terça-feira, 28 de abril de 2015

61



GAT E EU FOMOS NADAR à noite. Deitamos na passagem de madeira e ficamos olhando as
estrelas. Nos beijamos no sótão.
Nos apaixonamos.
Ele me deu um livro. Com tudo, tudo.
Não falamos sobre Raquel. Eu não podia perguntar. Ele não contou.
As gêmeas fazem aniversário em catorze de julho, e sempre há uma refeição farta. Nós doze
estávamos sentados à longa mesa no gramado de Clairmont. Lagostas e batatas com caviar.
Panelinhas com manteiga derretida. Legumes em miniatura com manjericão. Dois bolos, um de
baunilha e um de chocolate, aguardavam dentro de casa, sobre a bancada da cozinha.
Os pequenos faziam barulho com as lagostas, cutucando uns aos outros com as garras e
sugando a carne das patas. Johnny contava histórias. Mirren e eu ríamos. Ficamos surpresos
quando meu avô se aproximou e se enfiou entre mim e Gat.
— Quero pedir o conselho de vocês a respeito de uma coisa — ele disse. — O conselho
dos jovens.
— Somos jovens cosmopolitas e incríveis — disse Johnny. — Então veio à ponta certa da
mesa.
— Sabem — disse meu avô —, eu estou ficando velho, apesar da minha boa aparência.
— Ah, tá — eu disse.
— Thatcher e eu estamos analisando meus negócios. Estou pensando em deixar uma boa
porção dos meus bens para minha alma mater.
— Para Harvard? Para quê, pai? — perguntou minha mãe, que havia se aproximado e
estava atrás de Mirren.
Meu avô sorriu.
— Provavelmente para fundar um centro acadêmico. Eles colocariam meu nome nele, bem
na frente. — Meu avô cutucou Gat. — Como deveria chamar, meu jovem? O que você acha?
— Centro Harris Sinclair? — Gat arriscou.
— Pff. — Meu avô sacudiu a cabeça. — Podemos pensar em algo melhor. Johnny?
— Centro Sinclair de Socialização — Johnny disse, enfiando abobrinha na boca.
— E petiscos — acrescentou Mirren. — Centro Sinclair de Socialização e Petiscos.
Meu avô bateu na mesa.
— Gosto do nome. Não é educativo, mas todo mundo vai gostar. Estou convencido. Vou
ligar para Thatcher amanhã. Meu nome estará no prédio preferido dos alunos.
— Você vai ter que morrer antes de construírem o prédio — eu disse.
— É verdade. Mas você não vai ficar orgulhosa de ver meu nome lá quando estiver na
faculdade?
— Você não vai morrer antes de irmos para a faculdade — disse Mirren. Não vamos deixar.
— Ah, se vocês insistem… — Meu avô espetou um pedaço de lagosta do prato dela e
comeu.
Fomos envolvidos facilmente, Mirren, Johnny e eu — sentindo o poder que ele nos conferiu
ao nos descrever em Harvard, a distinção de pedir nossa opinião e rir de nossas piadas. Era
assim que meu avô sempre nos tratava.
— Você não está sendo engraçado, pai — minha mãe retrucou. — Arrastando as crianças
para esse assunto.
— Não somos crianças — eu disse a ela. — Entendemos a conversa.
— Não, não entendem — ela disse —, ou não embarcariam no papo dele.
Uma sensação de frio percorreu a mesa. Até os pequenos ficaram quietos.
Carrie vivia com Ed. Os dois compravam obras de arte que podiam ou não se tornar
valiosas. Johnny e Will estudavam em escola particular. Carrie havia aberto uma loja de
bijuterias com o dinheiro de seu fundo e a administrado por alguns anos, até a falência. Ed
trabalhava e a sustentava, mas Carrie não tinha renda própria. E eles não eram casados. Ele
era dono do apartamento em que moravam, não ela.
Bess estava criando quatro filhos sozinha. Ela tinha algum dinheiro de seu fundo, assim
como minha mãe e Carrie, mas quando se divorciou Brody ficou com a casa. Ela nunca
trabalhou depois que se casou, e antes disso só havia sido assistente na redação de uma
revista. Bess estava vivendo do dinheiro de seu fundo e acabando com ele.
E minha mãe. Criação de cães não dá muito dinheiro, e meu pai queria que vendêssemos a
casa de Burlington para ele ficar com metade do dinheiro. Eu sabia que minha mãe estava
vivendo do fundo dela.
Nós.
Nós estávamos vivendo do fundo dela.
Não duraria para sempre.
Então, quando meu avô disse que podia deixar seu dinheiro para Harvard construir um
centro acadêmico e pediu nossa opinião, não estava envolvendo a família em seus planos
financeiros.
Estava fazendo uma ameaça.
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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