ERA UMA VEZ um rei que tinha três lindas filhas. As meninas cresceram e se tornaram
adoráveis. Tiveram casamentos sublimes, mas a chegada da primeira neta trouxe decepção.
A jovem princesa gerou uma filha tão, mas tão pequena, que sua mãe resolveu guardá-la no
bolso, onde a menina passava despercebida. Depois de um tempo, netos de tamanho normal
chegaram e o rei e a rainha se esqueceram quase completamente da existência da princesa
pequenina.
Quando a princesinha ficou mais velha, passava a maior parte dos dias e das noites
praticamente sem sair de sua pequena cama. Ela não tinha muitos motivos para se levantar,
de tão solitária que era.
Um dia, arriscou ir à biblioteca do palácio e ficou satisfeita ao descobrir como os livros
podem ser boa companhia. Começou a frequentá-la com frequência. Certa manhã, enquanto
lia, um rato apareceu sobre a mesa. Ele ficou em pé. Usava uma pequena jaqueta de veludo.
Os bigodes eram limpos e o pelo era marrom. “Você lê como eu”, ele disse. “Andando de
um lado para o outro diante das páginas.” Ele deu um passo à frente e se curvou em uma
reverência.
O rato encantava a princesa pequenina com histórias de suas aventuras. Contou a ela
sobre ogros que roubam pés de gente e deuses que abandonam os pobres. Fazia perguntas
sobre o Universo e procurava continuamente por respostas. Achava que feridas precisavam
de atenção. Por sua vez, a princesa narrava ao rato os contos de fadas, fazia retratos
pixelados para ele e pequenos desenhos com lápis de cor. Ela ria e discutia com ele. Sentiuse
desperta pela primeira vez na vida.
Não demorou muito até que se apaixonassem perdidamente.
Quando apresentou o pretendente à família, no entanto, a princesa encontrou
dificuldades. “Ele não passa de um rato!”, berrou o rei com desdém, enquanto a rainha
gritava e saía correndo da sala do trono, com medo. De fato, todo o reino, da realeza aos
criados, via o pretendente-rato com desconfiança e mal-estar. “Ele é anormal”, as pessoas
diziam. “Um animal disfarçado de gente”.
A princesa pequenina não hesitou. Ela e o rato deixaram o palácio e foram para muito,
muito longe. Em uma terra estrangeira, casaram-se, construíram um lar, encheram-no de
livros e chocolates e viveram felizes para sempre.
Se você quiser viver em um lugar onde as pessoas não tenham medo de ratos, deve abrir
mão de viver em palácios.
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