terça-feira, 28 de abril de 2015

39



VOU ATRÁS DE GAT quando ele sobe. Eu o sigo pelo longo corredor, pego em sua mão e trago
seus lábios para os meus.
É o que temo fazer, e faço.
Ele retribui o beijo. Seus dedos se entrelaçam nos meus e eu fico tonta e ele me levanta e
tudo fica claro e tudo é sublime de novo. Nosso beijo transforma o mundo em poeira. Só nós
existimos e nada mais importa.
Então Gat se afasta.
— Eu não devia fazer isso.
— Por que não? — A mão dele ainda segura a minha.
— Não é que eu não queira, é que…
— Achei que íamos começar de novo. Isso não é começar de novo?
— Estou confuso. — Gat recua e se encosta na parede. — Essa conversa é tão clichê. Não
sei mais o que dizer.
— Explique.
Uma pausa. E depois:
— Você não me conhece.
— Explique — digo novamente.
Gat coloca a cabeça entre as mãos. Ficamos lá parados, ambos encostados na parede, no
escuro.
— Certo. Aqui vai uma parte — ele finalmente sussurra. — Você não conhece minha mãe.
Você nunca foi ao meu apartamento.
Isso é verdade. Nunca vi Gat em nenhum outro lugar além de Beechwood.
— Você sente que me conhece, Cady, mas só conhece a versão que vem para cá — ele diz.
— Não é… Simplesmente não é tudo. Não conhece meu quarto com a janela sobre o duto de
ventilação, o curry que minha mãe faz, os caras da escola, a forma como comemoramos os
feriados. Só conhece a versão de mim que existe nessa ilha, onde todos são ricos, menos eu e
os empregados. Onde todos são brancos, menos eu, Ginny e Paulo.
— Quem são Ginny e Paulo?
Gat acerta a palma da mão com o punho.
— Ginny é a empregada. Paulo é o jardineiro. Você não sabe o nome deles, sendo que
trabalham aqui todo verão. Essa é uma parte do meu argumento.
Meu rosto fica quente de vergonha.
— Sinto muito.
— Mas você ao menos quer conhecer o resto? — Gat pergunta. — É capaz de entender?
— Você não vai saber até me dar uma chance — digo. — Não tenho notícias suas há um
tempão.
— Sabe o que sou para seu avô? O que sempre fui?
— O quê?
— Heathcliff. De O morro dos ventos uivantes. Você leu?
Faço que não com a cabeça.
— Heathcliff é um garoto cigano acolhido e criado por uma família impecável, os
Earnshaw. Ele se apaixona pela menina, Catherine. Ela o ama também, mas acha que ele não
serve para ela, devido à sua ascendência. E o resto da família concorda.
— Não é assim que me sinto.
— Não há nada que Heathcliff possa fazer para que os Earnshaw o considerem bom o
bastante. E ele tenta. Ele vai embora, estuda, vira um cavalheiro. Ainda assim, eles o
consideram um animal.
— E?
— Então, já que o livro é uma tragédia, Heathcliff se transforma no que pensam dele, sabe?
Ele se transforma em um homem bruto. O mal que há nele aflora.
— Achei que fosse um romance.
Gat sacode a cabeça.
— Aquelas pessoas são horríveis umas com as outras.
— Está dizendo que meu avô acha que você é Heathcliff?
— Eu tenho certeza disso — diz Gat. — Um bruto sob uma superfície agradável, traindo
sua gentileza de me deixar vir para sua ilha protegida todos os anos. Eu o traí seduzindo sua
Catherine, sua Cadence. E meu castigo é virar o monstro que ele sempre viu em mim.
Fico em silêncio.
Gat fica em silêncio.
Estendo o braço e toco nele. A mera sensação de seu antebraço sob o algodão fino da
camisa me faz ansiar por beijá-lo de novo.
— Sabe o que é horrível? — Gat pergunta, sem olhar para mim. — O que é horrível é que,
no fim das contas, ele está certo.
— Não, não está.
— Está, sim.
— Gat, espere.
Mas ele já entrou no quarto e fechou a porta.
Fico sozinha no corredor escuro.
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário

Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

Total de visualizações

Seguidores

Livros populares

Search