ENCONTRO OS MENTIROSOS no pátio de Cuddledown. A grama está cheia de raquetes de tênis e
garrafas de bebida, embalagens de comida e toalhas de praia. Os três estão deitados sobre
toalhas de algodão, usando óculos de sol e comendo batatinha.
— Está se sentindo melhor? — pergunta Mirren.
Faço que sim.
— Sentimos sua falta.
Eles passaram óleo para bebê no corpo. Dois frascos estão sobre a grama.
— Vocês não têm medo de se queimar? — pergunto.
— Não acredito mais em protetor solar — diz Johnny.
— Ele está convencido de que os cientistas são corruptos e toda a indústria do protetor
solar é uma fraude geradora de dinheiro — diz Mirren.
— Já ouviram falar de queimaduras solares? — pergunto. — A pele fica cheia de bolhas.
— É uma ideia idiota — diz Mirren. — Só estávamos muito entediados. — Mas ela enche
os braços de óleo para bebê enquanto fala.
Me deito ao lado de Johnny.
Abro um saco de batatinhas sabor churrasco.
Fico olhando para o peito de Gat.
Mirren lê em voz alta um trecho de um livro sobre Jane Goodall.
Ouvimos um pouco de música no meu iPhone, pelo alto-falante minúsculo.
— Por que não acredita em protetor solar mesmo? — pergunto a Johnny.
— É uma conspiração — ele diz. — Para vender um monte de creme de que ninguém
precisa.
— Ahã.
— Eu não vou me queimar — ele diz. — Você vai ver.
— Mas por que está passando óleo para bebê?
— Ah, isso não faz parte do experimento — Johnny diz. — Só gosto de ficar o mais seboso
possível o tempo todo.
GAT ME ENCONTRA NA COZINHA, procurando algo para comer. Não tem muita coisa.
— A última vez que nos vimos foi novamente abaixo do padrão — ele diz. — No corredor,
há alguns dias.
— É.
Minhas mãos estão tremendo.
— Sinto muito.
— Tudo bem.
— Podemos começar de novo?
— Não podemos começar de novo todos os dias, Gat.
— Por que não? — Ele dá um pulo para se sentar sobre a bancada. — Talvez esse seja um
verão de segundas chances.
— Segundas, pode ser. Mas depois disso fica ridículo.
— Então apenas aja normalmente — ele diz. — Pelo menos hoje. Vamos fingir que não sou
confuso, vamos fingir que você não está zangada. Vamos agir como amigos e esquecer o que
aconteceu.
Não quero fingir.
Não quero ser amiga dele.
Não quero esquecer. Estou tentando lembrar.
— Só por um ou dois dias, até as coisas começarem a parecer certas novamente — diz Gat,
vendo minha hesitação. — Vamos só passar um tempo juntos até tudo deixar de ter tanta
importância.
Quero saber tudo, entender tudo; quero abraçar Gat bem de perto, passar minhas mãos sobre
ele e nunca mais soltar. Mas talvez esse seja o único jeito de começar.
Aja como uma pessoa normal. Agora mesmo.
Porque você é. Porque você pode ser.
— Já aprendi a fazer isso — digo.
Entrego a ele a sacola de doces que meu avô e eu compramos em Edgartown e o modo
como seu rosto se alegra diante do chocolate me enche de carinho.
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