OLHE.
Fogo.
Lá na ponta sul da ilha Beechwood. Onde fica a acerácea, sobre o amplo gramado.
A casa está queimando. As chamas sobem alto, iluminando o céu.
Não tem ninguém aqui para ajudar.
Ao longe, posso ver os fogos de artifício de Vineyard, atravessando a baía em um barco
iluminado.
Ainda mais ao longe, o barco dos bombeiros de Woods Hole move-se ruidosamente na
direção do fogo que iniciamos.
Gat, Johnny, Mirren e eu.
Iniciamos esse incêndio e ele está consumindo Clairmont.
Queimando o palácio, o palácio do rei que tinha três lindas filhas.
Nós ateamos fogo.
Eu, Johnny, Gat e Mirren.
Eu me lembro disso agora,
em uma onda que me atinge com tanta força que eu caio,
e afundo,
até o fundo muito rochoso, e
posso ver a base da ilha, e
meus braços e pernas ficam dormentes, mas meus dedos estão frios. Tiras de algas marinhas
passam enquanto eu afundo.
E logo estou na superfície novamente, respirando.
E Clairmont está pegando fogo.
ESTOU NA MINHA CAMA em Windemere. Está amanhecendo.
É o primeiro dia da minha última semana na ilha. Vou cambaleando até a janela, enrolada no
cobertor.
Lá está a nova Clairmont. Com toda a sua modernidade e o jardim japonês.
Eu a vejo como é agora. Uma casa construída sobre cinzas. Cinzas da vida que meu avô
compartilhou com minha avó, cinzas da acerácea onde voava o balanço de pneu, cinzas da
antiga casa vitoriana com varanda e rede. A nova casa está construída sobre o túmulo de todos
os troféus e símbolos da família: os cartuns da New Yorker, os animais empalhados, as
almofadas bordadas, os retratos de família.
Nós queimamos tudo.
Em uma noite em que meu avô e os outros tinham saído de barco pela baía,
em que os empregados estavam de folga,
e nós, os Mentirosos, estávamos sozinhos na ilha,
fizemos aquilo que temíamos.
Queimamos não só uma casa, mas um símbolo.
Reduzimos um símbolo a cinzas.
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