terça-feira, 28 de abril de 2015

59



A PORTA DE CUDDLEDOWN está trancada. Bato até Johnny aparecer, usando as mesmas roupas da
noite anterior.
— Estou fazendo chá arrogante — ele diz.
— Você dormiu de roupa?
— Sim.
— Nós iniciamos um incêndio — digo a ele, ainda parada na porta.
Eles não vão mais mentir. Ir a lugares sem mim, tomar decisões sem mim.
Entendo nossa história agora. Somos criminosos. Um bando de quatro.
Johnny olha nos meus olhos por um bom tempo, mas não diz uma palavra. Por fim, ele se
vira e vai para a cozinha. Vou atrás. Johnny coloca água quente da chaleira nas xícaras.
— Do que mais se lembra? — ele pergunta.
Eu hesito.
Posso ver o fogo. A fumaça. Como Clairmont parecia enorme enquanto queimava.
Eu sei, de maneira certa e irrevogável, que ateamos fogo na casa.
Posso ver a mão de Mirren, seu esmalte dourado descascado, segurando um galão de
gasolina para os barcos.
Os pés de Johnny correndo pelas escadas de Clairmont até o ancoradouro.
Meu avô, segurando-se em uma árvore, o rosto iluminado pelo brilho de uma fogueira.
Não. Corrigindo.
Pelo brilho de sua casa sendo consumida pelo fogo.
Essas são lembranças que tive o tempo todo. Apenas sei onde encaixá-las agora.
— Não me lembro de tudo — digo a Johnny. — Só sei que iniciamos o incêndio. Posso ver
as chamas.
Ele se deita no chão da cozinha e estica os braços sobre a cabeça.
— Você está bem? — pergunto.
— Estou cansado pra caralho, se quer saber. — Johnny se vira com o rosto para baixo e
encosta o nariz no ladrilho. — Elas disseram que não se falariam mais — ele murmura junto
ao chão. — Disseram que estava tudo acabado e que iam se desligar umas das outras.
— Quem?
— As tias.
Eu me deito no chão ao lado dele para poder ouvir o que está dizendo.
— As tias se embebedavam, toda noite — Johnny murmura, como se fosse difícil expelir as
palavras. — E ficavam cada vez mais bravas. Gritando umas com as outras. Cambaleando
sobre o gramado. Vovô não fazia nada além de dar corda. Nós as víamos brigando pelas
coisas da vovó e os objetos de arte de Clairmont, mas propriedades e dinheiro acima de tudo.
Vovô estava embriagado com seu próprio poder e minha mãe queria me fazer brigar pelo
dinheiro. Porque eu era o menino mais velho. Ela me pressionou, me pressionou… eu não sei.
A ser o jovem e brilhante herdeiro. A falar mal de você como a mais velha. A ser a esperança
branca e educada do futuro da democracia, um monte de bobagem. Ela tinha perdido o
favoritismo do vovô e queria que eu o ganhasse para não perder sua herança.
Conforme ele fala, lembranças piscam em meu crânio, com tanta força e clareza que
machucam. Eu me encolho e coloco as mãos sobre os olhos.
— Lembra mais alguma coisa do incêndio? — ele pergunta com calma. — As lembranças
estão voltando?
Fecho os olhos por um instante e tento.
— Não, isso não. Mas outras coisas.
Johnny estende o braço e pega minha mão.
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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