é verdade — diz Gat.
— Não é melhor ser uma pessoa relaxada e tranquila? — Mirren pergunta.
— Não. — Gat é conclusivo. — É melhor combater o mal.
— Não coma neve amarela — diz Johnny. — É outro bom lema.
— Sempre faça aquilo que teme — eu digo. — Esse é o meu.
— Ah, faça-me o favor. Quem diz isso? — grita Mirren.
— Emerson — respondo. — Eu acho. — Pego uma caneta e escrevo isso no dorso das
mãos.
Esquerda: Sempre faça. Direita: aquilo que teme. A letra sai torta na direita.
— Emerson é tão chato — diz Johnny. Ele pega a caneta que está comigo e escreve em sua
própria mão esquerda: NADA DE NEVE AMARELA. — Aqui está — ele diz, exibindo o
resultado. — Isso deve ajudar.
— Cady, estou falando sério. Não devemos fazer sempre aquilo que tememos — diz Mirren
de maneira fervorosa. — Nunca devemos.
— Por que não?
— Você pode morrer. Você pode se ferir. Se está com muito medo, é provável que exista um
bom motivo para isso. Você tem que confiar nos próprios instintos.
— Então qual é a sua filosofia? — Johnny pergunta a ela. — Seja um grande covarde?
— Sim — responde Mirren. — Isso e aquela coisa da gentileza que eu falei antes.
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