ALGUNS DIAS DEPOIS, meu avô chamou Johnny em seu escritório de Clairmont. Pediu que lhe
fizesse um favor.
Johnny disse não.
Meu avô disse que esvaziaria a poupança para a faculdade de Johnny se ele não fizesse o
que estava pedindo.
Johnny disse que não ia interferir na vida amorosa de sua mãe e que podia muito bem
estudar em uma faculdade pública.
Meu avô ligou para Thatcher.
Johnny contou para Carrie.
Carrie pediu para Gat parar de jantar em Clairmont.
— Está irritando Harris — ela disse. — Seria melhor para todos se você fizesse um
macarrão e comesse em Red Gate, ou posso pedir para Johnny trazer um prato depois. Você
entende, não é? É só até as coisas se resolverem.
Gat não entendia.
Johnny também não.
Todos nós, os Mentirosos, paramos de comer lá.
Logo depois, Bess pediu para Mirren pressionar um pouco mais meu avô a respeito de
Windemere. Ela devia levar Bonnie, Liberty e Taft para falar com ele em seu escritório. Eles
eram o futuro da família, Mirren devia dizer. As notas de Johnny e Cady em matemática não
eram suficientes para entrar em Harvard, mas as de Mirren, sim. Era Mirren quem tinha uma
mente voltada para os negócios e era a verdadeira herdeira de tudo o que vovô valorizava.
Johnny e Cady eram fúteis demais. E esses lindos pequenos! As lindas gêmeas loiras, o
sardento Taft. Eles eram Sinclair dos pés à cabeça.
Fale tudo isso, disse Bess. Mas Mirren não quis.
Bess tomou seu celular, seu laptop e sua mesada.
Mirren não quis.
Uma noite, minha mãe perguntou sobre mim e Gat.
— Seu avô sabe que tem alguma coisa acontecendo entre vocês dois. E não está feliz com
isso.
Eu disse a ela que estava apaixonada.
Ela me disse para deixar de ser boba.
— Está arriscando seu futuro — disse. — Nossa casa. Sua educação. Em nome de quê?
— Amor.
— Uma paixonite de verão. Deixe o menino em paz.
— Não.
— O amor não dura, Cady. Você sabe disso.
— Não sei.
— Bem, acredite em mim. Não dura.
— Não somos você e o papai — eu disse.
Minha mãe cruzou os braços.
— Cresça, Cadence. Veja o mundo como ele é, não como você queria que fosse.
Olhei para ela. Minha mãe, adorável e alta, com lindos cachos e uma boca rígida e amarga.
Suas veias nunca estavam abertas. Seu coração nunca saltava e caía, desprotegido, sobre o
gramado. Ela nunca derretia e virava uma poça. Era normal. Sempre. A qualquer custo.
— Para o bem da família — ela acabou dizendo —, você vai romper com ele.
— Não vou.
— Você precisa. E, quando terminar, faça com que seu avô saiba. Diga que não significa
nada e que nunca significou nada. Diga que ele não precisa mais se preocupar com aquele
garoto e depois converse com ele sobre Harvard, a equipe de tênis e o futuro que você tem
pela frente. Está entendendo?
Não entendia e não faria aquilo.
Sai correndo de casa, para os braços de Gat.
Sangrei sobre ele e ele não achou ruim.
MAIS TARDE, naquela mesma noite, Mirren, Gat, Johnny e eu descemos até o galpão de
ferramentas que ficava atrás de Clairmont. Encontramos martelos. Só havia dois, então Gat
pegou um alicate e eu peguei uma tesoura de poda.
Pegamos o ganso de marfim de Clairmont, os elefantes de Windemere, os macacos de Red
Gate e o sapo de Cuddledown. Levamos tudo para o cais no escuro e os estraçalhamos com os
martelos, o alicate e a tesoura, até o marfim se transformar em pó.
Gat encheu um balde com a água fria do mar e limpou todo o cais.
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