— O QUE ACONTECEU DEPOIS? — pergunto a Johnny. Ainda estamos deitados no chão de
Cuddledown, de manhã cedo. No verão dos dezessete.
— Você não lembra? — ele pergunta.
— Não.
— Todo mundo começou a sair da ilha. Carrie levou Will para um hotel em Edgartown e
pediu que eu e Gat fôssemos para lá assim que fizéssemos as malas. Os empregados partiram
às oito. Sua mãe foi visitar aquela amiga dela em Vineyard…
— Alice?
— Isso, Alice veio buscar sua mãe, mas você não quis ir. E por fim ela teve que ir sozinha.
Vovô foi embora para a cidade. E foi aí que tomamos a decisão do incêndio.
— Nós planejamos tudo — digo.
— Planejamos. Convencemos Bess a pegar o barco grande e levar os pequenos para ver um
filme em Vineyard.
Conforme Johnny fala, as lembranças se formam. Vou preenchendo detalhes que ele não
contou em voz alta.
— Quando eles saíram, bebemos o vinho que tinham deixado na geladeira — diz Johnny. —
Quatro garrafas abertas. E Gat estava tão bravo…
— Ele estava certo — digo.
Johnny vira o rosto e fala para o chão novamente.
— Porque ele não voltaria mais. Se minha mãe casasse com o Ed, eles seriam cortados. E,
se minha mãe rompesse com Ed, Gat não teria mais nenhuma conexão com nossa família.
— Clairmont era como um símbolo de tudo o que estava errado. — É a voz de Mirren. Ela
foi tão silenciosa ao entrar que nem escutei. Agora está deitada no chão ao lado de Johnny,
segurando sua outra mão.
— O centro do patriarcado — diz Gat. Também não o ouvi entrar. Ele se deita ao meu lado.
— Você é tão besta, Gat — diz Johnny de maneira amigável. — Sempre diz patriarcado.
— É o que quero dizer.
— Você usa essa palavra sempre que pode. Patriarcado na torrada. Patriarcado na minha
calça. Patriarcado com gotas de limão.
— Clairmont era como o centro do patriarcado — repete Gat. — E, sim, estávamos muito
bêbados. E, sim, achamos que eles tinham destruído a família e que eu nunca mais voltaria.
Imaginamos que, se a casa fosse destruída e a papelada e os registros que havia lá dentro
também, se todos os objetos pelos quais eles lutavam fossem destruídos, o poder seria
destruído.
— E seríamos uma família — diz Mirren.
— Era como uma purificação — diz Gat.
— Ela só lembra que iniciamos um incêndio — diz Johnny, de repente elevando o tom de
voz.
— E algumas outras coisas — acrescento, levantando-me e olhando para os Mentirosos à
luz da manhã. — As coisas estão voltando conforme vocês me contam.
— Estamos contando tudo o que aconteceu antes do incêndio — diz Johnny, ainda em voz
alta.
— Sim — diz Mirren.
— Nós iniciamos um incêndio — digo com espanto. — Não choramos e sangramos;
fizemos alguma coisa. Fizemos algo para mudar.
— Mais ou menos — diz Mirren.
— Está brincando? Nós reduzimos aquela porra de palácio a cinzas.
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